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ENTREVISTA

“O luto pela covid é um processo coletivo”, reflete psicóloga

Mariana Tavares explica a importância dos cuidados paliativos e incentiva questionamentos sobre lógica individualista

07.jan.2021 às 15h08
Belo Horizonte
Raíssa Lopes
Mariana Tavares

Mariana Tavares é conselheira da Comissão de Psicologia Clínica do Conselho de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) - Créditos da foto: Divulgação CRP

Mariana Tavares é psicóloga, especialista em Psicoterapia Contemporânea e em Recursos Humanos em Saúde. Integra o Conselho de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) e recentemente se especializou em cuidados paliativos pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG).

Escreveu o artigo “Luto complicado e pandemia: possibilidades de intervenções paliativas”, juntamente com Raqueline Assunção, Renato Barreto, e sob orientação de Glaucia Tavares.

O estudo traça reflexões importantes sobre o que a pandemia de covid-19 pode revelar a respeito de como as sociedades ocidentais entendem a saúde e como se relacionam com a morte.

O Brasil é um dos piores países para morrer, porque não se preocupa com a morte

Saindo da noção da saúde mental como um processo inteira e unicamente individual, a especialista chama a atenção para a influência da realidade social na vida dos sujeitos. Em conversa com o Brasil de Fato, também reforça o poder indispensável das políticas públicas para superar coletivamente os traumas expostos e criados pelo coronavírus.

“Não dá pra ignorar, passar por cima. A gente vai precisar de uma política do luto”, diz.

Leia a entrevista:

Brasil de Fato – O que são cuidados paliativos? Por que são importantes e de que forma estão relacionados à pandemia de covid-19?

Mariana Tavares – Os cuidados paliativos representam um campo da saúde ainda não completamente regulamentado. Existem escassos serviços no Brasil e essa concepção é um pouco mais desenvolvida em outros países. A definição de cuidados paliativos é, inclusive, muito recente.

Cuidados paliativos constituem uma assistência feita por uma equipe com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente e da família diante de uma doença ameaçadora à vida. Deseja prevenir e aliviar o sofrimento das pessoas frente a essas doenças.

Não são realizados apenas nos casos em que as pessoas estão perto de morrer, é uma concepção mais ampla. Existem cuidados paliativos com pessoas acamadas, por exemplo, mas também os relacionados à garantia de uma boa qualidade do fim da vida.

A nossa sociedade – inclusive profissionais de saúde – lida muito mal com a morte

Existe uma visão pejorativa dos cuidados paliativos como se fossem bobagem, como se fossem nada… Essa visão preconceituosa é muito prejudicial, porque está dizendo que a qualidade da morte não é relevante. Por isso é importante entender que a qualidade da morte tem a ver com a qualidade da vida.

O Brasil é um dos piores países para morrer, justamente porque tem uma baixa preocupação com a qualidade da morte. Isso tem a ver com a ideia de que a medicina vai apenas salvar vidas, e com a dificuldade de lidar com a morte. A morte é vista como um fracasso. Existe todo um medo, um tabu nas sociedades ocidentais.

E aí vem o pessoal dos cuidados paliativos tentando garantir uma morte, ou um cuidado, não somente centrados na tecnologia, na medicina. O modo de morrer de antigamente, com o doente em casa, cercado pelos familiares, foi migrando para uma morte solitária, dentro de um box de CTI, com a pessoa sozinha e em agonia.

O suporte social comunitário ajuda na prevenção do luto complicado

Então o mundo dos cuidados paliativos vai procurar fornecer assistência psicológica para a família, incentivar as conversas com o "eu te amo", "eu te perdoo"… É uma visão muito maior do que é enfrentar essa terminalidade. A nossa sociedade lida muito mal com a morte, e os profissionais de saúde lidam muito mal com a morte. A gente é mal formado para pensar sobre.

A covid vem e nos dá um tapa na cara. Evidencia e desnuda tudo. A morte por covid traz todos esses componentes: solidão; despreparo das equipes na lida e no diálogo com a família; ausência desse raciocínio [de que a morte não é um fracasso] nas unidades de saúde e hospitais; sofrimento enorme para os profissionais e familiares.

