O então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, revelou, em delação divulgada na última quarta-feira (19), que as joias recebidas de presente durante viagens oficiais foram vendidas para pagar a indenização de R$ 20 mil concedida pela Justiça a Maria do Rosário (PT-RS) por falas do político contra a deputada federal.
Conforme a delação, os itens foram vendidos em 2022, após o ex-presidente “se irritar” com outro processo movido pela parlamentar: o então deputado federal foi condenado em 2015 a pagar R$ 10 mil em danos morais na área cível por ter insinuado que Rosário “não merecia ser estuprada por ser muito feia”, e, após a sentença, a deputada solicitou uma condenação também na esfera penal — o que provocou a “irritação”. Por conta dos juros pelo tempo que levou para pagar, Bolsonaro precisou desembolsar quase R$ 20 mil.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, a parlamentar afirmou que a informação revelada por Cid vai “da desfaçatez ao absurdo“. Conforme Rosário, o valor da indenização era até “simbólico do ponto de vista de valores” e foi dobrado por conta do atraso.
“Quando eu recebi essa indenização, doei para entidades que trabalham com mulheres, porque eu sempre considerei que a violência não era só contra mim. O dano moral é de todas as mulheres brasileiras, pela misoginia que essas figuras fascistas carregam na vivência do Brasil. No entanto, quando ele diz que precisava praticar o roubo das joias que eram do Brasil, cria toda essa armação em torno disso, como relata o Mauro Cid. O que [Cid] está mostrando é que esse criminoso não paga sequer as próprias contas, não assume as próprias responsabilidades”, declarou.
Denúncia contra Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado
A deputada, que ficou em segundo lugar nas eleições municipais para a prefeitura de Porto Alegre (RS), no ano passado, também repercutiu a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outras 33 pessoas por golpe de Estado. Para Rosário, a presença majoritária de militares entre os denunciados deve ser alvo de questionamento.
“Esse país precisa se perguntar que tipo de militares nós estamos formando para comandar as Forças Armadas brasileiras. Já é mais do que hora. Eu estou, inclusive, com uma proposta na Câmara dos Deputados que [prevê que] os colégios militares estejam sob a responsabilidade do Ministério da Educação, portanto civis, ficando aos militares a tarefa profissionalizante da área militar. Mas a ideologia, a perspectiva do que é trabalhado nas escolas militares, não pode ser avessa à Constituição na formação dos oficiais brasileiros. Esse é um elemento estrutural da democracia”, disse.
A parlamentar enfatizou ainda que “não existe golpe sem militarismo“, que virou um projeto ideológico dentro das Forças Armadas. “Nesse momento, nós tivemos o absurdo maior possível de um presidente da República denunciado por toda forma de crime, toda ação criminosa, que, entre 2021 e 2023, no início de 2023, em tudo trabalhou, de acordo com a Procuradoria-Geral da República, para impedir que outra pessoa, que outro candidato assumisse a Presidência da República […]. Um capitão que foi expulso do Exército por mau comportamento, um péssimo militar, um péssimo presidente, comandou generais e oficiais para tentar um golpe militar contra a Constituição e contra o Brasil”, disse.
Queda da popularidade do presidente Lula
Questionada sobre as recentes pesquisas que mostram uma queda abrupta da popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que mostrou aprovação de apenas 24%, Rosário justificou que há “vários fatores articulados” que explicam a queda.
“Uma campanha sórdida e a mudança, inclusive, nos padrões de colocação das matérias na Internet, através dos algoritmos. Então a gente teve uma construção da imagem sobre o tema do Pix [polêmica sobre a fiscalização da Receita Federal de valores acima de R$ 5 mil] que não tinha nada a ver com a verdade, mas foi, por dentro das diversas camadas sociais, sendo utilizada”, pontuou.
Apesar disso, a deputada também fez um mea-culpa sobre a gestão do partido em relação ao preço dos alimentos.
“O Brasil abriu muitos mercados fora, e não tinha uma política de abastecimento. Está sendo retomado tudo com a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento]. Então está muito claro para a gente que é preciso baixar o preço dos alimentos no mercado para a população. A carne, sobretudo os ovos, são matérias que a gente se preocupa pela qualidade de vida que é assegurada ou retirada da população. Mas a perspectiva nesse terreno é positiva, de reverter os problemas que estão existindo. Agora nós estamos indo para uma ofensiva muito grande”, prometeu.
Artigo original publicado em Sputnik Brasil.
