A Mestre de Cultura Popular, Penha Cirandeira, estará lançando no próximo dia 15 de junho o álbum Paraíba Profunda. Na realidade serão três singles disponibilizados, por ora, para o público, em todas as plataformas digitais.
Reprodução / Foto: Renan Martins – Mestra Penha
São três aboios gravados pela Mestra Penha que trazem toda a força, a beleza, o canto rústico e rural, o aquilombamento urbano e ancestral da sua arte, numa amostra do que virá pela frente, quando o restante do disco for lançado para contemplação popular.
Com acompanhamento musical de Zé Silva e Bruna Nascimento (filha da Mestra), e ainda diversas participações especiais, a produção do disco é de Zé Silva e José Balbino, com gravação nos estúdios Boa Nova (PB) e Traquitana (SP), o álbum destaca a cultura indígena e negra da Paraíba que ainda é pouco conhecida, inclusive entre os próprios paraibanos.
Linguagens e tradições
O disco aborda a diversidade de manifestações culturais vivenciadas pela Mestra, como a Jurema Sagrada, a mesa branca, o aboio, as tribos indígenas de carnaval e o coco de roda.
Reprodução / Foto: Assessoria de Comunicação – Mestra Penha
O aboio é um canto de trabalho com influências da cultura árabe, amplamente utilizado pelos vaqueiros do sertão nordestino. As tribos indígenas de carnaval representam uma forte tradição na região de João Pessoa, com ritmos, danças, teatro e toques únicos.
A Jurema Sagrada é uma religião de matriz indígena presente na Paraíba, na qual a Mestra Penha possui uma posição de destaque. A mesa branca, tradição transmitida pelos seus pais, foi registrada em áudio e vídeo pela primeira vez em 1938, durante as missões de pesquisas folclóricas de Mário de Andrade.
Por fim, o coco de roda é representado pela intensa música "Reis Caninana", interpretada pela Mestra Penha. Com essas expressões culturais autênticas, o Paraíba Profunda busca proporcionar ao público uma experiência única, revelando a riqueza e diversidade das tradições indígenas e negras da Paraíba. O lançamento dos primeiros singles em 15 de junho promete apresentar uma perspectiva desconhecida e fascinante, enriquecendo o cenário musical com sua originalidade.
Mestra Penha – “Filha e mãe da cultura da paraíba”
Maria da Penha Anjos do Nascimento foi registrada nos primeiros meses de vida na cidade metropolitana de Bayeux. Filha de Eunice do Nascimento e José Francisco do Nascimento, Penha Cirandeira é uma cantadora nordestina com uma das vozes mais peculiares de sua geração.
Do seio da extrema pobreza, desde cedo a Mestra Penha aprendeu com sua mãe, indígena da região de Alagoa Grande (PB), a arte da pesca artesanal. Ela adquiriu conhecimentos sobre as mudanças da tábua de marés e desenvolveu habilidades na canoagem, na captura de caranguejos nos mangues, na coleta de ostras, sururu e unha-de-velho (um tipo de marisco), entre outras atividades.
Com seu pai, de origem quilombola e nascido em Caiana dos Crioulos, Penha aprendeu a agricultura e o manejo do facão no corte da cana-de-açúcar. No entanto, foi na arte de tocar, dançar e cantar Coco de Roda e Ciranda da Paraíba que ela se destacou. Aos 11 anos de idade começou a brincar de coco de roda e ciranda com seu pai. Aos 15 anos, assumiu o protagonismo nessa brincadeira, que envolve o tripé: canto, toque e dança.
Nos anos 90, em Várzea Nova (PB), Penha passou a ser reconhecida como mestra, repassando seus saberes para as gerações seguintes por meio de apresentações, oficinas e vivências, dentro e fora do estado. Ela tem compartilhado sua paixão pelo Coco de Roda e pela Ciranda da Paraíba desde o início de sua trajetória até os dias atuais.
A cultura da Paraíba vai longe
A mestra Penha tem uma extensa experiência em ações culturais e apresentações que dão protagonismo à cultura da Paraíba. Entre os destaques, estão sua participação no FENARTE (FUNESC/PB) em 2000 e em eventos culturais promovidos pela Fundação Cultural de João Pessoa, como Estação Nordeste, Festa das Neves e São João. Em 2011, ela se apresentou no Festival Brincantes Brasileiros na Paraíba.
No ano de 2012, ela levou sua arte para os municípios de Cajazeiras, Sousa e Juazeiro do Norte, atravessando os estados da Paraíba e Ceará, através do convite do Centro Cultural Banco do Nordeste.
Em 2006, representou o Coco de Roda e Ciranda da Paraíba no prestigioso Encontro Sul-Americano das Culturas Populares, realizado em Brasília.
Um importante marco em sua carreira ocorreu em 2009 ao gravar o seu primeiro CD pelo Projeto Raízes da Alma (UFPB), consolidando o trabalho e permitindo que sua música alcançasse um público ainda maior.
Mestra Penha também realizou turnês em Olímpia (SP) e cidades vizinhas, incluindo uma apresentação na capital paulista em 2022.
A trajetória de Penha Cirandeira é um exemplo inspirador de dedicação à preservação e difusão da cultura popular. Suas performances e realizações são um testemunho vivo do poder transformador da arte.
*Com textos de Zé Silva e Becken Lima
