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Eduardo Pimentel: O dilema do candidato que precisa de votos, mas não pode pedi-los

A dificuldade de Eduardo Pimentel é cativar o eleitor progressista sem chamar atenção.

Eduardo Pimentel encontra-se diante de um enigma clássico da política: para vencer, necessita dos votos de eleitores que não pode, sob hipótese alguma, cortejar abertamente. A matemática eleitoral é implacável: é impossível chegar ao segundo turno sem angariar os votos que se dispersaram em candidaturas de centro e centro-esquerda como Requião, Ducci, Caldas e Luizão Goulart, cujo eleitorado soma mais de 240 mil votos. Entretanto, a tentativa de seduzir esse contingente esbarra em outro problema: a cada movimento em direção ao centro, Pimentel arrisca perder uma parcela crucial de sua base conservadora, já cativada pela autenticidade de Cristina Graeml.

A dificuldade de Eduardo Pimentel não está apenas em construir uma ponte para o eleitorado progressista, mas em fazê-lo sem chamar atenção. Ele não pode simplesmente levantar a bandeira da esquerda, ao menos não sem alienar aqueles que o sustentam à direita. A ironia é evidente: Pimentel precisa dos votos da esquerda, mas não pode pedir por eles. E se tal tarefa já não fosse suficientemente desafiadora, há ainda o risco de que muitos desses eleitores prefiram pagar a modesta multa de três reais à Justiça Eleitoral, em vez de comparecerem às urnas.

No primeiro turno, Pimentel venceu na região sul de Curitiba por margem estreita, resultado que se atribui menos a uma base eleitoral consolidada e mais à força gravitacional da máquina municipal. Graeml, por sua vez, triunfou entre as classes médias e altas, para as quais sua retórica ressoou com uma clareza que Pimentel jamais conseguiu replicar. A candidatura que se apresentava como favorita nas etapas iniciais, agora se vê mergulhada em incertezas. O cenário transformou-se em um verdadeiro jogo de “decifra-me ou te devoro”: como capturar os votos da esquerda sem perder a direita para Graeml?

Pimentel sabe que precisará intensificar sua atuação nos colégios eleitorais da zona sul, e para isso conta com o esforço de vereadores e comissionados que podem ser úteis em sua campanha. Ao mesmo tempo, precisará limitar os estragos na zona norte, onde a adversária deve avançar. Em tempos normais, tais movimentações estratégicas seriam suficientes, mas os 27% de abstenção no primeiro turno mostram que a maior ameaça ao candidato talvez seja a indiferença do eleitorado, que precisa ser convocado de volta às urnas.

Enquanto isso, Debiasi e seus estrategistas continuam a apostar na narrativa de continuidade e unidade, ignorando que o eleitorado, mais cético do que nunca, parece mais interessado em discussões sobre o Metrô de Caracas do que na eterna promessa de conclusão da Linha Verde. Nesse marasmo retórico, Cristina Graeml aparece como uma tábua de salvação para o eleitorado da “direita raiz”, com sua autenticidade a cativar um setor representativo da classe média curitibana que há muito tempo se vê órfã de representantes que verbalizem suas ansiedades nas eleições curitibanas para o Palácio 29 de Março. E, se faltam temas polêmicos para explorar, Pimentel dispõe de alguns trunfos não jogados: uma simples indagação sobre a postura de Graeml quanto à vacinação contra a COVID-19 poderia reavivar o debate público, já que a candidata até agora se furtou a dar uma resposta clara sobre o tema.

O eleitor de centro e de centro-esquerda, por sua vez, anseia por certezas que Pimentel ainda não ofereceu. Há, sobretudo, a questão de seu vice, cuja postura pode ser vista como um risco de desestabilização interna. Além disso, resta saber se o próprio candidato estará disposto a aderir a algumas das pautas que mobilizam o eleitor progressista, um segmento que, por ora, permanece cético quanto ao seu compromisso com tais questões.

O tempo corre, e a necessidade de ação é evidente. Em 2016, Rafael Greca encontrou-se em situação semelhante, transformando a campanha em torno de Ney Leprevost em um jogo de destreza política. Agora, cabe a Pimentel provar que tem a mesma capacidade de adaptação e perspicácia, em um momento em que erros podem custar mais do que a própria eleição.

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