A estimativa é que só na capital gaúcha 6 mil famílias tiram seu sustento trabalhando como catadores de materiais recicláveis. Resíduos que irão para as cooperativas e associações de catadores, e passarão por outras mãos. Diante de um cenário marcado pela epidemia do coronavírus, essas pessoas são um potencial grupo de contágio. Como forma de ajudar parte dessas famílias, a Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS) realizou, na última quarta-feira (1), a doação de 80 cestas básicas e 200 máscaras reutilizáveis de algodão ecológico.
As ações foram feitas com trabalhadores e trabalhadoras de associações de moradores nos bairros Humaitá, Ilha da Pintada, Vila Farrapos e Vila Cruzeiro, que juntamente com outras instituições, são responsáveis pela separação de cerca de 30 mil toneladas de lixo domiciliar da cidade. A doação foi desenvolvida em parceria com a Adufrgs Sindical e a Univens (Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos).
Conforme destacou Leonel Carvalho, membro do Centro de Integração Paulo Paim (CIPP) e que acompanha permanentemente os galpões de reciclagem, as entidades cumpriram o papel que caberia ao prefeito, através do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Segundo ele, esta é a entidade que deveria fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para quem trabalha na coleta de materiais recicláveis e demais serviços essenciais na capital gaúcha.
Rede de solidariedade
Os alimentos foram adquiridos pela Adufrgs Sindical na RedeCoop, rede de cooperativas da agricultura familiar que reúne 12 mil agricultores, de 44 cooperativas de 31 municípios gaúchos. “A ideia é distribuir 100 cestas por semana enquanto durar a pandemia”, explica o tesoureiro da Adufrgs, Eduardo Rolim. Além das 80 entregues pela CUT-RS, outras 20 cestas foram entregues nesta semana ao CPERS Sindicato para doação aos professores da rede estadual de ensino, que seguem com salários cortados e parcelados.
As máscaras, feitas de algodão orgânico, são produzidas pela Cooperativa Univens, que reúne 23 mulheres e integra a rede de algodão orgânico Justa Trama, cuja sede fica na periferia de Porto Alegre (RS). A Univens está doando os materiais para pessoas em situação de rua, trabalhadores autônomos, catadores, hospitais e postos de saúde da comunidade e de outros bairros da cidade. Também disponíveis para venda a particulares.
De acordo com o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, a ação é parte de uma campanha de solidariedade mais ampla, que visa conscientizar a população sobre os perigos da covid-19. Ao mesmo tempo, vem minimizar os impactos sociais e econômicos provocados pelo isolamento social, medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a mais eficaz na prevenção contra a infecção do coronavírus. “Em um momento de pandemia, em que só cresce o número de infectados e mortes pela covid-19, a solidariedade se faz ainda mais importante”, pontuou.
Para o secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, a iniciativa não vai aliviar todos os problemas que os catadores enfrentam. Contudo, pode ajudar a combater a fome, que pode crescer muito, já que os catadores e recicladores estão tendo dificuldades de vender materiais recicláveis nesses tempos de coronavírus. “Brigar, exigir e reivindicar condições de trabalho em defesa da saúde, do emprego e da renda não reduz a importância de sermos solidários com setores da classe já excluídas há muito tempo”, conclui.
Com informações da CUT-RS e Adufrgs Sindical
