O aumento do preço do arroz e de outros alimentos básicos voltou às manchetes. Mais que os vaivéns da inflação, a política – ou a falta de política – ajuda a explicar algumas situações. Algumas altas podem ser atribuídas, também, a fatores como a prioridade ao agronegócio e o descaso com a segurança alimentar. O que se viu desde o início do atual governo: um dos primeiros atos foi extinguir o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).
No caso do arroz, o aumento acumulado neste ano, até agosto, é de 19,17%, segundo o INPC-IBGE. Segundo o Dieese, que faz acompanhamento em 17 capitais, o preço médio do arroz agulhinha teve alta em 15 capitais no mês passado. De acordo com o instituto, essa elevação “se deve à retração dos produtores, que aguardam melhores preços para comercializar o cereal e efetivam apenas vendas pontuais”.
Pauta de exportação
Um dos produtos mais básicos na mesa do brasileiro, o arroz parece estar mais presente na pauta dos exportadores do que na produção local. Apenas em agosto, as vendas ao exterior cresceram 93% sobre igual período do ano passado.
A economista Patrícia Costa, do Dieese, observa que alguns produtos têm oscilações intensas, especialmente os in natura, que precisam ser consumidos logo. Ela também aponta fatores como exportação e clima. “Essa estiagem às vezes não é boa para os produtos.” E vê com preocupação algumas notícias de que alguns mercados estão limitando vendas. “Vamos ter problemas se as pessoas começarem a estocar.” Para ela, “Quem está pagando a conta mesmo é a família de baixa renda”, acrescenta Patrícia. Aliás, vem pagando várias contas, lembra a economista: antes da pandemia, sofreu com a alta do gás. Agora, com falta de uma política de alimentação.
Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual*