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ÔNIBUS

Crônica | Busão: credo, que delícia

Passei parte do isolamento em casa, nunca tinha ficado tanto tempo sem entrar em um ônibus. Senti saudade, como que pode

18.mar.2021 às 00h09
Belo Horizonte
Annie Oviedo

" O ônibus pode nos conectar, nos dar acesso a lugares novos. Mas o que temos é um sistema que faz o exato contrário" - Foto; Reprodução

Desde sempre ando de ônibus. Para ir para a escola, para a universidade, para o trabalho, para a balada, para todo lugar. 

Como todo mundo que anda de ônibus, toda vez que tenho que me locomover, me sujeito à situação calamitosa do transporte coletivo. O ônibus é caro, muitas vezes passa pouco, quase sempre está cheio, não particularmente limpo. E fosse só isso. 

Me locomovo por meio do transporte coletivo mas, principalmente, dependo do transporte coletivo. Ele molda meu jeito de estar na cidade. 

O tempo que levo para chegar a um lugar, ir ao trabalho, ir para casa, é sempre mediado pelo tempo do transporte coletivo. O espaço também. Não vou a dois lugares distantes entre si no mesmo dia. Quando tenho que ir a um lugar em que preciso de dois ônibus, o tempo e a distância se multiplicam. Não dá para frequentar uma aula gratuita de circo no centro cultural da minha regional e depois ir trabalhar, porque o tempo e o espaço se dilatam para quem anda de ônibus. 

Agora, ainda por cima, o ônibus é fonte de medo, porque há muita gente em um pequeno espaço. É paradoxal, porque esse é um problema fácil de ser resolvido: é só ter mais ônibus. Mas não tem, e assim o transporte coletivo carrega mais esta culpa. Sempre achei impressionante essa inversão de sentidos: o ônibus pode nos conectar, nos dar acesso a lugares novos, nos permitir atravessar tempo e espaço. Mas o que temos é um sistema que faz o exato contrário. Quanto menos ônibus e quanto mais caros eles são, tanto mais o sistema se transforma no contrário do que deveria ser. 

Mas acho que é justamente o vislumbre do que o ônibus pode fazer por nós que me faz continuar, apesar de todas as mazelas, a adorá-lo. 

Estico o braço, dou sinal. Entro, coé motor, rodo a odienta catraca, se posso, sento na janela. O ventinho me faz sentir bem, sempre. Tiro o fone de ouvido da bolsa, escolho uma música. Olho pela janela, e sinto familiaridade. 

Aquela sensação específica de saber que, se fecho os olhos, sei exatamente onde estou e o que tem no caminho, e isso não me cansa nunca, pelo contrário. Vejo desfilar por mim todas as pequenas mudanças, as flores das árvores, as obras na rua. O superpoder de adormecer e saber sempre onde acordar. Gosto da suspensão de tempo que é o trajeto do ônibus, o estar entre uma coisa e outra, entre um lugar e outro. Penso, escuto música, olho a paisagem, as gotas de chuva. 

O reconhecer aquele espaço e sentir que sou parte dele, estou no fluxo, em movimento. Em minha individualidade, em meu banco ou meu pedacinho de piso, sou parte de algo maior, da infinita complexidade da cidade. 

Passei parte do isolamento em casa, nunca tinha ficado tanto tempo sem entrar em um ônibus, e foi difícil. Senti saudade, como que pode. 

Andar de ônibus formou minha percepção sobre a cidade, sobre o espaço, sobre política. Passageiros de ônibus, para mim, deveriam ser parte não só do todo urbano, mas também de uma luta para que o ônibus seja esse vetor fundamental de conexão de tempo, de espaços, de gente. Sobretudo de gente. Um espaço público em movimento, democrático, disponível, sempre. 

Nesse lugar entre lugares, nesse caixotinho em movimento, entendo um pouco melhor o que é uma coletividade. Afinal, o que é não ser coletividade, nessa lógica? É ser carro. Cada um em seu espacinho individual, em competição com os outros. Quem não pode garantir seu espaço na via, não será contemplado pela cidade, por seus espaços, por sua política. Mas não cabe tantos carros, já faz tempo. Assim, desconectados, em guerra uns contra outros, não dá para viver. 

Quando entro no ônibus, penso em como podemos ser coletividade e em como, somente assim, podemos nos emancipar e transformar aquilo em conexão. Não é um exercício individual, porque não dá para ser livre no espaço e no tempo sozinho, desconectado. Isso só é verdade nos míticos filmes da franquia Velozes & Furiosos (que amo, pois ser humano é ser contraditório). 

Quando estou em um ponto de ônibus no Centro e vejo o meu ônibus chegar, o letreiro laranja e o barulho de lataria, invariavelmente penso que não podia ser de outro jeito, lógico que eu ia fazer política em um movimento social que luta por um transporte justo e de qualidade. Minha individualidade em uma coletividade múltipla, surpreendente, está sempre em movimento. Precisamente como andar de ônibus. 

Annie Oviedo é passageira de ônibus e integrante do Tarifa Zero BH

Editado por: Elis Almeida
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