O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, concedeu nesta segunda-feira (15) uma coletiva de imprensa em Caracas, com veículos internacionais e representantes diplomáticos, na qual abordou a crescente hostilidade de Washington e seu deslocamento militar no Caribe. Poucos minutos após o término da conferência, a Casa Branca afirmou ter realizado um novo ataque em águas internacionais do mar do Caribe contra uma embarcação venezuelana, no qual teriam morrido três pessoas.
Maduro iniciou sua fala frisando que, embora a imprensa internacional fale em “tensões” entre seu país e Washington, na realidade se trata de uma ameaça dos Estados Unidos contra a Venezuela.
“Não se trata de uma ‘tensão’, é uma agressão em toda a linha. É uma agressão judicial quando somos criminalizados, uma agressão política com declarações ameaçadoras diárias, uma agressão diplomática e uma agressão militar em andamento. A Venezuela está amparada pelas leis internacionais para enfrentar essa agressão”, afirmou.
Além disso, declarou que “a Venezuela está em uma grande batalha pela verdade”, cujo objetivo é “vencer” e “preservar” a paz, e destacou que os meios de comunicação deveriam se esforçar para mostrar “a verdade da Venezuela”.
“Os meios de comunicação precisam fazer um grande esforço ético para mostrar a verdade de um país pacífico que, com trabalho e perseverança, avançou. Ninguém nos deu de presente a independência, nem nossa identidade, nem nossa República. Nós a conquistamos com empenho”, acrescentou.
Essas declarações ocorrem em um contexto de crescente agressividade dos Estados Unidos na região. No dia 6 de setembro, Donald Trump ordenou mudar o nome do Departamento de Defesa para “Departamento de Guerra”, decisão que ocorreu em meio a um aumento significativo de sua presença militar no Caribe, sob o argumento de “combater o narcotráfico”.
Nas últimas cinco semanas, o governo estadunidense enviou diversas forças militares — incluindo soldados, navios e submarinos de alto poder — ao sul do mar do Caribe, próximo às costas da Venezuela, ao mesmo tempo em que aumentou sua presença em países como Panamá e Porto Rico.
Antes da operação, o Departamento de Estado elevou para US$ 50 milhões a recompensa pela captura de Maduro, a quem acusou de liderar o chamado “Cartel dos Sóis”, uma suposta organização criminosa vinculada ao narcotráfico. Autoridades venezuelanas rejeitam essa acusação, afirmando que não existem provas que a sustentem.
Comunicações “desfeitas”
Questionado sobre as comunicações do governo venezuelano com a Casa Branca, Maduro qualificou os canais de comunicação com Washington como “desfeitos”.
“Hoje, as comunicações com os Estados Unidos estão desfeitas; eles as destruíram com suas ameaças de bombas, mortes e chantagens”, afirmou, responsabilizando diretamente a administração de Trump.
Maduro lembrou que, no início de setembro, havia descrito as conversas com o país como “machucadas”, embora abertas, mantidas através de John McNamara, encarregado de assuntos da Venezuela na Embaixada dos EUA na Colômbia, e Richard Grenell, enviado especial de Trump.
No entanto, devido à crescente hostilidade estadunidense, as comunicações “passaram de relações machucadas a desfeitas”, sentenciou.
Acusando Washington de manter uma estratégia de “chantagens e guerras psicológicas” contra a Venezuela, afirmou: “Somos pessoas de palavra, de diálogo e de paz, mas não respondemos a guerras psicológicas, chantagens nem ameaças”.
Ataque de 2 de setembro e exigência de investigação
Em referência ao ataque que os EUA afirmam ter realizado em 2 de setembro contra uma suposta embarcação com drogas no Caribe, que deixou 11 tripulantes mortos — e que Caracas inicialmente qualificou como falso —, Maduro afirmou que Trump “tem que ordenar uma investigação”.
“Sobre o suposto ataque a uma embarcação supostamente venezuelana apresentado pelo presidente dos Estados Unidos em um vídeo, o primeiro passo é que ele mesmo deve investigar”, disse.
“Existe o debate sobre se foi verdade ou se foram assassinadas 11 pessoas que dizem ser venezuelanas. Essa investigação na Venezuela está em andamento. Espero que seja concluída para que possamos apresentar os resultados”, acrescentou.
O suposto ataque foi apontado pelo próprio Congresso estadunidense como uma grave violação do direito internacional e uma extrapolação do Poder Executivo. Seria a primeira ação militar desse tipo na região desde a invasão do Panamá, em 1989.
Diante da gravidade da situação, uma dúzia de senadores democratas enviou uma carta à Casa Branca afirmando que a administração Trump não havia fornecido “nenhuma justificativa legal e legítima” para o ataque.
Uma guerra no Caribe
Questionado sobre o movimento de frotas de países aliados dos EUA, como Holanda e Reino Unido, no mar do Caribe, Maduro afirmou que Washington busca provocar uma guerra na região.
Além disso, lembrou que, há cinco semanas, após o deslocamento de navios de mísseis e de um submarino nuclear estadunidense, se discutiu bombardear, invadir e ocupar a Venezuela. “E o que nós fizemos nessas cinco semanas? Unimos o povo venezuelano, o treinamos e defendemos nossa verdade nas ruas”, afirmou.
“Os EUA e o mundo sabem que esta é uma operação militar para intimidar, buscar mudança de regime, desestabilizar a Venezuela, dividi-la em pedaços e se apoderar de nossos recursos naturais. Isso não aconteceu e não vai acontecer”, declarou o mandatário, em referência ao que Washington fez na Líbia e na Síria.
Após citar vários exemplos de intervenção estadunidense no mundo — como Cuba, Vietnã e Panamá —, Maduro disse que os EUA buscam uma “desculpa” para intervir militarmente na Venezuela.
Direito à defesa e aposta na paz
Com o objetivo de convocar uma reunião “urgente” a favor da paz, Maduro anunciou que enviou cartas a vários presidentes da região para reafirmar o compromisso de manter a América Latina e o Caribe como uma zona de paz.
A primeira carta foi entregue ao presidente da Colômbia e atual titular da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Gustavo Petro, com o objetivo de convocar uma conferência urgente sobre soberania e paz no Caribe.
“Se encherem nossa região, o grande Caribe, de pólvora e mísseis, isso pode resultar em uma hecatombe, uma grande guerra que nunca houve”, alertou e chamou os países vizinhos a assumirem um papel ativo.
Poucos minutos após o término da coletiva, Donald Trump informou, através do Truth Social, que as Forças Militares dos EUA teriam realizado um novo ataque contra uma embarcação venezuelana em águas internacionais, chamadas por ele de “área de responsabilidade do Comando Sul”.
Segundo Trump, o ataque teria causado a morte de três pessoas, qualificadas sem provas como “terroristas” e executadas sem julgamento prévio. Ele afirmou que, sob suas ordens, foi realizado um segundo ataque cinético contra cartéis do narcotráfico e narcoterroristas “extraordinariamente violentos” na região, enquanto transportavam drogas ilegais para os EUA, descritas como “uma arma mortal” contra os estadunidenses.