Professores da rede municipal de Betim, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram surpreendidos por ações da Prefeitura. Após o anúncio da volta às aulas presenciais, os trabalhadores declararam uma greve sanitária e têm enfrentado uma série de reações. Cinco diretores e vice-diretores foram exonerados de seus cargos.
A situação teve início quando a Prefeitura de Betim anunciou que as aulas presenciais iriam retornar, em 9 de agosto, para a educação infantil, alunos do 7º, 8º e 9º ano do ensino fundamental e da Educação de Jovens e Adultos. O retorno acontece de forma híbrida (ensino remoto e presencial), com revezamento de turmas e com a manutenção do ensino remoto, caso a família prefira.
Existem muitos professores ainda não vacinados com as duas doses contra a covid-19.
Os professores foram informados do retorno quando estavam nas férias do mês de julho. Eles foram convocados para retomarem os trabalhos nas escolas em 2 de agosto, como explica Luiz Fernando de Souza Oliveira, coordenador do Sindicato Único dos Trabalhadores (SindUTE) subsede Betim.
Em assembleia no dia 3 de agosto, os educadores decidiram deflagrar uma greve sanitária por tempo indeterminado, que começou no dia 9 – primeiro dia da retomada presencial.
Objetivos da greve
Os principais problemas apontados pelos educadores foi a falta de diálogo da Prefeitura com a categoria na construção dos protocolos sanitários, além de existirem muitos professores ainda não vacinados com as duas doses contra a covid-19. Os educadores apontam também falhas no protocolo de biossegurança, como o rodízio de professores entre as turmas, que poderia favorecer a transmissão comunitária do coronavírus.
O professor Luiz Fernando destaca ainda a falta de estrutura das escolas para cumprir os protocolos. Uma foto da Escola Municipal Osório Aleixo da Silva mostra, por exemplo, o pátio cheio de móveis que deveriam ser recolhidos pela Prefeitura.
Reprodução / WhatsApp
“Durante esse tempo de pandemia, a Prefeitura se esqueceu dos estudantes. Não tomou ações que garantissem a educação, não fez licitações para comprar equipamentos”, criticou o professor.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
A falta de tempo para a higiene da escola também aparece como ponto crítico, já que são vários turnos de quatro horas. Na opinião do sindicato, isso inviabiliza a limpeza necessária contra o coronavírus.
Prefeitura
Frente ao anúncio da greve, a Prefeitura de Betim entrou na Justiça pedindo que o protesto fosse considerado ilegal. Mesmo assim educadores de diversas escolas permanecem paralisados.
Em reação, cinco diretores e vice-diretores foram exonerados pela Prefeitura e impedidos de frequentar a escola por 60 dias. A assessoria informou que a exoneração aconteceu porque os diretores compartilharam notícias falsas em relação ao retorno das aulas. O sindicato discorda, informando que os diretores apenas comunicaram aos pais e alunos que os professores estavam em greve e, por isso, não haveria aula.
:: Saiba quais são as produções de rádio do BdF MG e como escutar ::
Na sexta (13), a Guarda Municipal de Betim interditou 10 escolas que estavam com trabalhadores em greve. A Prefeitura informou, em seu site, que o objetivo foi utilizar os alimentos da merenda escolar para preparar marmitas para os alunos.
No entanto, Luiz Fernando chama atenção para a presença da Guarda Municipal, que não tem relação com a merenda escolar. “Criou um clima horrível. Qual a necessidade da Guarda para enfrentar mulheres professoras?”, questiona. “Nenhum governo tomou atitude tão autoritária”.
Respostas da Prefeitura
A Prefeitura de Betim contesta as denúncias. A Secretaria Municipal de Educação afirma que uma primeira versão do protocolo de biossegurança foi entregue em março ao sindicato e ao Conselho Municipal de Educação. Depois disso, teriam se seguido conversas e reuniões, até ser entregue um protocolo final aos diretores escolares, em 30 de julho.
O protocolo pode ser acessado aqui.
A porcentagem dos educadores completamente vacinados ainda não está disponível. A Prefeitura informou que todos os profissionais, incluindo os recém-contratados, estão imunizados com a primeira dose.
Audiência
Nesta quinta (19), acontece uma nova audiência entre Prefeitura e SindUTE, na qual a Justiça escutará os motivos dos educadores em defesa da greve. Logo depois, acontece a assembleia da categoria que decidirá os rumos da mobilização.