E agora são justamente os profissionais os intermediários entre família e paciente durante a morte.

Exatamente. A carga sobre eles está enorme, porque são profissionais criados para salvar vidas, nessa suposição de que a morte seria uma derrota, e o tempo todo estão sendo confrontados com essa frustração. Está difícil para o sistema como um todo.

E o luto dentro dessa situação? Porque existe o luto por perder pessoas amadas, mas especialistas também apontam para o luto por perder um emprego, por mudar o modo de agir…

O luto é a perda de um vínculo, não necessariamente a perda de uma pessoa e nem necessariamente por morte. Imagine então a quantidade de luto que está por aí… Pessoas que iam se casar, que perderam emprego, renda, o medo de quem tem que trabalhar de contaminar seus familiares. É uma série de sofrimentos invisíveis.

Ao mesmo tempo, o luto é uma vivência muito individual. Existem teorias mais antigas que tentam dizer que o luto possui um determinado tempo, percorre certas fases. Elas criam quase que uma normativa sobre o luto.

É preciso pensar como promover conforto e sobrevivência para enfermeiras

É o luto sendo um processo do sujeito, e aí o modo como o sujeito o enfrenta seria próprio de cada um, de acordo com cada estrutura de personalidade. O que é possível fazer sobre isso? Quase nada. É mandar para a psicóloga. E eu acho que não, no momento não é o caso de vermos o luto como um processo absolutamente subjetivo.

Existe um conceito de luto complicado, que é quando a pessoa enfrenta mal, não dá conta de retomar a vida, adoece, deprime. Esse luto é comum em mortes violentas, solitárias, injustas, precoces. E a morte pela covid tem várias dessas características – é uma má morte, tem dor, sofrimento, falta de ar, é solitária, sem despedida.

Então nós fomos investigar se existem formas de prevenir o luto complicado, já que o luto é tão singular, tão de cada um… E sim, tem jeito.

Estudamos vários artigos, de países diferentes, e o que encontramos, resumimos em dois pontos: é possível precaver ao melhorar a qualidade da morte e garantir suporte social. E é nesse contexto que os cuidados paliativos são enormemente relevantes.

Como seria isso?

Na melhoria da qualidade da morte entram, por exemplo, os dispositivos eletrônicos. A telemedicina, as videoconferências com os familiares, os grupos com psicólogos focados nas conversas com a família etc.

O trauma causado pela pandemia vai durar muitos anos, mesmo após a vacina

Sobre o suporte social… Uma das coisas que mais alivia a morte nas sociedades são os rituais. Eles existem como uma forma de nos consolar, abrandar a dor, criar um efeito simbólico entre a pessoa amada que partiu e quem fica. Foi outra coisa que a covid cortou, né? Os velórios devem ser rápidos e sem aglomeração até mesmo para aqueles que não morreram pela covid.

Além dessas características de má morte, temos uma situação que o ritual não pode auxiliar. É preciso, então, criar maneiras de suprir essa falta da ritualização tal como a gente conhece.

Tipo criar um ambiente em casa para celebrar e se despedir da pessoa que se foi?

Aí é que está. Não com as pessoas sozinhas, não com ações individuais. É exatamente onde entra um suporte social comunitário, para tirar essa morte da situação de invisibilidade.

Existem projetos da sociedade civil que se atentam a isso, como o @reliquia.rum, da Debora Diniz [antropóloga], o @inumeraveismemorial e o Santinho. Eles visam prover homenagens que apontem a singularidade de quem morreu.

A pandemia da covid nos mostra de cara que não somos tão autossuficientes

Porque é particular, mas também é público. É preciso ressaltar: o luto pela covid não é um processo apenas individual, é um processo coletivo.

Em outros países e em algumas cidades daqui, todo dia é realizado um minuto de silêncio, é tocada uma música, ou passa algo na televisão sobre as pessoas que faleceram. É para dizer que não, essas pessoas não estão despercebidas, e nem sozinhas.

E ações como essa auxiliam na prevenção do luto complicado.

