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Artigo

Cem vezes viva: a travessia de Elizabeth Teixeira

Neste 13 deste fevereiro, Elizabeth Altino Teixeira completa 100 anos de uma trajetória que há de seguir inspirando

13.fev.2025 às 07h36
São Paulo (SP)
Roberto Amaral ()

Neste 13 deste fevereiro, Elizabeth Altino Teixeira completa 100 anos de uma trajetória que há de seguir inspirando, e educando-nos para a luta - Memorial de Lutas Camponesas

“João Pedro, [você] por mais de uma vez me perguntou se eu daria continuidade à sua luta, e eu nunca te dei minha resposta. Hoje eu te digo, com consciência ou sem consciência de luta, eu marcharei na sua luta, João Pedro, pro que der e vier.” (Elizabeth Teixeira, 1962)

O Nordeste continuava herdeiro de Canudos, cumprindo a sina de miséria e fome traçada pelos donos da terra, que não aceitavam vê-la dividida, nem seu povo organizado, uma gente sem eira nem beira que só podia ter serventia no eito, cavando o solo calcinado, de onde brotavam a riqueza e a prepotência do patrão.

A seca matava de um lado, o latifúndio de outro.

No início dos anos 1960, o Nordeste de miséria naturalizada ameaçava a paz da ordem natural do poder. Despertava a atenção, agora, quando a violência em seu paroxismo se deparava com a resistência de camponeses. Emergem na Paraíba e em Pernambuco as "Ligas Camponesas", passa-se a falar na questão agrária, instala-se o que a repressão e a imprensa irão chamar de “conflito no campo”; o tema se politiza, chega à universidade, aos púlpitos, aos sindicatos, às tribunas dos parlamentos, mobiliza o movimento estudantil, empolga, divide, acentua divergências, põe a nu o conflito de classe, e a violência de uma ordem que reproduz a exploração secular do capital sobre o trabalho.

O sistema se assusta, a repressão se aparelha, o Estado cria organismos de intervenção no processo social, cuidando de atalhar o conflito mediante o desenvolvimento regional. Em 1952 é criado o Banco do Nordeste e em 1959 a Sudene, e Celso Furtado dá início à sua guerra contra as estruturas arcaicas. A autovisão do país muda, e muda sua percepção do Nordeste como problema. O discurso compreende agora o anacronismo da estrutura agrária, o mandonismo dos "coronéis" de baraço e cutelo, a exploração do Estado pelo patrimonialismo, o reacionarismo anti-desenvolvimentista da classe dominante.

João Goulart é presidente da República e o país fala em "reformas de base", dentre elas a reforma agrária, o fantasma que vai assustar o sono da classe média; Francisco Julião, advogado das Ligas Camponesas, é eleito deputado federal em 1962, Miguel Arraes assume o governo de Pernambuco e faz usineiros se sentarem à mesa ao lado dos trabalhadores rurais, no Palácio das Princesas, para firmar o Acordo do Campo, um fato novo na luta pelo reconhecimento dos direitos humanos dos camponeses. O país mudava, era todo efervescência: discutia e debatia; buscava traçar ele próprio seu destino desde a rebelião civil de 1961, a Campanha da Legalidade comandada por Leonel Brizola, impedindo o golpe militar de 1961 (um trovão prenunciando a tempestade de 1964).

O país mudava porque se mobilizava. Se mobilizava em todos os sentidos e em todos os quadrantes, à direita e à esquerda. Mobilizavam-se o sistema e a repressão, mobilizava-se e crescia a violência do latifúndio que elegera como meta limpar os sertões da "praga" das Ligas Camponesas, expulsando da terra os camponeses que a elas aderissem, espancando os mais renitentes e simplesmente matando seus líderes, que para isso é que servem a polícia a serviço da terra e o trabuco dos jagunços. João Pedro Teixeira não se surpreendeu com as ameaças, nem mesmo se assustou com as prisões e os espancamentos: sabia, sem medo mas sem bravaria, do alvo que se tornara desde 1955, quando organizou o Encontro dos Camponeses de Sapé (PB), ponto de partida para o nascimento das Ligas camponesas, mobilizando e politizando os trabalhadores rurais. Os fâmulos de ontem, Severinos destinados a ser eternamente Severinos na terra alheia, serviçais no corte da cana ou no caldeirão da usina, transformavam-se em sujeitos ativos de direitos. A dignidade do trabalho se associava ao pleito pela reforma agrária, que soava como música aos ouvidos dos progressistas.

