A notícia recente de que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, nomeou como secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Mateus Wesp, que já aprovou projeto LGBTfóbico, entristece, mas não surpreende. É só mais uma prova de que, apesar de ser gay, Leite não integra a comunidade LGBTQIA+ – ou comunidade queer, como prefiro chamar, por ressignificar uma palavra antes utilizada para machucar, entre outros motivos.
Cabe ressaltar que este artigo é escrito por alguém que defendeu o governador quando este “saiu do armário” e foi atacado de modo rasteiro por parcela da esquerda. Fiz isso por considerar o certo no momento, não por gostar de Leite, que à época já havia apoiado publicamente Jair Bolsonaro.
Nunca o perdoarei por ter se posto ao lado do que de pior há em nossa sociedade. A palavra tem poder – e a de Jair fora sempre carregada de desprezo e ódio. Sua eleição faz sentido num país que é campeão de mortes violentas de pessoas queer. Só em 2021, ao menos 316 vidas da nossa comunidade foram destruídas por causa do preconceito, um aumento de 33,3% em relação ao ano anterior, quando foram no mínimo 237 mortes, conforme o Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil.
Alguns podem chamar as atitudes de Leite de simples cálculo político, como quando ele se omitiu no último segundo turno e preferiu ver nossa democracia em risco do que dar apoio a Lula. Eu chamo de covardia. Por mais longe que ele vá, nunca terá a grandeza dos líderes imortalizados. Não passa de um oportunista que, a meu ver, não integra a nossa comunidade.
Por que isso? Se relacionar com outra pessoa do mesmo gênero qualquer um faz, inclusive cidadãos de bem enrustidos que têm família e traem suas mulheres. Leite, que é cisgênero, branco, rico e performa seu gênero de maneira considerada adequada pela sociedade, nem de longe é o principal alvo de violência. Ao desfilar com o namorado padrão e ignorar existências como da travesti preta periférica que sofre violências diárias, ele mostra que está interessado apenas no seu bem-estar, não no coletivo.
Comunidade é coletivo.
Não desejo nenhum mal a Leite, ainda que seja trágica a sua falta de empatia. Mesmo que ele não nos represente, pode ser o quão gay quiser. Ou seria melhor continuar se contendo? Veja bem, ainda que a ala progressista não veja problema algum na sua sexualidade, seus apoiadores da direita enxergam, sim. Melhor não rebolar muito para não resultar em impeachment.
* Jornalista, cineasta, escritor e queer
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.