Numa cidade invisível, um padre reza sua última missa. Olha a todos e a cada um dos seus fiéis. A senhora que sempre lhe reclamara, nunca o deixava em paz. Chegara a falar, “padre minha vida está tão chata, estou perdendo a bunda”, com um jeito meloso. O padeiro que cobiçava a filha do amigo. O professor bigodudo que era conservador mentiroso.
O coração do padre suava horrores. O calor inundava as partículas daquelas madeiras velhas. As cadeiras pareciam envergar com o peso do mundo, chorando o desalento da tradição que precisava morrer.
– Nem todos podem ser salvos! – grita o padre no seu alto de uma dignidade resgatada.
E o desinteresse generalizado se transforma em excitação fervorosa, num uníssono eles respondem:
– Glória a Deus.
Pois cada um se sentira como o verdadeiro jubilado que será salvo.
E diante daquele delírio de santidade coletiva, o padre arranca a batina e abandona-os sem pestanejar. E as pessoas efusivamente continuavam a rir uma das outras.