A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está se aproximando da marca de seu centenário. O início da preparação para as comemorações se deu na celebração de seu 98º aniversário, no último dia 8, em solenidade oficial na reitoria, localizada no campus Pampulha da instituição. A cerimônia foi o pontapé para o ciclo de conferências UFMG Centenária: Universidade e Democracia, que deve se estender até 2027.
O tema vem em um período de disputa em torno do conceito de democracia e de forte ataque à soberania brasileira. Tópicos que não passaram despercebidos à reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, em sua fala de abertura no evento.
::Leia também: ‘Que Lama é essa?’: projeto da UFMG monitora qualidade das águas do Rio das Velhas ::
“Defendemos a liberdade da qual depende a democracia – não a liberdade individualista e autorreferenciada que assola hoje a sociedade, mas aquela que vem das demandas coletivas, como condição para o fazer democrático – e a soberania, atributo inalienável para qualquer nação que se quer independente e próspera”, afirmou.
Defesa democrática
Para o professor aposentado Tarcísio Mauro Vago, da diretoria de aposentadoria e memória do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (Apubh UFMG), a universidade sempre primou pela produção do conhecimento necessário ao desenvolvimento de Minas Gerais e do Brasil e pela democracia.
Ele também destaca o compromisso de uma universidade pública: enfrentar os problemas do país e as questões primordiais para o seu povo.
“A UFMG se posicionou e se posiciona sempre favorável às questões que dizem respeito a uma cidadania emancipada, a favor da democracia e do debate público de ideias. Ela cultiva o amor ao saber, ao conhecimento e à reflexão. Cultiva e provoca na população esse desejo de participar, de debater. A UFMG é um dos maiores polos culturais da nossa cidade”, afirma o professor.
Importância para Minas Gerais e para o Brasil
A universidade tem hoje 35 mil estudantes de graduação e 15 mil de pós-graduação. A comunidade universitária, quando somados professores, servidores e estudantes, chega a proporção de uma cidade, com 60 mil pessoas.
Vago ressalta que as universidades públicas são responsáveis por mais de 90% do conhecimento científico produzido no país. Nesse quadro, a UFMG figura entre as cinco melhores universidades públicas do Brasil, quando consideradas federais e estaduais. No campo do ensino, por exemplo, ela é a primeira colocada há 10 anos.
“A universidade torna-se imprescindível porque não é possível pensar este século sem a presença da universidade. Não é possível pensar a história de Minas Gerais sem a UFMG. Ela é imprescindível no ensino, na pesquisa, na extensão e no compromisso social com as grandes causas do nosso tempo”, afirma.
A conferência de abertura
A primeira conferencista convidada, Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e médica reconhecida nacionalmente por sua atuação na área da saúde pública, abordou o tema Brasil envelhece: cuidado e meio ambiente como direitos.
Dalcolmo deu ênfase às preocupações provocadas pelo envelhecimento da população e às relações entre saúde humana, saúde animal e saúde ambiental.
“Vamos tratar das relações da saúde com o meio ambiente e enfatizar que é preciso haver consciência de que precisamos cuidar de nossos velhos”, disse, ao abordar os pontos que levará ao debate na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30.
A pesquisadora ressaltou ainda como as desigualdades afetam o processo de envelhecimento populacional no Brasil, que, em expectativa de vida, já atinge a marca de 78 anos no caso das mulheres, e 76,6 anos para os homens.
“Envelhecer pobre é o que pode haver de pior no que diz respeito ao desvalimento social”, defendeu Margareth.
Pautando o tema do ciclo de palestras, Sandra Goulart pontuou ainda a importância de celebrar a longevidade de uma instituição “que tem a liberdade e a democracia em sua gênese”.
::Ouça: 500 edições do Brasil de Fato MG e a mídia no Brasil – Visões Populares entrevista ::
“Em quase um século de história, a universidade nunca escolheu ficar do lado fácil ou cômodo, e nossos reitores nunca se furtaram a defender a instituição”, afirmou a reitora.
Mostra
Na mesma noite da abertura do ciclo de conferências, foi inaugurada a exposição UFMG centenária: memoráveis, que reúne 50 personalidades marcantes para a universidade, desde seus primeiros anos, por diferentes razões. Na curadoria da mostra foram considerados mais que os impactos acadêmicos e científicos das personalidades, levando em conta também impacto social, relevância para o país e presença marcante em áreas como cultura e artes.
“Nos últimos 20 anos, a universidade pública mudou muito, por meio do recrutamento feito também com cotas de caráter social e racial. A UFMG passou a receber e valorizar mais as mulheres, pessoas negras e indígenas e com deficiência. A missão dessa exposição é mostrar a mudança, essa cara nova”, explica o diretor do escritório de Governança de Dados Institucionais, Dawisson Lopes, que integra a equipe de curadoria
Entre os escolhidos para representar a comunidade acadêmica estão: Afonso Pena, Juscelino Kubitschek, Dilma Rousseff, Carlos Drummond de Andrade, José Saramago, Ailton Krenak, Célia Xakriabá, Alzira Nogueira Reis (primeira médica formada em Minas Gerais), Cármen Lúcia, Nilma Lino Gomes, Desmond Tutu (arcebispo sul-africano), Fernanda Takai, Samuel Rosa, Tostão, José Israel Vargas e Maria Lúcia Godoy. A exposição se estende até abril de 2026 e pode ter outras edições.