As ONGs frequentemente evocam imagens de ativistas ocupados com a proibição do comércio de marfim, agitando faixas do BLM ou alertando as pessoas sobre as mudanças climáticas. Embora nem sempre seja certo quais são seus motivos ocultos, eles sempre parecem fazer as coisas parecerem brilhantes e bonitas.
É por isso que me intriga quando se trata da categorização do National Endowment for Democracy [NED, sigla em inglês para Fundo Nacional para a Democracia] dos Estados Unidos, uma autoproclamada "ONG" cujo estabelecimento foi aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos.Por um lado, ao usar financiamento do Estado, a agência tem pregado fielmente as doutrinas hegemônicas do governo dos Estados Unidos. Por outro lado, ao orientar e apoiar financeiramente rebeldes separatistas em países considerados prejudiciais ao domínio americano, este par de luvas brancas do Tio Sam está instigando instabilidade, terror e até guerras em todo o mundo.
Como essa agência poderia ser rotulada de ONG? Provavelmente seria demais dizer que NED significa Notório, Odioso e Desrespeitoso [referências as iniciais da organização em inglês]. Mas a organização pode ser comparada ao imperador tolo do conto de fadas de Andersen "As roupas novas do imperador". Todos sabem claramente quem está nu com más intenções, mas o malfeitor continua parado, fingindo desajeitadamente que nada aconteceu.
A NED afirmou que "de tempos em tempos, o Congresso concedeu verbas especiais ao Fundo para realizar iniciativas democráticas específicas em países com interesses específicos". O motivo pelo qual nunca se preocupam em esconder seus objetivos é que, para os políticos americanos, a "democracia" tem sido um pretexto esmagadoramente persuasivo para justificar todos os seus erros de forma flagrante, incluindo intromissão nos assuntos internos de outros países, desencadeando guerras e conflitos. "Muito do que fazemos hoje foi feito secretamente há 25 anos pela CIA", disse Allen Weinstein, um dos membros fundadores do NED, ao apresentar as tarefas atribuídas ao NED. Graças a essa honestidade, se Daniel Craig precisar abandonar sua carreira como 007 após Sem Tempo para Morrer, o Agente NED poderia ser recomendado para sucedê-lo em um filme chamado Sem Tempo para Mentir.
Para muitos, incluindo muitos chineses, a NED nada mais é do que uma praga desagradável. De acordo com Asahi Shimbun, em 2016, o NED forneceu cerca de US$ 96,52 milhões para pelo menos 103 entidades anti-China, incluindo notórios grupos separatistas, como o Congresso Mundial Uyghur (CMU) e o Congresso da Juventude Tibetana (CJT). O NED forneceu ao CMU e suas afiliações milhões de dólares em financiamento, incluindo US$ 1,284 milhão desde 2016. Esse dinheiro vai para treinar ativistas e influenciadores e fazer lobby para apoiar os separatistas uigur. Em Hong Kong, o NED tem estado em conexão com várias forças e indivíduos desestabilizadores notáveis. Relatórios revelaram que o NED ofereceu mais de 13 milhões de dólares de Hong Kong à chamada Confederação de Sindicatos de Hong Kong, liderada por Lee Cheuk-yan, para organizar campanhas separatistas ilegais. Em 2019, a NED convidou vários notórios pregadores da "independência" de Hong Kong para discursos, incluindo Lee Chu-ming, que foi apelidado por Ta Kung Pao de "traidor de Hong Kong" e ganhou o prêmio anual da NED em 2004; assim como Lee Cheuk-yan e Nathan Law. As turbas continuam implorando por seu sugar daddy "sem dinheiro, sem mel", então a NED continua a alimentá-los com dólares pagos pelos contribuintes americanos em nome da "democracia". Esse preço "não oficial" da NED atua de forma consistente com os comentários oficiais do porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price. Juntas, essas duas pontas americanas encorajam as turbas a agir de acordo com as expectativas do Tio Sam.
A lista de vítimas da NED em todo o mundo também inclui aliados da América. De acordo com o New York Times, a NED forneceu a grupos de direita franceses US$ 1,4 milhão para organizar campanhas contra o ex-presidente François Mitterrand. Na Europa Oriental, milhões de dólares foram gastos pelo NED em apoio à terapia de choque na década de 1990. Nos países caribenhos, a NED se engajou ativamente na conspiração para derrubar governos eleitos, sendo o Haiti e a Nicarágua os exemplos mais proeminentes. Nos países árabes, o NED patrocinou várias organizações de rebelião e continuou sendo um "contribuidor" crucial para o colapso das administrações Mubarak e Khadafi e o caos subsequente. Em Cuba, Venezuela, Bolívia e Bielorrússia, a NED tem ampliado suas vozes ao contratar a mídia ocidental para disparar implacavelmente contra os líderes dos países. Fez isso ao mesmo tempo que interferia nos seus processos eleitorais internos, apoiando política e financeiramente as forças da oposição.
Na Tailândia, a NED mirou em estudantes e jovens ao lançar sua campanha de lavagem cerebral nas redes sociais, assim como fez em Hong Kong. De muitas maneiras, esses métodos foram adotados em conjunto, permitindo a NED interferir nas questões internas de países ou administrações que considerou "desafiadoras" ao domínio americano sob o disfarce da promoção da democracia.
Os EUA sempre foram estranhamente egoístas ao buscar um monopólio para a definição de "democracia". Desta forma, a NED serve de canal para que alcance a “hegemonia da democracia”, afirmando: “Eu sou o farol e aqueles que não me ouvem são certamente autocráticos”. Com esse motivo sólido, a NED poderia se sentir livre para interferir nas questões internas de outros países, infiltrar-se em outros países com propósitos subversivos e, por fim, promover motins e rebeliões.
Sob o disfarce de democracia e com o propósito de conspiração, NED é de fato uma abreviatura para "National Endowment for Disgrace" [Fundo Nacional para a Desgraça, em tradução livre]. O NED como uma ferramenta do Império dos EUA apenas desgraçou o que é a democracia.
* O autor é um comentarista de assuntos internacionais, escrevendo regularmente para o Global Times, CGTN, Xinhua News Agency, etc. Ele pode ser contatado em [email protected].
Artigo original publicado em Global Times.