Pelo menos 68 palestinos foram mortos desde que o Exército de Israel iniciou, na manhã desta terça-feira (16), uma ofensiva terrestre na Cidade de Gaza, que tem cerca de um milhão de habitantes, quase metade da população de Gaza. Durante um mês, antes do início dos ataques terrestres, Israel realizou bombardeios diários à região.
Os ataques começaram após o premiê Benjamin Netanyahu aprovar um plano para assumir o controle total de Gaza. O projeto prevê, segundo o governo israelense, desarmar o grupo político-militar Hamas, recuperar reféns, desmilitarizar o território e instalar um governo civil sem os atuais representantes dos palestinos.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que mais de 800 mil pessoas ainda estão na Cidade de Gaza, sendo a maioria formada por crianças, idosos, doentes e feridos que não têm condições de deixar a região.
“As tropas da Força de Defesa de Israel (IDF) começaram a expandir as operações terrestres na Cidade de Gaza como parte da Operação Carruagens de Gideão II. No último dia, a atividade da IDF na Cidade de Gaza começou de acordo com o plano operacional, e deve se expandir após avaliação situacional atual. Seu objetivo é atingir as metas da guerra em Gaza e aprimorar as conquistas obtidas durante o combate”, afirmou a IDF em comunicado postado na plataforma X.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou em seu perfil no X que “as Forças de Defesa de Israel (IDF) estão atacando com punho de ferro a infraestrutura terrorista” e que “os soldados das IDF lutam bravamente para criar as condições para a libertação dos reféns e a derrota do Hamas. Não vamos ceder nem recuar até que a missão seja concluída”, disse. “Gaza está em chamas”, afirmou o ministro, que diariamente publica vídeos de ataques israelenses no território.
A agência de notícias internacional Reuters informou que cerca de 30 prédios residenciais foram destruídos somente no domingo (14). De segunda para terça-feira, testemunhas relataram bombardeios noturnos seguidos de avanço de tropas.
O Exército de Israel informou que aproximadamente 320 mil moradores fugiram para o sul da Faixa de Gaza. O número, no entanto, contrasta com o levantamento feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), cuja estimativa é de que 142 mil palestinos tenham se deslocado para o sul entre 14 de agosto e 14 de setembro, metade apenas nos últimos quatro dias.
Pedidos de recuo
Diante do aumento das investidas, o Ministério das Relações Exteriores da Palestina exigiu “intervenção internacional excepcional e urgente” para proteger os civis, prevenir os deslocamentos forçados e a libertar os reféns e prisioneiros.
A pasta ainda disse que “vê com extrema seriedade a vanglória dos funcionários do governo de ocupação sobre iniciar a invasão da Cidade de Gaza, colocando em risco a vida de centenas de milhares de civis palestinos com mortes e deslocamentos”. Também afirmou que os ataques transformam a Cidade de Gaza “em um cemitério em massa e uma terra inabitável” e empurra “quase um milhão de palestinos para o deslocamento e a movimentação dentro de um estreito círculo de morte”.
Organizações israelenses de direitos humanos, como a Associação para os Direitos Civis em Israel (ACRI) e os Médicos pelos Direitos Humanos, também pediram um recuo ao afirmarem que a ameaça de evacuação em massa configura deslocamento forçado e limpeza étnica. As organizações argumentam que as ordens “não decorrem de necessidade militar” e são “contrárias ao direito internacional”
O Alto Comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Volker Turk, também afirmou que “este massacre deve parar imediatamente” e pediu que Israel “pare com sua destruição indiscriminada de Gaza”. Na mesma linha, na próxima quarta-feira (17), a Comissão Europeia deve anunciar medidas contra Israel, como a suspensão de partes do acordo comercial entre o bloco e o país.