As Ligas se espalham por todo o Nordeste e sobrevivem, como podem, ao combate ferrenho do latifúndio e de seus servidores: a polícia, o judiciário, a imprensa, os intelectuais orgânicos da direita; para a polícia e a chamada "elite" econômica são células de agitação rompendo com a paz do campo; seus dirigentes são agitadores comunistas a serviço de Moscou, financiados por Cuba. A repressão não conhece limites. Na tarde do dia 2 de abril de 1962, em uma emboscada, o latifúndio tirou a vida de João Pedro Teixeira, com três tiros de fuzil, pelas costas. Pedro já era um líder em todo o Estado, e seu assassinato provocaria grande revolta. Ao seu enterro, registram os jornais de João Pessoa, acorrem cerca de cinco mil pessoas.

(Por esse então a União Nacional dos Estudantes (UNE), uma entidade de massas, percorria o país, visitava as universidades, promovia atos políticos, apresentava shows e encenava peças teatrais. Com a diretoria viajava seu Centro Popular de Cultura, o CPC, liderado por Oduvaldo Vianna Filho e Carlos Estevão Martins. Os dirigentes da UNE eram Aldo Arantes, Marco Aurélio Garcia, Clemente Rosas Ribeiro e eu. Fomos ter em Sapé, município da zona da mata paraibana, naquele fevereiro/março de 1962, e participámos de grande concentração popular, em homenagem ao líder assassinado. Penso que nas filmagens desse ato Eduardo Coutinho começava a conceber seu Cabra marcado para morrer. Foi nessa contingência que conheci Elizabeth Teixeira, e me lembro dela como uma mulher ainda jovem, magra de aparência frágil, mas irradiando vida. Voltaria a vê-la, muitos anos passados, na companhia de Silvio Tendler; nós a entrevistávamos  para programa político que produzíamos para um partido então de esquerda. Era a mesma mulher. Silvio relembra a beleza de seu depoimento). 

Viúva de Pedro, Elizabeth, que já se destingira pela sua capacidade de liderança, assume a presidência da Liga Camponesa de Sapé e, na sequência, a presidência das Ligas da Paraíba, função que ocupará até 1964. Amplia a integração dos camponeses à resistência, dobrando o número de associados, e, reforçando a participação das mulheres, cria novas Ligas. Em 1964, aos 39 anos, perseguida pelos militares e pelos latifundiários, é trabalhadora sem terra, mulher de vida severina, viúva, carregando 11 filhos.

Com a chegada do golpe militar em Sapé, morrem os cabras marcados para morrer: são assassinados Nego Fuba (João Alfredo Dias) e Pedro Fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo), companheiros de Pedro Teixeira. São os primeiros. Elizabeth é presa e conhece a cadeia por oito meses; sua casa é incendiada. Sabe o que está marcado como seu destino, mas ainda a aguardam muitas dores ignoradas. Ao suicídio de sua filha de apenas 18 anos, atormentada com o assassinato do pai e a prisão da mãe, seguem-se os assassinatos de dois filhos, José Eudes Teixeira e João Pedro Teixeira Filho. À mercê do imponderável, resolve salvar-se para preservar o que lhe resta de família. Abandona a Paraíba, troca de nome (é agora Marta Maria da Costa); seguindo o destino de seu povo errante sai pelo mundo comendo estrada e poeira, trabalhando aqui e ali para sobreviver, ora como empregada doméstica, ora como lavadora de roupa em beira de rio, ora alfabetizando crianças, correndo da política e da polícia, que no sertão andam juntas.

Afinal, fugindo e se escondendo do mundo (por quase 20 anos!), exilada do mundo, desaparecida embora viva, desgarrada, tida então como morta, logra reunir-se com o restante da família, reencontrada por seus filhos Abraão e Carlos e o cineasta Eduardo Coutinho, que em 1984 lançaria Cabra marcado para morrer, documentário – hoje célebre – dedicado ao martírio de Pedro Teixeira, mas que na verdade é a história de Elizabeth e o milagre de sua vida.

Passaram-se sessenta anos do assassinato de João Pedro Teixeira, 61 do golpe de 1º de abril, 41 do filme de Eduardo Coutinho e 37 da promulgação da “Constituição cidadã”… e seguimos tendo cabras marcados para morrer, como bem sabem os sem terra, os indígenas e os quilombolas.

No próximo dia 13 deste fevereiro, Elizabeth Altino Teixeira, mulher brava e forte, marcada para resistir e viver, completa 100 anos de uma trajetória que há de seguir inspirando, e educando-nos para a luta.

*Roberto Amaral é cientista político, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente do PSB. Autor de "História do presente – conciliação, desigualdade e desafios" (Editora Expressão Popular e Books Kindle).

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Editado por: Thalita Pires
Tags: luta pela terra
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