O Setembro Amarelo nos convida, todos os anos, a refletir sobre a importância da prevenção ao suicídio e do cuidado com a saúde mental. Em um país onde o auto extermínio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), não podemos reduzir essa pauta a campanhas pontuais.
É preciso enxergar os múltiplos fatores que influenciam o equilíbrio emocional da população. Entre eles, um aspecto ainda pouco debatido, mas cada vez mais evidente, são os impactos das mudanças climáticas na saúde mental. Fenômenos extremos, como ondas de calor, enchentes, queimadas e secas prolongadas, não afetam apenas a economia ou o meio ambiente.
Eles também atingem de forma direta a estabilidade psicológica das pessoas. Estudos publicados na revista científica Lancet Planetary Health apontam que a exposição contínua a desastres ambientais pode aumentar quadros de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.
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O Brasil, com sua diversidade climática e vulnerabilidades sociais, torna-se um território sensível a essa realidade. Pensemos em quem perde a casa em uma enchente, em famílias que veem sua produção agrícola desaparecer em razão da estiagem, ou ainda em moradores de cidades sufocadas pela fumaça de queimadas.
Esses cenários não apenas geram perdas materiais, mas também alimentam sentimentos de insegurança, medo e desesperança. O clima, que deveria ser pano de fundo da vida cotidiana, torna-se um agente de instabilidade emocional. É nesse ponto que o Setembro Amarelo deve se expandir como reflexão: cuidar da saúde mental é também cuidar do planeta.
A luta contra as mudanças climáticas é, em última instância, uma forma de prevenção ao sofrimento psíquico coletivo. Políticas públicas de saúde precisam dialogar com políticas ambientais e de justiça social.
Falar de suicídio é falar de humanidade. E humanidade não existe sem um ambiente saudável para viver. Reconhecer essa interdependência é talvez um dos maiores desafios, e também uma das maiores oportunidades do nosso tempo.
*Tainá de Paula é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. É especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e Mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é vereadora licenciada e Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.