Embora a gestação seja lembrada como um momento de expectativas e sonhos, o pós-parto pode trazer fragilidade emocional, insegurança e até tristeza profunda. Conhecida como depressão pós-parto, a condição afeta cerca de 25% das brasileiras, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e não deve ser confundida com o chamado “baby blues”, um quadro mais leve e passageiro.
A psicóloga clínica Bruna Capozzi, especialista em psicologia perinatal, explica que no “baby blues” os sintomas aparecem nos primeiros dias após o nascimento do bebê e desaparecem em até 14 dias. “É um processo de adaptação, tem um choro fácil, irritabilidade, mas não tem um prejuízo funcional importante. Quando falamos da depressão pós-parto, estamos falando de um humor muito mais rebaixado, tristeza, irritabilidade persistente, perda de interesse, às vezes em relação à criança, em relação aos próprios cuidados, e a questão do sono e apetite também vai ter alteração”, indica.
Entre os principais fatores de risco, Capozzi aponta o histórico de transtornos mentais e ansiedade durante a gestação, ausência de rede de apoio e até situações de violência. “Uma rede de apoio escassa, ou que em muitos momentos não fornece o suporte necessário, também pode ser um fator de risco. E falamos também sobre a questão da violência: na violência doméstica, algumas situações vivenciadas no período da gestação podem sim influenciar”, destaca.
O tratamento pode incluir psicoterapia, aconselhamento e, em alguns casos, uso de antidepressivos compatíveis com a amamentação. A psicóloga destaca que há avanços em pesquisas com medicamentos orais, como a zuranolona, já aprovada nos Estados Unidos, mas ainda não disponível no Brasil. “Espero que em algum momento ela [a medicação] chegue e com essa questão do custo, acessibilidade que seja para todos”, deseja.
Segundo Capozzi, o fortalecimento da rede de apoio é essencial no processo de recuperação. “Essa escuta sem julgamento, esse empoderamento da mulher, das decisões que ela toma em relação à amamentação, como fazer, como cuidar dessa criança, é super importante. Quando falamos de depressão pós-parto, é importante dizermos que a culpa não é da mãe, não é fraqueza; é algo tratável, e é importante procurar ajuda especializada”, orienta.
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