Você talvez já tenha ouvido falar de terras raras, que estão no centro de disputas internacionais que vão da guerra da Ucrânia, da ameaça dos Estados Unidos de anexar a Groenlândia e até como forma de drible do Brasil contra o tarifaço do presidente Donald Trump.
As terras raras fazem parte de um grupo de elementos conhecidos como minerais críticos que incluem também lítio, cobre, manganês e nióbio, fundamentais para tecnologias do futuro de smartphones a equipamentos militares de ponta. Chamados de ouro do século 21, atiçam a cobiça de todo o mundo.
Apesar do nome, não são exatamente raras. O que é raro é conseguir extrair e isolar no grau de pureza necessário para a indústria, uma vez que geralmente existem na natureza misturados com outros minérios e separá-los tem alto custo.
No total, são 17 elementos químicos com capacidade magnética e de condutividade, tornando-se “super ímãs” que permitem a construção de peças de tecnologia minúsculas, leves e resistentes que giram, por exemplo, turbinas eólicas e motores elétricos. Por isso, são indispensáveis para a fabricação de telas, carros elétricos, turbinas eólicas, mísseis supersônicos e celulares, entre outros produtos.
Para resumir, as terras raras são a base da transição energética global. Até 2050, a Organização das Nações Unidas (ONU), a demanda pelos elementos deve crescer 1,5 mil por cento, além da capacidade hoje de produção mundial. Atualmente, segundo a Agência Internacional de Energia, a China concentra 60% da produção global e 90% do refino de terras raras. São os Estados Unidos, no entanto, que são os maiores consumidores.
Devido à utilidade e à alta demanda, Donald Trump busca assegurar a independência do recurso estratégico, recorrendo a negociações e pressões. Analistas apontam que essa é a razão por trás da sua antiga intenção de adquirir a Groenlândia, que possui grandes reservas de minerais estratégicos. Neste ano, Trump também teria condicionado o acesso às terras raras da Ucrânia à manutenção da ajuda militar dos Estados Unidos a Kiev na guerra contra a Rússia.
No Brasil, ministros do governo já mencionaram, em algumas ocasiões, que o país poderia usar suas reservas de terras raras como moeda de troca em negociações com os Estados Unidos, visando obter um alívio nas sanções que impactam cerca de 50% das exportações brasileiras para o país.
Nosso país possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo, estimada em 23% do total conhecido no planeta. Apesar da abundância, o país produz apenas 1% da produção mundial. Atualmente, a extração ocorre em Minas Gerais e Goiás, embora estudos indiquem a presença desses minerais em outros dez estados.
Grande parte das reservas está na Amazônia, o que representa um desafio para o futuro: como explorar o “ouro do século 21” sem comprometer a floresta. O presidente Lula (PT) afirmou recentemente que essas riquezas são brasileiras e devem ser protegidas, sem que outros países interfiram.
Especialistas apontam que, no futuro, será necessário buscar formas mais inteligentes e sustentáveis de explorar as terras raras, como a reciclagem de lixo eletrônico. Mas vale lembrar que quase metade dos conflitos globais têm origem na disputa por recursos estratégicos.
Por isso, o Brasil de Fato está de olho nas disputas que envolvem esse tipo de recurso, nas devastações do meio ambiente que ocorrem pela atividade econômica mal regulada e que envenena rios e florestas e nas manobras truculentas do governo Trump.