Nesta terça-feira (23), o presidente Lula (PT) anunciou o investimento de US$ 1 bilhão para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, sigla em inglês para The Tropical Forest Forever Facility), iniciativa de financiamento para a preservação dessas áreas em vários países.
“O Brasil vai liderar pelo exemplo e se tornar o primeiro país a se comprometer com investimento no fundo de US$ 1 bilhão”, disse Lula, em Nova York, convidando parceiros e outros países presentes ao evento a apresentarem “contribuições igualmente ambiciosas” para que o TFFF possa entrar em operação.
Apresentado pelo Brasil na COP28, em Dubai, o TFFF será lançado na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA). A meta é arrecadar US$ 125 bilhões em investimentos públicos e privados de todo o planeta. No total, mais de 70 países em desenvolvimento com florestas tropicais poderão receber os recursos provenientes da iniciativa. “Mais do que proteger um bioma específico, o TFFF é um mecanismo para preservar a própria vida na Terra. As florestas tropicais prestam serviços ecossistêmicos essenciais para a regulação do clima”, explicou o presidente.
Apesar de celebrada pelo governo e por ONGs do setor ambiental, a iniciativa pode não ter o efeito esperado se o Brasil continuar implementando projetos de impacto na floresta, como aponta o biólogo Lucas Ferrante, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
“O que de fato é solução é o Governo Federal rever os grandes empreendimentos na Amazônia, como a exploração de petróleo e gás no interflúvio dos rios Purus e Madeira, na bacia sedimentar dos Solimões, na Foz do Amazonas, além de rever as estradas planejadas na Amazônia, como a rodovia BR-319”, diz o pesquisador.
A BR-319 conecta Manaus (AM) e Porto Velho (RO) e é alvo de estudos que apontam os impactos negativos do empreendimento, conforme noticiou o Brasil de Fato. O desmatamento na área da rodovia aumentou 85,2% entre setembro e dezembro de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023, conforme indicam os dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Ambiente (Imazon).
Apesar disso, o Governo Federal, por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) deu início aos trabalhos de asfaltamento de 20 quilômetros da rodovia, no chamado Lote C.
“Esses grandes empreendimentos do governo Lula causam desmatamento. Além de acelerar a crise climática”, ressalta o pesquisador. “Nós precisamos rever a pavimentação de rodovias na Amazônia e nós precisamos rever a exploração de petróleo”, indica Ferrante.
‘Virada de chave’
Na avaliação de André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o Brasil reafirma sua liderança na agenda climática “ao anunciar o investimento no TFFF, um mecanismo que almeja, de forma ampla, assegurar qualidade de vida, justiça social, respeito aos povos originários e segurança alimentar para a humanidade”.
Em nota enviada à imprensa, a ONG The Nature Conservancy também celebra o anúncio. “O compromisso de hoje, anunciado pelo presidente Lula, de destinar US$ 1 bilhão ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre impulsiona esse novo e inovador mecanismo financeiro, que pode representar a principal marca da conferência de Belém.”
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, fez coro com os agraciados pelo anúncio e disse que o TFFF representa uma virada de chave, possibilitando o acesso a diferentes fontes de financiamento para a preservação ambiental. “Já exploramos demais a natureza para gerar recursos financeiros e bens materiais. Agora, é hora de usar os recursos que geramos com essa exploração para proteger a natureza”, declarou.