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Artigo | É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança e para violá-la também

Esta aldeia que viola os direitos de uma criança está governando o país, é alimentada pelo ódio e pelo negacionismo

17.ago.2020 às 19h32
Rio de Janeiro (RJ)
Luciane Soares da Silva

A gravidez quando resultado de um estupro pode ser interrompida no Brasil e este procedimento seria realizado como dezenas de outros não fosse a opção feita em transformá-lo em espetáculo horrendo - Reprodução

"É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança (e para violá-la também)”. Quando ouvimos este ditado pela primeira vez, estávamos pesquisando os escândalos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica. A frase foi dita por um advogado armênio no filme Spotlight baseado na investigação da equipe do Globe sobre casos envolvendo padres de Boston.

Em 2017 o cardeal Bernard Law morreu, em Roma, sem dar nenhum depoimento sobre sua responsabilidade quanto ao encobrimento dos casos de pedofilia em Boston enquanto ocupou o cargo de arcebispo por 18 anos. Os casos denunciados pelos jornalistas do Globe impactaram o mundo católico e revelaram um padrão de atuação mostrado ao fim do filme Spotlight como a “lista da vergonha”. No Brasil, religiosos de Franca (SP), Arapiraca (AL), Mariana (MG) e Rio de Janeiro figuram nesta lista.

Devemos observar que a frase do advogado explicita a seguinte verdade: todos sabiam.

Padres, advogados psicólogos, donos de padaria, jornalistas, policiais. Era possível supor, era possível ver os resultados. Como em uma aldeia estudada pelo antropólogo Bronislaw Malinowski, todos sabiam dos casos de traição. Tudo em segredo. Mas se os segredos fossem descobertos, então os implicados precisavam proferir palavras que limpassem suas famílias da vergonha. Ou seja, precisavam da confissão que redimisse as futuras gerações.

Recentemente o caso Jeffrey Epstein reforça a tese de que é preciso de uma cidade inteira para abusar de crianças e adolescentes. Neste caso, um multimilionário que recrutava meninas para sessões de “massagem”, tinha um avião privado cujo nome era curiosamente Lolita Express e aterrissava tranquilamente em sua ilha levando amigos como o atual presidente Donald Trump e o princípe Andrew.

Uma das ex escravas sexuais ligadas a Epstein, Virginia Giuffre teria 17 anos quando atendeu o filho de Elizabeth II, em uma das várias residências do bilionário. Em entrevista ao The NewsNight Interview da BBC, Andrew nega tudo mesmo quando confrontado por uma foto em que aparece com a mão na cintura de Virgina, ao lado de Ghislaine Maxwell, acusada de ser responsável pelo recrutamento de garotas menores de idade.

O esquema seguia um tipo de padrão conhecido como pirâmide. Muitas das meninas que foram recrutadas transformavam-se em recrutadoras em troca de dinheiro. Em alguns casos, elas permaneciam neste círculo que envolvia magnatas, artistas e membros da hight society global.

O suposto suicídio de Epstein não encerra o caso, uma vez que recentemente a juíza Esther Salas sofreu um atentado em sua residência. Seu filho de 20 anos foi morto e seu marido baleado. Salas estava encarregada de analisar as contas bancárias de Epstein no Deutsche Bank. Um dos suspeitos do atentado era publicamente um antifeminista, havia solicitado à juíza que apenas homens servissem ao Exército e denunciava bares que davam descontos à mulheres. Foi encontrado morto e os sinais indicam que cometeu suicídio.

Mesmo com uma série de denúncias feitas ao longo dos anos, Epstein conseguiu manter-se livre e violando outras garotas em suas propriedades. Um caso típico de uso de poder e de redes de relações com auxílio de alguns homens de Estado como o ex secretário de trabalho do governo Trump, Alexander Acosta. Ele foi acusado de ter negociado secretamente com o bilionário quando era promotor. 

Existem dezenas de casos no Brasil envolvendo abuso de crianças e adolescentes.

Para comprovarem esta afirmação, proponho aos leitores e leitoras, a experiência que realizamos na manhã desta segunda-feira (17) na procura por dados para escrevermos este artigo. Ao digitar como entrada de pesquisa “menina de 10 anos violada” diretamente no YouTube apareceram centenas de matérias. 

O retorno da busca explicita o que será apresentado como principal argumento deste artigo. Vejamos: “menina filma prima de 10 anos sendo abusada sexualmente”, “menina de cinco anos relata abusos: foi o vovô”, “menina de 10 anos é abusada sexualmente e ameaçada por amigo da família”, “filha de João de Deus conta detalhes de como foi abusada pelo pai”.

Seria uma tortura seguir descrevendo os casos. Os vídeos consolidam um padrão de jornalismo com graus distintos de sensacionalismo. Por outro lado, estas violações são denunciadas diariamente e com frequência envolvem familiares ou pessoas que tinham acesso a vítima. Sobre isto podemos observar que:  em parte dos casos há descrédito em relação ao que é revelado pela criança dentro da família; quando denunciadas as violações, os danos já ocorreram e os abusos apresentam um longo histórico; as ameaças, como no caso recente em São Matheus, sustentam a continuidade dos atos; o uso de dinheiro para presentes, incluindo a vítima e os familiares, funciona na construção de uma fachada de respeitabilidade ou dependência; a inoperância dos agentes legais (por inação, preconceito ou falta de recursos) possibilita que a impunidade tenha como uma das consequências, a descrença em soluções vindas do Estado. 

