Jornalista e ex-ministro dos Direitos Humanos nos primeiros governos Lula (PT), Paulo Vannuchi caracterizou o voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux no julgamento da trama golpista como um movimento político já esperado de alinhamento com a direita. Nesta quarta-feira (10), o magistrado votou pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros réus, e defendeu condenações parciais apenas para o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e para o ex-ministro Braga Netto.
“O que o Fux fez ontem, no fundo, é uma baita aposta política. Ele apostou nas eleições do ano que vem, presidenciais, numa vitória da direita, numa vitória do próprio Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo], para ele virar uma espécie de todo-poderoso ex-ministro, ou ministro ainda por algum tempo, se quiser ser ministro da Justiça”, afirma, nesta quinta (11), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Vannuchi observa que “os jornais de hoje todos estão transformando Fux num novo herói nacional da direita: grandes fotos, ideias de que ele pode ser candidato a senador agora”. “Na verdade, para além da questão jurídica, o voto do Fux já não surpreende, não deve surpreender”, analisa.
Ele lembra que, sob a presidência de Donald Trump, os Estados Unidos adotaram sanções contra o Brasil neste ano, como tarifas sobre produtos exportados, e aplicaram a Lei Magnitsky para retirar o visto do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo. Fux, no entanto, “foi poupado”. Para Vannuchi, o episódio, articulado também pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), consolida a percepção de que “o voto de Fux é nosso [Bolsonaro e aliados]”.
O ex-ministro defende que a esquerda tire lições do processo de escolha de ministros do STF, recordando que Fux foi indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e reforce a mobilização popular. “Se Fux tivesse o menor receio de, na saída do seu voto, ter uma manifestação popular de protesto, dizendo que aquilo era uma indignidade, uma traição, uma covardia, uma venda, ele limitaria a sua ação. (…) É só recuperando essa capacidade de resistência que nós vamos começar a encontrar limites”, diz.
Expectativa de condenação em ‘julgamento histórico’
Na terça-feira (9), os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino votaram pela condenação de Bolsonaro e dos demais sete réus do núcleo principal do julgamento. Com a divergência de Fux, o placar está em dois votos a favor da condenação e um pela absolvição do ex-presidente. A sessão desta quinta será retomada às 14h, com os votos da ministra Cármen Lúcia e do ministro Cristiano Zanin.
Sobre as expectativas, Vannuchi afirma que “as pessoas surpreendem, mas Cármen Lúcia tem uma tradição de votos mais condenatórios. (…) Ao que tudo indica, hoje ela deverá responder uma boa parte da incúria, da desconexão do voto de Fux e, também com Zanin, se dará uma maioria [pela condenação dos réus]”.
O ex-ministro avalia que o julgamento é um marco na história do Brasil, por colocar um ex-presidente e militares de alta patente das Forças Armadas no banco dos réus. “O mais importante é que estamos fazendo um julgamento histórico. É a primeira vez na história do Brasil que generais, fascistas, aproximados do fascismo, um ex-presidente da República é levado ao banco do STF na mais alta instância, e será condenado”, pontua.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
