O filme ‘O Agente Secreto'(2025), do diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, será o representante brasileiro para tentar uma indicação ao Oscar 2026. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (15), pelo Comitê de Seleção da Academia Brasileira de Cinema.
A obra estará apta para concorrer ao prêmio de melhor Longa Internacional e será analisada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. A lista dos filmes pré-indicados será anunciada no dia 16 de dezembro.
“Nossa campanha começou em maio, no Festival de Cannes, e agora segue mais forte ainda. Grande abraço por todo o apoio popular e para o comitê de seleção pela confiança a esse filme que acaba de começar a ser visto no Brasil”, comemorou o diretor.
‘O Agente Secreto’ conta a história de Marcelo, um pesquisador especialista em tecnologia que retorna ao Recife, em 1977, para se refugiar em um contexto tenso e opressor da ditadura militar no Brasil.
Também concorreram à indicação os filme Manas, de Mariana Brennand; ‘Ultimo Azul, Gabriel Mascaro; ‘Baby’, de Marcelo Caetano; ‘Kasa Branca’, de Luciano Vidigal e ‘Oeste outra vez’, de Erico Rassi.
Wagner Moura, que levou o prêmio de melhor ator em Cannes pelo protagonista de ‘O Agente Secreto’, revelou ao Brasil de Fato que Marcelo é um personagem complexo e de profundidade.
‘Não é um filme de ditadura’
A questão da memória sempre esteve presente no trabalho de Kleber Mendonça. No Som ao redor (2012), ele costura a permanência da Casa-grande & Senzala nos tensionamentos do Recife contemporâneo. Em Aquarius (2016), os ataques da especulação imobiliária não só ao urbanismo, mas aos afetos e memórias. Em Bacarau (2019), a força ancestral reagindo às tramas opressoras. A história é o fio permanente que costura o tecido da obra completa de Kleber.
‘O Agente secreto’ segue esta vocação. O filme faz um mergulho sobre as delicadezas e as dores da década de 1970, transbordando na tela toda uma atmosfera do Recife naquele período.
Em entrevista recente ao Brasil de Fato, Kleber Mendonça explicou que ‘O Agente…’ não é um filme de ditadura, mas uma reconstituição de uma época.
“Eu sempre quis fazer um filme que se passasse nos anos 1970, mas que não fosse exatamente um filme de ditadura. O filme se passa naquela época, mas ele não tem tipo a cena do assalto dos guerrilheiros para pegar dinheiro para uma causa, que é uma coisa muito recorrente em um tipo de filme sobre ditadura no Chile, na Argentina. Eu queria criar uma atmosfera histórica. Isso, pra mim, era mais importante do que contar uma história real”
A ditadura militar não é alvo central do roteiro, mas ela está lá, pairando no ar de medo e violência que assombrava o país. O filme não apenas denuncia. Ele também defende a memória. A memória dos perseguidos, das famílias dilaceradas, mas também a memória do Recife, de sua vida cultural e dos afetos que resistiram à violência do regime. O espectador pode caminhar pela cidade através da trama, reconhecendo ruas, cinemas, roupas, bebidas, comidas, carros antigos, jeitos de viver.
A atriz Maria Fernanda Candido, que interpreta uma personagem que conecta a trama ao contexto geral da ditadura, revela esse aspecto de um filme que cultiva a memória.
“O filme está contando nossa própria história, juntando os nossos pedaços. E é isso que as personagens contemporâneas estão tentando fazer, ouvindo as fitas e o material que foi gravado. Esse filme deixa para a gente uma questão muito importante: o que o Brasil faz com o seu próprio passado, com a sua memória e com os seus registros?”.
O ator pernambucano Thomas Aquino, que faz uma atuação ao lado de Fernanda Candido, também corrobora com a leitura da atriz sobre a contribuição do filme sobre a história do Brasil.
“É um filme sobre o lado psicológico da ditadura, mostrando algumas atrocidades e perseguições políticas. O filme trata da ditadura de uma forma que você vai entrar e se sentir na pele da pessoa perseguida. Vai ter aflição, ação e drama.”
Exibições em festivais
‘O Agente Secreto’ teve pré-estreia nacional em dose dupla no Recife, com exibições simultâneas no último dia 10 nos cinemas São Luiz e Teatro do Parque. O longa segue em circuito de pré-estreias por festivais nacionais. O filme abriu o Festival de Brasília em 12 de setembro e terá exibições no Olhar do Norte, em Manaus (16/09); Maranhão na Tela (18/09); CineBH, em Belo Horizonte (23/09); Cine Ceará, em Fortaleza (24/09); além do Festival do Rio, sem data a ser confirmada.
As sessões fazem parte de uma série de mostras especiais antes do lançamento oficial em circuito comercial, marcado para 6 de novembro, com distribuição da Vitrine Filmes.
Antes de chegar ao Brasil, o longa já havia conquistado destaque internacional no Festival de Cannes, na França, onde recebeu os prêmios de Melhor Direção (Kleber Mendonça Filho), Melhor Ator (Wagner Moura), além do Prêmio FIPRESCI, da Federação Internacional de Críticos de Cinema, e o “Art et Essai”, concedido pela AFCAE (Associação Francesa de Cinema de Arte e Ensaio).
