“A ema gemeu/ no canto do juremá” – com esses versos eternos, a Paraíba, terra da Jurema Sagrada, imortaliza e reconhece oficialmente a obra de Jackson do Pandeiro como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. A Lei nº 13.902/2025, sancionada pelo governador João Azevêdo e publicada no Diário Oficial do Estado nesta quinta-feira (18) entra em vigor a partir de sua publicação, garantindo preservação e valorização do legado musical do artista.

Jackson do Pandeiro, nome artístico de José Gomes Filho (1919 – 1982), nasceu em Alagoa Grande, no Brejo da Paraíba. Figura central da música popular brasileira, destacou-se pela versatilidade rítmica, transitando entre forró, coco, rojão, marchinhas, samba e outros estilos.
Entre seus maiores sucessos estão “O Canto da Ema”, “Chiclete com Banana”, “Sebastiana”, “Forró em Limoeiro” e “Alô Campina Grande”. Sua música influenciou gerações e foi interpretada por artistas renomados, como Gal Costa e Gilberto Gil.
Com seu trabalho, contribuiu decisivamente para dar visibilidade à cultura nordestina em todo o país, sendo reconhecido como “O Rei do Ritmo”, levando a riqueza cultural do Nordeste por meio de suas composições, e consolidando sua importância histórica e artística.
Legado
O cantor faleceu em 10 de julho de 1982, aos 62 anos, completando 40 anos de seu falecimento em 2022. Jackson do Pandeiro tem 144 músicas e 282 gravações cadastradas no banco de dados do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Seus herdeiros continuarão a receber rendimentos relacionados às suas músicas por 70 anos após a morte, conforme determina a lei de direito autoral (Lei nº 9.610/98). Entre as músicas mais tocadas nos últimos 10 anos destacam-se, “Na base da chinela” e “Cantiga do sapo”.
Segundo levantamento do Ecad, as músicas de Jackson do Pandeiro mais executadas em rádio, sonorização ambiental, casas de festa, carnaval, festa junina, show e música ao vivo incluem, em ordem: “Na base da chinela”, “A ordem é samba”, “Cantiga do sapo” e “Cabeça feita”. Já as mais gravadas foram: “Cantiga do sapo”, “Na base da chinela”, “A ordem é samba” e “Cabeça feita”.
Uma das suas músicas mais emblemáticas, “Chiclete com Banana”, foi composta por Gordurinha e Almira Castilho, companheira de vida e de palco de Jackson do Pandeiro, e representa bem a extensa obra de um artista que gravou cerca de 435 canções.
“É possivelmente uma das músicas mais marcantes do repertório nacional, uma canção que conversa com o mundo. Ela diz: ‘Olha, Tio Sam, Europa, Ásia, venham todos, aprendam nosso samba e compartilhem seus ritmos com a gente’. Essa música foi regravada diversas vezes”, comenta o biógrafo Fernando Moura, autor do livro Jackson do Pandeiro – O Rei do Ritmo, escrito juntamente com Antônio Vicente, e da biografia em quadrinhos do artista, voltada ao público infanto-juvenil.
“O grande legado de Jackson está na diversidade do seu repertório, que é um verdadeiro retrato da musicalidade brasileira. Ele não fez distinção de cor, raça, religião ou gênero”, afirma Moura. Ele acrescenta: “Jackson gravou de tudo – cocos, sambas, frevos, rojões, maracatus, rancheiras -, abrangendo do sul ao norte, nordeste, centro e centro-oeste. Ele não se limitava ao estereótipo do sertão nordestino; também era muito urbano, o que lhe rendeu o título de rei do ritmo.”
Sobre Jackson do Pandeiro ser reconhecido como Patrimônio Imaterial da Paraíba, Moura diz ser um lugar de destaque merecido para o artista e pondera: “Apenas essa titulação não amplia o nível de conhecimento da população, principalmente a mais jovem, sobre a importância do ritmista para a música popular brasileira. É preciso ouvir Jackson exaustivamente, para assegurar a continuidade dessa compreensão. Ouvir Sivuca, Marinês, Vandré, José Siqueira, Zé Ramalho, Genival Lacerda, Chico César, Herbeth Viana e a turma da nova geração é essencial nesse entendimento de pertencimento e sinergia. Pra dar certo, escolas e rádios têm papel preponderante. Caso contrário, são apenas títulos na prateleira”, conclui.