Como pesquisadora, apresentarei um caso exemplar sobre impunidade: a primeira vez que ouvi falar do caso das Meninas de Guarus, minha chegada a Campos dos Goytacazes (RJ) ainda era recente. Estava em uma sessão de discussão do filme As Sufragistas e falávamos de proibir ou não o aborto. Por alguma razão o tema surgiu e como estrangeira fiz uma questão pública, como faria o advogado armênio de Spotlight. Meses depois pude compreender a gravidade de minha questão.

Quando um caso de prostituição de meninas de 13 anos me foi apresentado, fiz uma pausa e questionei “alguém aqui não sabia o que ocorria?”. Foram alguns segundos de silêncio. Eu desconhecia que ali estavam profissionais liberais, médicos, professores e parte da sociedade campista que ocupava lugares de importância na cidade. Em 2014, antes de uma palestra pelo Mês da Mulher, uma juíza nos indagava dentro da Escola de Magistratura, o que poderia fazer diante do fato de que 17 juízes teriam se declarado “suspeitos para julgar”.

Em resumo, crianças e adolescentes entre 8 e 17 anos eram mantidas em uma casa, em Guarus, distrito de Campos. Nesta casa, na verdade um cárcere mantido à portas e janelas fechadas, elas eram obrigadas a fazer vários programas diariamente e consumir drogas. Os programas eram realizados em motéis e hotéis de cidade. Seria possível que esta rede fosse mantida sem conhecimento policial ou de agentes do direito? Do comércio e da sociedade mais ampla? Convênios com estes estabelecimentos foram firmados o que indica a sua longa temporalidade e grau de organização. 

O que há em comum entre esses casos?

Não estamos tratando de tarados, doentes ou tipos patológicos. Estamos tratando de padres, empresários, vereadores, juízes e em tantas dezenas de casos, pais, tios, avós, amigos da família de longa data. Não estamos tratando de casos isolados mas de um padrão de violação de mulheres que é global e só poderá ser interrompido com engajamento do Estado e de toda sociedade. Incluindo aqui o fortalecimento das redes de combate à violência doméstica.

Aqueles que estiveram em um hospital do Recife (PE) para chamar um médico de assassino por salvar a vida de uma criança que foi violada e engravidou aos 10 anos de seu tio, são a representação desta sociedade que prefere atacar a educação de gênero, condenar o aborto mas absolver os violadores. É disto que se trata. 

Ainda mais grave é o ataque a lei incentivado pelo atual governo na figura da ministra Damares e na ação fascista e cruel de Sara Giromini. 

A gravidez quando resultado de um estupro pode ser interrompida no Brasil e este procedimento seria realizado como dezenas de outros não fosse a opção feita por parte da “nova política” brasileira em transformá-lo em espetáculo horrendo. Por nova política devemos entender parlamentares eleitos apoiando o discurso do ódio e apoiadores de Bolsonaro.

Ao pesquisar o perfil da deputada pernambucana Clarissa de Tércio, uma das envolvidas nas manifestações no Recife contra a decisão da Justiça do Espírito Santo, descobrimos que como ferrenha defensora da família, não constam projetos de leis sob sua autoria, nem projetos sociais. Como tantos outros parlamentares eleitos sob o signo do ódio, sua lógica de atuação é um flerte com um tipo de fundamentalismo perigoso mas eficaz para alavancar a popularidade de deputados incapazes de cumprir o previsto em lei. Isto porque acreditam que sua interpretação das leis divinas se sobrepõe aos direitos assegurados na Constituição Brasileira. 

Leia também: Defensoria do ES vai pedir apuração criminal de vazamento de dados por Sara Winter

A forma como estes políticos eleitos em 2018 tratam de questões públicas pode ser descrita: agem por likes sob a bandeira de “defesa da vida”, defendem comissões parlamentares de investigação de corrupção em rádios, jornais e canais próprios; sabem muito pouco dos expedientes parlamentares e criam confusões com a mesma velocidade com que atacam qualquer um que possa render publicidade.

Em suma, representam um novo patamar do oportunismo, não lhes importando em nada a vida psíquica de uma menina de 10 anos. 

Esta aldeia que viola os direitos de uma criança desconhecendo o Estatuto da Criança de do Adolescente (ECA), está a governar o Brasil: nos números de mortes por covid, na recente pesquisa que apresenta uma elevada aprovação de Bolsonaro, na forma criminosa do despejo de famílias do Movimento Sem Terra (MST), em Minas Gerais, no ódio às mulheres e no fomento à violência. Esta aldeia operante e alimentada pelo ódio e pelo negacionismo científico, desconhece a democracia e a humanidade comum, a fraternidade política e o respeito ao sofrimento. São vendilhões do templo. 

*Luciane Soares da Silva é professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e coordenadora do Núcleo de Pesquisas Cidade Cultura e Conflito. Ciro Freitas é advogado e pastor batista.

Editado por: Mariana Pitasse
Tags: abortoestuproviolência
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