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Artigo

‘O Agente Secreto’, de Kleber Mendonça, é um mergulho nas delicadezas e dores da nossa história  

O filme não apenas denuncia, ele também defende a memória: a memória dos perseguidos, mas também a do Recife

29.set.2025 às 15h55
Recife (PE)
Afonso Bezerra
‘O Agente Secreto’, de Kleber Mendonça, é um mergulho nas delicadezas e dores da nossa história  

Wagner Moura vive personagem que retorna para o Recife em um contexto de medo e perseguição nos anos 1970 - CinemaScopio/Divulgação

O novo filme de Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto, teve uma pré-estreia nacional que já nasceu histórica: ocupou simultaneamente o Cinema São Luiz, na Rua da Aurora, e o Cineteatro do Parque, na Rua do Hospício. Dois espaços icônicos do centro do Recife que, assim como a própria obra de Kleber, guardam um elo profundo com a memória da cidade. O gesto simboliza o que o diretor pernambucano tem feito ao longo de sua trajetória: usar a arte para religar o Recife consigo mesmo, num movimento de decifrar a atmosfera e essência da cidade para fazer com que ela permaneça viva e forte.

O cinema de Kleber, digamos, produz uma história a contrapelo a partir das tensões e vivências de Pernambuco. Não é necessário conhecer a história do Brasil para entender os filmes de Kleber. Mas cada um deles ajuda a entender o país. Em O Som ao Redor (2012), ele costura a permanência da casa-grande & senzala nos tensionamentos do Recife contemporâneo. Em Aquarius (2016), os ataques da especulação imobiliária não só ao urbanismo, mas aos afetos e memórias. Em Bacurau (2019), a força ancestral reagindo às tramas opressoras. A história é o fio permanente que costura o tecido da obra completa de Kleber. Tudo isso, como bem registrou o ator Wagner Moura, “com um arrojo cinematográfico, com personagens de profundidade e beleza”.

O Agente Secreto (2025) segue esta vocação. Nada é apresentado explicitamente. O espectador precisa caminhar junto às trilhas oferecidas pelo roteiro e decifrar a cada curva do filme a identidade da história. O Agente não é um filme sobre a ditadura, muito embora ela esteja lá presente: está no medo, nas conspirações, na repressão policial, na corrupção e nas mortes. Ela está nos detalhes. Mas, mesmo assim, o filme não é sobre a ditadura. Os focos são a vida e a cidade nos anos 1970, respirando esta atmosfera confusa de medo, tensão, mas de sonhos, de festa – o frevo está lá presente como resistência – e de modernização. O Agente Secreto é um mergulho nos afetos, delicadezas e dores da nossa história. 

Assim como o recente Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, Agente Secreto mostra aquele momento histórico por meio das dores e vivências humanas, sem entrar nos detalhes das tensões partidárias, das guerrilhas e dos porões. O filme de Kleber Mendonça expõe as dores de um professor universitário e pesquisador especialista em tecnologia. O protagonista é perseguido por agente público do governo federal e vítima de uma máquina que unia interesses militares e empresariais contra a soberania nacional, a inteligência crítica e a própria vida. A repressão aparece em múltiplas camadas: na corrupção explícita dos sistemas de segurança, na violência policial, na institucionalidade cúmplice que comete crimes “sem sujar as mãos”, e ainda no racismo e na xenofobia entranhados na história do país.

O trunfo do filme está nas delicadezas e nos detalhes. Está no mostrar as dores das repressões atingindo pessoas comuns, gente com quem qualquer um de nós pode se identificar. E isso é um grande argumento diante do negacionismo histórico, que tenta mudar as narrativas sobre o que foi a ditadura. Ao mostrar dores tão comuns, o filme revela o inevitável: a brutalidade indiscriminada da repressão. E vai além: desloca episódios recentes, como o caso do menino Miguel, para os anos 1970, colocando em evidência que as violências estruturais da sociedade brasileira são permanentes ao longo da linha do tempo.

A cena do empresário que acumula cargo estratégico na Eletrobras e boicota pesquisadores nordestinos é uma alegoria precisa da ditadura: um projeto de país que concentrava poder e recursos no Sudeste, destilando preconceitos contra o Nordeste. Foi essa ideologia burguesa e autoritária que interrompeu futuros imensos e silenciou nomes como Josué de Castro, Paulo Freire e tantos outros intelectuais que ousaram pensar um Brasil diferente.

O filme não apenas denuncia. Ele também defende a memória. A memória dos perseguidos, das famílias dilaceradas, mas também a memória do Recife, de sua vida cultural e dos afetos que resistiram à violência do regime e de quem conspirou para derrubá-lo. O espectador pode caminhar pela cidade através da trama, reconhecendo ruas, cinemas, roupas, bebidas, comidas, lendas urbanas – a tão falada Perna Cabeluda está lá no filme – carros antigos e jeitos de viver. A penumbra de uma época atravessada pela repressão é aliviada com a comicidade e o riso, que se instalam nas vidas pelas brechas da resistência.

As personagens contemporâneas, que no enredo tentam recompor as peças do passado, revelam a importância de não deixar a história empoeirar. É esse gesto de juntar fragmentos, preencher lacunas e resgatar identidades que transforma o filme em um ato de justiça.

E é simbólico que O Agente Secreto chegue ao público justamente na semana em que o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Jair Bolsonaro e seus aliados militares por tentativa de golpe. A história mostra que não podemos vacilar. O Brasil já errou ao anistiar torturadores em 1979, ao permitir que a transição de 1985 sepultasse apenas em parte os escombros da ditadura. Hoje, diante de mais uma ameaça à democracia, o cinema de Kleber Mendonça lembra não só pelo tema direto do filme, mas pelo conjunto inteiro de uma obra devota à memória: o país precisa se reconciliar com a própria história para que tragédias não se repitam. O Brasil estará bem representado no Oscar.

*Afonso Bezerra é repórter do Brasil de Fato em Pernambuco.

Editado por: Felipe Mendes
Tags: Kleber Mendonça FilhoO Agente Secreto
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