E o luto dos profissionais da saúde? Eles são um caso à parte, pois além de lidarem com o paciente e família, o Brasil é um dos países com o maior número de mortes de profissionais do setor na pandemia. É medo de morrer, de perder os amigos e colegas de trabalho…

O suporte social tem a ver com políticas públicas de enfrentamento para esse sofrimento e para o sofrimento da população no geral.

A respeito das enfermeiras e enfermeiros, é preciso pensar como promover conforto e sobrevivência para esses profissionais. Nem que seja com auxílio financeiro, ou talvez uma aposentadoria mais precoce…

Algo que demonstrasse o valor e o interesse por essas pessoas, ao invés de ficar nessa de tratá-los como heróis, como aqueles que se sacrificam e que morrem pelo outro. Eles são pessoas, que estão trabalhando duramente, com dramas e que não têm garantia. Por exemplo, os filhos dessas mulheres enfermeiras ficam com quem?

O que quero dizer é que em várias áreas haveria formas de pensar políticas públicas: mulheres, crianças, profissionais; pode-se rastrear onde estão os mortos e ver quais assistências específicas o SUS [Sistema Único de Saúde] e o Suas [Sistema Único de Assistência Social] podem fornecer; deve-se refletir o que pode ser feito na educação, na segurança pública.

É necessário questionar como está sendo pensado o conjunto de políticas como suporte para o sofrimento causado pela pandemia. E o trauma vai durar muitos anos ainda, mesmo após a vacina. A gente precisa criar uma política do luto. Não dá para ignorar, para passar por cima.

Como lidar com essa sensação de perda iminente que a pandemia gera?

Não existe uma resposta. Podemos falar do que está acontecendo… Estamos em risco e podemos ver que, enquanto sociedade, já estávamos vivendo um processo negacionista.

A negação é um mecanismo psíquico descrito por Freud. É fingir que não vê. E vemos que essa está sendo uma das formas de lidar com o medo. Só que é um “fingir que não vê” em massa. O comportamento de massa é abrir mão do seu raciocínio e transferir sua capacidade de pensar para um líder. Esse líder, como estudado há muito tempo, manipula por meio dos afetos [da emoção].

Outra forma de lidar é ter comportamento fóbico e obsessivo e se trancar dentro de casa, achar que está infectado o tempo todo, se lavar o tempo todo com álcool.

O que deveria combater isso é informação justa, correta, fidedigna, confiável, que possibilitasse a cada um se posicionar. Sempre que acontece um desastre e morre muita gente de uma vez, o papel dos líderes, dos governantes, é dar a real. É ter ações baseadas na razão. É promover esquemas de compreensão para que a população seja tranquilizada e para que haja uma normativa mais unificada possível. E é exatamente o que não está acontecendo.

Essa é a primeira pandemia do século XX. Até então, éramos uma geração acostumada a ter controle de episódios do tipo, com ferramentas e tecnologias suficientes. Você acha que a covid impacta a nossa geração de uma forma diferente do que as pandemias anteriores impactaram as gerações mais antigas?

Primeiro que é uma pandemia que atingiu todos os continentes e as outras não atingiram. Com a globalização, em poucos dias a pandemia se consolidou e se multiplicou para o mundo inteiro.

E a gente está sustentado numa sociedade tecnológica, científica e narcísica – que crê que dá conta de tudo e que supõe que tem o controle. Uma sociedade que vinha, inclusive, desenvolvendo modos de prolongamento da vida por muito tempo.

Somos uma sociedade com dificuldade de lidar com o sofrimento e com a finitude

É um choque que coloca em questão a onipotência da humanidade, e nos dá essa castração, mostrando que não, não somos os “todos poderosos”. [A covid] nos mostra de cara que não somos tão autossuficientes.

Questiona o estilo de vida capitalista, diz que a gente precisa aprender a lidar com a falta de respostas e ficar mais humilde enquanto espécie. Aprender que nós somos um dos componentes da natureza, e não os donos dela.

Além dos desafios científicos da vacina, da exploração ambiental e natureza, mostra que somos uma sociedade com dificuldade de lidar com a dor, com o sofrimento e com a finitude.

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Editado por: Rafaella Dotta
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