A Sociedade Beneficente Cultural Realeza, tradicional escola de samba de Porto Alegre, iniciou em setembro o projeto “Herdeiros da Realeza: colorindo a Encruzilhada do Samba”, uma iniciativa que pretende aproximar crianças e jovens do universo do carnaval a partir de oficinas culturais. A ação faz parte da preparação da escola para o desfile de 2026, cujo tema será o Hip Hop.
As atividades são gratuitas e envolvem oficinas de grafite, fotografia, pintura, artesanato, costura, fantasias e adereços, ministradas por artistas e profissionais da cidade. Os encontros acontecem entre setembro de 2024 e janeiro de 2026, tanto no Complexo Cultural do Porto Seco quanto no espaço conhecido como Encruzilhada do Samba, no bairro Partenon, local de origem da comunidade da Realeza.
Oficinas abertas à comunidade
O projeto reúne nomes de diferentes áreas da arte e da cultura popular. Entre eles estão o artista urbano Luís Flávio Trampo, o fotógrafo e diretor de fotografia Afrovulto (Josema Afrovulto), o artesão e figurinista Roberto Marques, a costureira e integrante da escola Dora Maria da Rosa Pires, a designer de moda Júlia Maimayer, além do gestor cultural e vice-presidente da Realeza, Maurício Corrêa.
As oficinas terão caráter prático, com foco na criação coletiva. Os participantes vão atuar diretamente na confecção de fantasias, adereços, registros fotográficos e intervenções artísticas, integrando o processo de produção do desfile de 2026.
O cronograma das atividades inicia com a oficina de pintura, aramajem e artesanato, de 13 de setembro a 11 de outubro. Corte e costura e adereços de carnaval estão programados entre 18 de outubro e 8 de novembro. Já grafite e artes plásticas, assim como fotografia artística, ocorrem de 29 de novembro a 13 de dezembro.
As inscrições estão abertas e podem ser feitas de forma online pelo link. Todas as atividades são gratuitas.

Educação, memória e cultura afro-brasileira
Segundo a organização, a proposta vai além da preparação para a avenida. A iniciativa busca valorizar a história da comunidade e fomentar a formação cultural de crianças e jovens, em diálogo com a Lei 10.639/2003, que estabelece o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.
Além dos artistas, também participam do projeto o historiador Maurício Dornelles e a museóloga Natália Souza, que irão trabalhar a dimensão histórica e patrimonial do carnaval e da cultura negra no Rio Grande do Sul.
A ideia é que a Encruzilhada do Samba se transforme em espaço de exposição e experimentação, com muros grafitados, registros fotográficos e trabalhos artísticos produzidos pelos próprios alunos. Essas criações poderão ser visitadas pela comunidade durante o período de realização do projeto e também nos ensaios da escola.

A trajetória da Realeza
Fundada em 1977, a Sociedade Beneficente Cultural Realeza está prestes a completar 50 anos de atividades. A escola não possui sede própria e mantém suas ações no bairro Partenon, com forte presença comunitária.
Nos últimos carnavais, a Realeza tem se destacado por trazer para a avenida enredos que dialogam com temas sociais e culturais. Em 2022, apresentou Eles combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer, que chamou a atenção do artista Marcelo Adnet, hoje integrante da equipe da escola. No ano seguinte, homenageou Nega Lu com o enredo A Divina Realeza do Basfond: uma dama de barba malfeita. Em 2024, prestou tributo à mestra Iara Deodoro, do Afro-Sul Grupo de Música e Dança, em vida.
A escolha do Hip Hop como tema para 2026 dá continuidade à proposta de valorizar referências da cultura negra e das periferias urbanas, fortalecendo a relação entre carnaval, juventude e identidade cultural.

O projeto “Herdeiros da Realeza: colorindo a Encruzilhada do Samba” é viabilizado pelo edital 26-33/2024 do Pró-Cultura RS, com recursos do governo do estado do Rio Grande do Sul e realização do Ministério da Cultura do governo federal.