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Músico, escritor e militante do coletivo Solidariedade Cidadã.

Crônica | Ziquizira

Vou na dona Neném me benzer. Tô gorado demais

– O que pretende fazer agora?

– Uai, depois dessa ziquizira? Morrer.

– Morrer? Gente, deixa de ser bobo. Isso acontece com quase todo mundo.

– Tá bom. Se fosse com você?

– Rapaz. Levanta essa cabeça, omi. Dá um “tapa” nesse visu.

– Vou na dona Neném me benzer. Tô gorado demais. Muito olho gordo.

– Vamo embora? Tô com fome.

– Cara, minha vida indo pro espaço e você fala em comida? Que amigo é você?

– Colé… Deixa de ser mimado. Povo morrendo de fome, desempregado, morando na rua e você sofrendo por uma coisa dessas? Seu papai mimou você demais, mermão! Vai naquele seu amigo que estudou o Freud. Ele pode te ajudar.

– Não. Vou na dona Neném, mesmo.

– Beleza. Vamos comer, então?  Tô morrendo de fome. Um sanduba caía bem pra caramba. Vamo com seu fusquinha.

– Não. Quero morrer.

– Oh, que coisa! Amanhã você esquece isso. Tenho certeza!

– Vamo comer um sanduíche…

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.

Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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