A Varanda Cultural realiza a segunda edição do Festival de Teatro Popular e Comunitário do Rio Grande do Sul (Festicom), iniciativa que reúne produções artísticas de Pontos de Cultura, coletivos e artistas vinculados ao teatro comunitário. O evento, em formato híbrido, conta com financiamento da Lei Paulo Gustavo.
A programação inclui espetáculos, oficinas, rodas de saberes e a Mostra Nacional de Teatro Lambe-Lambe.
Entre as montagens apresentadas está Trabalhadores, espetáculo de marionetes que homenageia profissionais do cotidiano muitas vezes invisibilizados. A peça tem sessões com tradução em Libras e é seguida por oficinas de fantoches para crianças no Ponto de Cultura Associação Caravana da Ilusão, em Vila Maria (RS). O calendário se estende até outubro, com apresentações em diferentes cidades, transmissões culturais online e atividades de troca de saberes.
Fundada há duas décadas por Cristiane de Freitas e César Camargo, a Varanda Cultural nasceu com a proposta de aproximar arte, comunidade e políticas públicas. Os artistas relembram a trajetória inicial do coletivo.
“Nascemos há 20 anos, nossa primeira ação foi a criação de uma mídia livre impressa, o jornal Varanda Cultural com fotonovelas, artes gráficas e humor, com o objetivo de democratizar a informação e engajar artistas para refletir e divulgar o seu trabalho, escrevendo para o jornal.”
O grupo atua fora dos espaços convencionais, levando suas ações a praças, parques, sindicatos, hospitais e escolas públicas. Para os organizadores, o festival busca fortalecer o teatro produzido a partir da comunidade.
“O principal objetivo é agregar saberes comunitários teatrais de cada território, de cada ofício. E estamos conseguindo.”
A atual edição enfrentou desafios trazidos pelas enchentes recentes no Rio Grande do Sul. Parte dos recursos foi redirecionada para apoiar artistas que perderam materiais de trabalho em cidades como Eldorado do Sul, Canoas, Guaíba e Porto Alegre.
“O que diferencia é que tivemos a tragédia da enchente, e conseguimos direcionar parte do recurso para ações emergenciais junto a grupos que perderam seus materiais de trabalho, dentre outras coisas. Fomos para as cidades atingidas como Eldorado do Sul, Canoas, Guaíba e Porto Alegre.”
O Festicom também ampliou seu alcance ao convidar grupos de fora do estado, como o Camapu, de Belém (PA), e o Trip Teatro, de Santa Catarina. A articulação com os Pontos de Cultura, segundo os organizadores, amplia a visibilidade de produções que permanecem à margem da cena artística institucional.
“Somos causa e resultado de uma política pública nacional das mais importantes, e o Festival culmina com toda essa luta, somos Ponto de Cultura, atuamos em territórios diversos, a Cultura Viva em ação. A Lei Paulo Gustavo foi e é o resultado dessas lutas.”
Além das ações culturais, o festival aborda temas sociais e históricos. Um exemplo é o espetáculo dedicado a João Cândido, líder da Revolta da Chibata. Para o ator André de Jesus, a narrativa evidencia como o racismo estrutural molda a história brasileira.
“É a narrativa mais emblemática da história do Brasil na perspectiva de um racismo estruturado dentro da sociedade, nas entidades mais constituídas, que é o regime do Estado, o regime do Estado a partir da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, aonde se caracterizava e até hoje se caracteriza assim o negro como um indivíduo inferiorizado na sociedade.”
Ele argumenta que a figura de João Cândido foi perseguida e apagada justamente por este contexto.
“João Cândido seria o maior herói da pátria brasileira, se tu pensas em sociedades mais igualitárias, que não existe racismo, que existe realmente uma política pública antirracista e um sistema educativo antirracista e um sistema econômico antirracista.”
Segundo o ator, a luta de Cândido era direcionada a condições mínimas de dignidade para marinheiros, em sua maioria negros.
“A luta de Cândido foi por salários, por quebrar os castigos violentos aos seres humanos, aos corpos, na maior parte negros, que eram os companheiros dele. E a partir disso eles se rebelam contra o Estado para exigência de condições humanas básicas.”
Para o ator, o contraste entre o apagamento da memória de Cândido no Brasil e o reconhecimento de heróis populares em países como Cuba revela a forma como a estrutura social brasileira lida com a luta por direitos humanos e igualdade.
SERVIÇO:
2º Festicom – Festival de Teatro Popular e Comunitário do Rio Grande do Sul
O Quê? Espetáculo de Marionetes ‘Trabalhadores’
Quando? 26 de Setembro, Sexta-feira
Sessões às: 9h \ 10h \ 13h30 \ 14h30
Onde? Associação Cultural Caravana da Ilusão (Rua: Dornelio F. Comunello, 65 – Centro – Vila Maria – RS)