Em 2020, o mundo assistiu emocionado à aprovação do aborto legal na Argentina. O episódio, que além de se configurar como vitória do movimento feminista argentino, provou a importância de se pautar a agenda política pela via das lutas sociais, sem corrompê-la em prol de acordos e supostos atalhos que, ao final, nos levam a lugar nenhum.
No Brasil, as últimas eleições presidenciais mostraram que havia descontentamento popular com os retrocessos impelidos pela extrema direita em quatro anos. O processo, como sabemos, consolidou uma frente política ampla contra a figura de Bolsonaro e terminou por derrotá-lo nas urnas, dando fôlego e esperança para a sociedade brasileira no ano que segue. Contudo, as manifestações golpistas que eclodiram em todo o país durante e após as eleições nos deixaram duas lições: não derrotamos o bolsonarismo nas urnas e, mais do que nunca, é necessário ampliar a escuta das pautas de esquerda para toda a população.
Em Curitiba, embora tenhamos pequenos avanços na representatividade de grupos minoritários na política, o debate sobre um programa de transformação social segue abafado ou então diluído em negociações que tendem à direita. Como forma de ampliar a compreensão popular a respeito da importância de levar em frente um programa por mais direitos, é fundamental a construção de prévias para a escolha das candidaturas de esquerda para as próximas eleições municipais.
Neste contexto, trata-se de um potente método de se construir um programa de esquerda com apoio popular, democrático, no sentido da desbolsonarização de Curitiba. Publicizar o debate da esquerda é ecoar as lutas sociais organizadas e oportunizar a sua escuta para uma camada mais ampla da população.
Assim como as mulheres argentinas, não podemos deturpar o programa da esquerda em negociações nefastas, mas sim fortalecê-lo. Por isso, defendo as prévias como elemento fundamental para o fortalecimento da esquerda em Curitiba.
*Professora de História na rede pública estadual e dirigente do PSOL
**As opiniões expressas nesse texto são de responsabilidade do/a autor/a e não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato.
