No próximo sábado, 13 de setembro, às 20h, o Espaço Sede do Coletivo Alfenim, em João Pessoa, recebe a apresentação única e gratuita do espetáculo Ocasos Familiares, do Jurema Coletivo de Dança. A montagem, realizada com recursos do edital Funarte Retomada – Dança 2023, propõe um olhar crítico sobre o cotidiano repetitivo e opressor ao qual muitas mulheres ainda são submetidas. A bilheteria será aberta às 19h, com ingressos limitados, e haverá tradução em Libras.
Para a intérprete, esse personagem representa a parcela da sociedade que presencia situações de violência e se mantém em silêncio
Um cotidiano que se repete
O espetáculo recria uma cena diária: uma mulher prepara o café da manhã com pão e ovos, servindo dois homens que se alternam na mesa. Os gestos repetidos narram uma mesma história, mas sempre com pequenas diferenças.
Para o diretor e intérprete Maurício Motta, essa repetição expõe o ciclo de violência e opressão vivido dentro de muitos lares. “A ideia do espetáculo nasce da observação de nossa realidade atual. A violência doméstica é um fato diário e, na maioria dos casos, varrido pra debaixo do tapete. E é dentro das casas, na ‘segurança do lar’ que muitos destes casos têm sua origem”, afirma.
Meta a colher, faça alguma coisa. Sua ação pode salvar uma vida, pode mudar uma história
Segundo Motta, as rotinas, que poderiam trazer conforto, muitas vezes escondem abusos. “Costumamos pensar que somos prisioneiros de uma repetição eterna. Mas essas rotinas mascaram aquilo que se dá a portas fechadas. É nos detalhes que percebemos o que se esconde por trás da normalidade”, explica.
Briefing de cena
O espetáculo nasce do cotidiano, em que a ação se organiza pela repetição de movimentos. Em cena, Monica Belotto está numa cozinha preparando o café da manhã para dois homens. Um deles é seu companheiro; o outro, que surge constantemente, apenas observa. Ele se senta à mesa, toma o café que ela preparou, percebe que algo está errado, mas não reage.

Para a intérprete, esse personagem representa a parcela da sociedade que presencia situações de violência e se mantém em silêncio: “Queremos ampliar esse olhar”, afirma Belotto. Segundo ela, é preciso observar os detalhes do cotidiano: cada gesto, cada olhar pode carregar uma violência que passa despercebida. A mensagem, explica, é direta: se alguém identifica uma situação de violência, não deve ignorar. “Meta a colher, faça alguma coisa. Sua ação pode salvar uma vida, pode mudar uma história”, conclui.
Trabalho doméstico em foco
Monica Belotto, intérprete no espetáculo, destaca a desvalorização do trabalho doméstico, majoritariamente feito por mulheres. “Nós entendemos o trabalho doméstico como algo extremamente desvalorizado, um trabalho árduo, cansativo, que quando remunerado é mal remunerado, mas na maioria das vezes não é remunerado e fica na conta das mulheres. Ainda é a mulher que assume, na sua maioria, esse trabalho, mesmo depois de tanta luta, depois de tanta discussão, e até mesmo em lares e espaços onde já há um entendimento da necessidade de igualdade, ainda assim a gente vê essa carga de trabalho sobre a mulher, porque isso é algo tão enraizado, que foi presente na vida de todo mundo durante tanto tempo que é difícil da gente se livrar disso”
Para ela é difícil romper com práticas arraigadas:“É um trabalho árduo, cansativo, muitas vezes não remunerado. Mesmo em lares onde existe compreensão sobre igualdade, a sobrecarga recai sobre a mulher. Eu mesma, em casa, percebo que faço 80% ou 90% do trabalho, mesmo convivendo com homens conscientes e estudiosos. Isso mostra o quanto é difícil romper com práticas enraizadas”, diz.
Belotto ressalta a importância de levar a discussão a todos. “Queremos falar com as mulheres, mas também com os homens. A mensagem é: observe o cotidiano, perceba as pequenas violências, não deixe passar. A sua reação pode salvar uma vida”, afirma e destaca o compromisso do grupo em promover acessibilidade. “Temos usado Libras, já trabalhamos com audiodescrição e buscamos espaços comunitários. Democratizar o acesso à arte é fundamental”, completa.

Produção e apoios
A circulação do espetáculo é financiada pela Política Nacional Aldir Blanc, por meio de edital da Secult-RN, com produção da Jacinto Produção Artística, Jurema Coletivo de Dança e Associação Cultural Trapiá. Apoiam a iniciativa o Alfenim Coletivo de Teatro, a Fundação José Augusto e a Secult-RN.
Ficha técnica
- Concepção e direção: Maurício Motta
- Intérpretes: Monica Belotto, Mauricio Motta e Jack Leidson
- Trilha sonora: Aglailson França
- Cenário e cenotécnica: Custódio Jacinto
- Figurino: Monica Belotto
- Iluminação: Adriano Nunes
- Design gráfico: Morgana Oliveira
- Fotos: Pedro Andrade
- Produção local em João Pessoa: Gabriela Arruda
Serviço
Espetáculo: Ocasos Familiares – Jurema Coletivo de Dança
Data: 13 de setembro de 2025
Horário: 20h
Local: Espaço Sede do Coletivo Alfenim – João Pessoa
Entrada gratuita. Bilheteria abre às 19h. Lugares limitados
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