Dezenas de milhares de estudantes, professores e trabalhadores se preparam para marchar em diferentes cidades da Argentina nesta quarta-feira (17), na Marcha Federal Universitária. A mobilização nacional foi convocada pela Federação Universitária Argentina (FUA), pela Frente Sindical e pelo Conselho Interuniversitário Nacional (CIN), com apoio de diversas centrais e organizações progressistas.
Será o terceiro grande protesto contra as políticas de austeridade do presidente Javier Milei e em defesa do financiamento das universidades públicas. A marcha coincide com uma greve de docentes das instituições de ensino superior.
O veto de Milei
No dia 10 de setembro, Milei vetou integralmente a Lei de Financiamento Universitário, aprovada no Senado em 22 de agosto. O texto previa reajuste de salários de docentes e técnicos conforme a inflação, atualização de gastos de custeio, verbas para infraestrutura, bolsas e carreiras estratégicas, além de um aumento progressivo do orçamento das universidades de 1% do PIB em 2026 para 1,5% em 2031.
No boletim oficial, o governo justificou que a lei “aumenta desproporcionalmente o gasto público sem recursos para sustentá-lo” e que provocaria “um desequilíbrio fiscal que compromete a estabilidade macroeconômica” e a “sustentabilidade das contas públicas”.
Resposta popular
Em coletiva realizada em Buenos Aires, os reitores Oscar Alpa (CIN), Franco Bartolacci (Universidade de Rosário) e Ricardo Gelpi (Universidade de Buenos Aires) alertaram para a gravidade da decisão. Segundo eles, o veto afeta diretamente projetos de ensino, pesquisa e as condições de trabalho e estudo de toda a comunidade universitária.
Gelpi convocou a população a se somar aos protestos: “Esta lei não é contra ninguém, é a favor de todos. Sem educação, sem saúde e sem ciência, não há desenvolvimento possível, não há futuro para o país”.
Estudantes também responderam pela mobilização. Em vídeo divulgado com o tema “Contra ninguém. Por todos. Pelo futuro”, jovens das universidades públicas argentinas destacaram: “Queremos continuar sendo a universidade de excelência que somos. Para isso, precisamos dos melhores professores, precisamos que fiquem. A universidade pública é orgulho de nossas famílias e do nosso país”.
Cresce a resistência às políticas de reajuste
Outros grupos estudantis anunciaram que vão se juntar à marcha. Alunos do tradicional Colégio Nacional de Buenos Aires decidiram ocupar o prédio em assembleia, em repúdio ao veto e exigindo mais recursos. O movimento estudantil Construir também convocou mobilizações a partir de terça-feira (16).
É a segunda vez que Milei veta uma lei de atualização orçamentária para o setor. Segundo relatório do Centro Ibero-Americano para Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Inovação (CIICTI) e da Federação de Docentes Universitários (Fedun), o investimento nas universidades caiu 22,1% em 2024 e deve recuar mais 8,6% em 2025. A UBA alerta que o orçamento apresentado para 2026 aprofunda a crise, mantém salários docentes abaixo da linha da pobreza e corta verbas de custeio em educação, ciência e tecnologia.
O último recurso seria o Congresso derrubar o veto com maioria de dois terços – cenário considerado improvável, já que a proposta inicial foi aprovada na Câmara com 158 votos, abaixo dos cerca de 172 necessários.
Outros setores também protestam
O ato deve reunir ainda trabalhadores da saúde, especialmente do Hospital Garrahan, referência pediátrica em Buenos Aires. Em 11 de setembro, Milei vetou a Lei de Emergência da Saúde Pediátrica e das Residências Médicas, que previa aumento imediato de recursos e recomposição salarial para médicos e residentes.
O presidente alegou que o texto teria “impacto fiscal direto” e apresentava “falta de financiamento genuíno”, além de “redação ambígua” que poderia comprometer programas essenciais e a estabilidade orçamentária nacional e provincial.
As medidas vêm em meio à queda de popularidade de Milei, confirmada pela derrota eleitoral em Buenos Aires, e ao desgaste provocado pelo escândalo de corrupção envolvendo sua irmã e assessora, Karina Milei, acusada de ligação com um esquema de propina em contratos de medicamentos superfaturados destinados a pessoas com deficiência.