As esquerdas do Brasil voltaram a pulsar neste domingo nas ruas de todo o país. De Norte a Sul, milhares de trabalhadores, jovens, mulheres, aposentados e militantes de movimentos populares marcharam lado a lado para dizer em alto e bom som: não à PEC da Blindagem — a PEC da Bandidagem — e não à anistia dos golpistas!
Um elemento novo deu força às mobilizações: a convocatória não partiu apenas dos movimentos populares e sindicais, mas ganhou protagonismo de artistas de todas as regiões, que colocaram suas vozes, redes e influência cultural a serviço da luta. Da música ao teatro, do rap à MPB, a cultura popular se somou ao grito de resistência contra a tentativa vergonhosa de anistiar golpistas e blindar corruptos. Essa junção entre arte e política transformou os atos em encontros de massa, de denúncia e de esperança.
Mas os atos não se limitaram ao “não”. Trouxeram também o “sim” às reivindicações concretas da classe trabalhadora. Foi uníssono o grito por isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, medida urgente de justiça social que aliviaria milhões de famílias esmagadas pelo custo de vida, enquanto os super-ricos seguem blindados de qualquer taxação sobre lucros e dividendos. Outro ponto central foi o fim da jornada desumana de 6×1, que rouba do povo o direito ao descanso, à convivência com a família e à saúde física e mental. São bandeiras que ligam diretamente a luta política às dores e necessidades cotidianas de quem carrega o país nas costas.
Depois de um período de reflexo, fragmentação e dificuldade em mobilizar grandes massas, este domingo foi um sopro de vitalidade para a esquerda. Ainda que a correlação de forças siga desfavorável, com um Congresso tomado por setores conservadores e a extrema direita mantendo viva sua base social, os atos mostraram que há disposição de luta, há energia acumulada e há capacidade de reorganização popular. A importância das mobilizações não está apenas no número de presentes, mas no recado claro: o povo não aceita impunidade e não ficará de braços cruzados diante da blindagem dos poderosos.
O desafio agora é transformar esse impulso simbólico em organização de base, em pressão permanente, em luta continuada. Não basta ocupar as ruas uma vez — é preciso permanecer nelas e levar a batalha para todos os espaços: locais de trabalho, escolas, universidades, bairros e redes sociais.
Nesse sentido, iniciativas como o Plebiscito Popular têm papel importante, porque extrapolam o protesto e dialogam com milhões, criando consciência crítica e enraizando a luta no cotidiano da população. Ao mesmo tempo, a pressão direta sobre parlamentares — seja no Instagram, no WhatsApp ou em suas bases eleitorais — é um instrumento fundamental para barrar a anistia e a blindagem que querem empurrar goela abaixo do povo brasileiro.
O futuro não trará vitórias fáceis. Mas o domingo provou que existe fogo de resistência no coração do povo. Cabe à esquerda cultivar essa chama, com paciência, persistência e organização, até que se transforme em conquistas reais.
Thiago Duarte Gonçalves integra a Coordenação Nacional do Movimento Brasil Popular e Simão Pedro foi deputado estadual por quatro mandatos e secretário de movimentos sociais e relações setoriais do PT/SP