Acredito que todos já ouviram falar de pessoas daltônicas, quer dizer, que não enxergam algumas cores.
Tem daltônico que não distingue cor nenhuma, só enxerga em preto e branco. Azul, vermelho, amarelo, verde, tudo vira algum tom de cinza.
Num dos muitos empregos que já tive, havia um colega com essa deficiência visual. Era o Dirceu.
Afora os problemas que ele tinha por causa do daltonismo, sofria com as maldades aprontadas por colegas.
Uma vez, ele precisava comprar roupas, e levou um que julgava amigo para que não fizesse besteira. Pediu que o sujeito lhe indicasse roupas com cores discretas. Não queria usar roupas espalhafatosas.
E o que fez o colega? Bom, a gente viu nos dias seguintes. Um dia o Dirceu apareceu com calça verde abacate e camisa rosa-choque, outro dia com calça cor de laranja e camisa vermelha. O falso amigo só indicou roupas de cores berrantes.
Uma vez, numa reunião de trabalho, colocamos as cadeiras em círculo, e durante a conversa alguns de nós reparávamos que o Dirceu ficava tentando abaixar a barra das calças, esconder as meias.
Perguntamos a ele o que estava acontecendo, e ele contou que um colega disse que ele estava com um meia verde e outra vermelha. Mentira. Usava meias cor de cinza.
Uma coisa que o Dirceu sonhava era tirar carteira de motorista e dirigir. Mas não podia: não conseguiria distinguir as cores dos semáforos.
Aí soube que o farol de cima era sempre verde; o do meio, amarelo; e o de baixo, vermelho.
Não me lembro se na época não existia exame de vista ou se ele comprou um exame, mas o certo é tirou a carteira.
Comprou um carro e saiu com ele todo feliz da concessionária. Passou por vários semáforos.
Mas um pouco adiante, um problema: o semáforo não era vertical, os faróis ficavam em linha horizontal. O que fazer?
Achou que estava verde para ele e avançou, mas estava vermelho, e levou uma batida mais ou menos forte do carro que vinha na outra rua.
Acabou aí sua alegria de motorista, que durou menos de uma hora. Nunca mais dirigiu.