A frase do título é do Emicida e do filme recém lançado AmarElo (2020). Uma obra extraordinária que sai das catacumbas dos movimentos negros e do rap brasileiro para ganhar o Municipal de São Paulo, o coração da nossa gente e certamente uma repercussão internacional que virá em breve.
O rap é a poesia da periferia, a afropoesia que revoluciona a nossa língua, re-instituindo a palavra liberdade com outra significação e apelo: é nós por nós, mano, repete o Emicida que conduz como um grande pedagogo o filme, o show e a luta de sua gente. Ele resgata a dignidade do povo negro da periferia, ele exalta a beleza do povo negro da periferia, ele mostra a inteligência do povo negro da periferia, ele mostra um caminho de luta e de organização para todo o povo brasileiro.
Como noutros momentos de nossa história de sofrimento e dor, vem da periferia e dos mais oprimidos a palavra forte, transformadora, que traz um sentido novo e libertário ao verbo esperançar do saudoso Paulo Freire.
Certamente haverão outros movimentos e propostas, mas que deverão se somar a este novo caminho da mudança urgente, necessária, inadiável que buscamos, sobretudo diante da pandemia da covid-19, da insensatez de um governo necrosado, dos mais de 200 mil mortos e da possibilidade de enfrentarmos o caos na saúde brasileira, de cima a baixo, neste 2021 que recém começa e que mostra que 2020 ainda não terminou.
O Emicida mostra com segurança e humildade honrada um desses caminhos e sua palavra e experiência é forte, consistente, desafiadora.
É hora de levantarmos a voz, os punhos, as muitas formas de luta e auto-organizaão para a grande mudança. Você não irá impedir a nossa voz e a nossa luta, assim entendo as palavras da poesia do Emicida. Estamos com você, irmão. O tempo é breve e não há mais o que esperar.
E como cantou Chico: "Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada nesse meu penar".
(*) Teólogo, professor associado de Faculdades EST, pastor luterano.
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