O pesquisador Rodrigo Lentz lança na quinta-feira (8) o livro República de Segurança Nacional: Militares e Política no Brasil, publicado pela Editora Expressão Popular em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo.
O lançamento acontece no auditório da Faculdade de Direito da UnB (Universidade de Brasília), em Brasília, a partir das 19h. No evento, o autor, juntamente com os professores, Enéa de Stutz e Luis Felipe Miguel, participa de um bate-papo com o público sobre a obra.
No livro, Lentz analisa a volta dos militares ao centro do poder com o governo de Jair Bolsonaro e reflete sobre suas consequências políticas para o país. A partir de documentos oficiais da Escola Superior de Guerra, o pesquisador investiga a estrutura ideológica que fundamenta a organização militar e a contextualiza conforme as mudanças históricas que ocorreram no período.
“Antes de levantar hipóteses sobre como e por que [os militares voltaram ao poder], o livro buscou contextualizar historicamente o engajamento político dos militares no Brasil. Tentei demonstrar que a burocracia militar politizada permaneceu no poder político depois 1985. Por isso, 2018 representa ‘a volta de quem nunca foi’. E essa permanência contribuiu para as condições do regresso à proa da política, que é a direção do governo, num contexto de acentuada crise política e institucional”, afirma Lentz em entrevista ao BdF.
Tendo as disputas sociais como pano de fundo para esse percurso, o autor explora a presença dos militares na política desde a formação da República até o atual governo, ora como protagonistas, ora como coadjuvantes.
De acordo com o autor, os militares contaram, ao longo dos anos, com largo apoio civil em seus projetos de poder. A militarização, segundo ele, é marca enraizada na sociedade brasileira.
“A distinção entre civis e militares é uma marcação política e sociológica. Política porque estabelece um ideal liberal-pluralista de subordinação da burocracia militar ao poder político, legitimado pela soberania popular; sociológica porque reporta um condicionamento na forma de ver o mundo, a si mesmo e “os outros”. Mas essa distinção tem por base material e ideológica a relação entre as classes sociais, que sustenta uma determinada ordem de dominação. Não somente política, mas também social e cultural, que estabelece hierarquias e disciplinas na relação entre sociedade e estado. Então a militarização é um fenômeno muito mais amplo, que está enraizada na sociedade nacional, sobretudo por sua formação histórica e ausência de rupturas com as ‘violências fundadoras’ – colonização, escravização e ditaduras republicanas. E a militarização brasileira, hoje, é de extrema-direita e tem capilaridade em todo território nacional”.
O autor discute também alternativas para as forças democráticas assumirem, de fato, o controle político dos militares. Uma saída seria a reformulação da educação para a democracia, rompendo com a cultura política que bloqueia a discussão pública sobre a questão nacional e abre o caminho para a politização dos militares.
“Não se muda uma cultura da noite para o dia. Há uma estrutura institucional que direciona a burocracia militar para a “segurança” interna e uma mentalidade política que amplia a presença de militares na segurança pública, assistência social e educação. E uma organização burocrática voltada para a atuação política fortemente marcada por uma ideologia antidemocrática. Então qualquer mudança significativa dependerá em substituir essas estruturas por outras, de orientação democrática. O desafio é construir com a sociedade e setores do Estado essa transformação”, afirma Lentz.
Sobre o autor
Rodrigo Lentz é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB) e advogado, professor convidado da Unisinos – Universidade Vale do Rio dos Sinos. É pesquisador sênior do Observatório sobre Defesa e Soberania Nacional do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, integra o grupo de pesquisa Democracia e Sociedade, da UnB.
Lançamento
Livro República de Segurança Nacional: Militares e Política no Brasil – Editora Expressão Popular
08 de setembro de 2022 (quinta-feira) – 19 horas
Faculdade de Direito da UnB (Universidade de Brasília), em Brasília
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