O voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux em defesa da anulação do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares acusados de tentativa de golpe, nesta quarta-feira (10), foi classificado como um gesto isolado e pouco significativo pelo analista político Igor Felippe. O ministro também votou para absolver todos os réus da trama golpista do crime de organização criminosa.
“Me parece que a posição do ministro Luiz Fux é muito minoritária na primeira turma, não vai ser algo com grande impacto político. Vai ficar marcada na história a posição do ministro Luiz Fux”, avalia, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Na sua visão, “a tendência é da condenação de todos os réus desse julgamento e do ex-presidente Jair Bolsonaro”. “Tem uma maioria, tanto na primeira turma, como no STF, como na sociedade brasileira, em relação à necessidade de se julgar e punir pelos crimes do golpe do 8 de janeiro, da operação punhal verde e amarelo”, completa.
Votos majoritários
O analista político ressalta, por outro lado, que os ministros do STF Alexandre de Moraes e Flávio Dino apresentaram votos consistentes nesta terça (9), a favor condenação de Bolsonaro e aliados pela trama golpista. Por enquanto, o placar está em 2 a 0 pela condenação dos réus.
“O ministro Alexandre Moraes foi muito didático ao ir intercalando episódios históricos e os seus responsáveis, seja a responsabilidade do ministro Anderson Torres, seja o papel do general Augusto Heleno ao disseminar fake news e ao perseguir inimigos políticos do Bolsonaro”, analisa Felippe, que também é jornalista e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Felippe lembra ainda que a ministra Cármen Lúcia e o ministro Cristiano Zanin já deram sinais de que devem acompanhar o relator, Moraes, nos seus votos. “Eles têm deixado claro que eles têm uma posição já fechada em relação à responsabilidade desses réus por esses crimes”, diz.
Crimes do governo e simbolismo histórico
Para Igor Felippe, o julgamento da tentativa de golpe de Estado é a última gota de uma maré de “crimes” cometidos por Bolsonaro durante a sua gestão. “O primeiro crime, o mais marcante, foi a postura que ele teve durante a pandemia [de coronavírus], que teve como consequência a morte de 800 mil brasileiros”, lembra. Ele também cita a privatização da Eletrobras no governo.
Ele reforça a importância do momento também pelo seu ineditismo. “Pela primeira vez na história do Brasil, militares vão para os bancos dos réus. Agora nós estamos tendo essa oportunidade de ver esse julgamento transmitido em rede nacional para todo o país e todo o mundo”, celebra.
Debate sobre anistia
Felippe acredita que o movimento pela anistia a Bolsonaro e aliados é parte de uma ofensiva da extrema direita, mas também resultado de disputas de poder no Congresso. “O Congresso Nacional tem também feito um jogo, que é utilizar esse tema da anistia para Bolsonaro como uma forma de afrontar o STF e conseguir flexibilização no tema das emendas”, critica.
Ele pontua que Bolsonaro não é unanimidade nem mesmo entre setores da direita. “Embora tenha um setor de extrema direita que queira livrar Bolsonaro, tem um setor de direita que está envolvido nessa articulação, mas que não necessariamente tem interesse em livrar Bolsonaro porque ele também se transformou num problema para uma direita que quer ter um candidato que seja mais palatável, que tenha um viés mais centrista”, analisa.
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