Durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (23), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu ao afirmar que teve uma “química excelente” com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A declaração, feita após uma série de sanções ao Brasil e seguida de ameaças, levantaram dúvidas sobre os rumos da relação entre os dois países.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a professora de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Clarissa Franzoi, revelou que o episódio surpreendeu tanto analistas quanto o governo e a oposição. “Na improvisação, quando o teleprompter não funcionou, Trump fez elogios a Lula e ao Brasil, mas quando o discurso oficial dele retornou, manteve o tom duro de crítica ao Brasil e as ameaças”, analisou.
Para a especialista, o duplo discurso pode fazer parte de uma estratégia da extrema direita, que ela chama de “confusão retórica para confundir o Brasil”. “A mentira, a ideia da criação do caos e da confusão é uma estratégia importante de governo de alguns setores da extrema direita”, alertou.
Ela ressaltou, no entanto, que a diplomacia brasileira “é muito experiente e capacitada” para lidar com a situação. “O Brasil precisa estar aberto ao diálogo e sempre esteve aberto ao diálogo com todas as nações, inclusive com os Estados Unidos, mas também não pode tratar com dignidade um governo extremista”, ponderou.
Sobre o discurso de Lula, a professora o caracterizou como incisivo. “Não é um discurso ameno, suave, é um discurso forte na defesa da democracia e da soberania”, afirmou. Entre os pontos fortes abordados por Lula, ela destacou os direitos humanos, o combate à fome, a paz no conflito da Ucrânia e “a limpeza étnica que vem acontecendo em Gaza”.
Crise tarifária e cenário incerto
Um dos pontos centrais da relação atual entre os Brasil e os EUA é a crise tarifária. Trump impôs sobretaxas de até 50% sobre alguns produtos brasileiros, medida que Franzoi considera insustentável. “Esse nível de tarifas é totalmente imprevisível. Eu diria que, sim, essas tarifas não devem se manter por muito tempo, porque não é só insustentável para o Brasil, mas também para a economia norte-americana”, projetou.
Para ela, apesar da incerteza, há possibilidade de revisão desse tarifaço em algum momento. “Não sei se vai ser agora, a partir desse diálogo, mas podemos caminhar para novidades nessas relações”, concluiu.
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