No dia de 17 de março, nosso mandato do Bem Viver promoveu uma reunião especial na Câmara Municipal de Belo Horizonte dedicada à memória e à luta das mulheres que resistiram à ditadura civil-militar. O evento homenageou companheiras que participaram do Movimento Feminino pela Anistia e, também, militantes, presas e exiladas de Minas Gerais, que estiveram na linha de frente das ações políticas da época.
Muitas delas eram o que podemos chamar de mulheres comuns – mães, filhas, irmãs, esposas, trabalhadoras –, que se tornaram faróis de resistência, enfrentando a opressão com coragem.
Assim, nossa atividade buscou dar relevo à luta coletiva, da qual surgiu um marco fundamental: o Movimento Feminino pela Anistia, em 1977. Esse movimento foi imprescindível para que famílias conseguissem notícias de seus familiares desaparecidos. Além disso, ajudou a formar uma rede internacional de denúncias, pressionando as autoridades brasileiras e contribuindo para a aprovação da lei de anistia. Embora a lei tenha sido aprovada de forma ampla e irrestrita, seu maior legado foi possibilitar o retorno ao país de exiladas e exilados políticos.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
Durante a ditadura, muitas dessas mulheres enfrentaram violências inimagináveis. Conforme aponta o Relatório Final da Comissão da Verdade em Minas Gerais (1964-1988), publicado em 2017, muitas foram privadas de liberdade, presas e barbaramente torturadas. Nota-se que a tortura praticada contra as mulheres era caracterizada pelo uso de práticas de extrema perversidade. Seus corpos eram sujeitos a violências sexuais e físicas diversas, e elas eram expostas a um sofrimento psíquico sem precedentes, com seus filhos ameaçados de morte e, por vezes, até obrigados a presenciar as sessões de tortura.
Movimento Feminino pela Anistia teve papel importante na luta contra a ditadura
Destaco aqui um trecho do referido relatório: “Se o exercício de construção de uma memória coletiva da repressão militar é de suma importância para a superação dos vestígios que perduram até os dias de hoje, compreender a dimensão sexista da ditadura é duplamente importante. O apagamento da história de mulheres militantes e que participaram da resistência tem o efeito de reduzir o papel histórico por elas empenhado, e contribui para a consolidação da visão da mulher como um ser não político, recluso ao ambiente doméstico”.
Subversivas
Se hoje temos conhecimento do que se passou, muito se deve às mulheres. Assim, ao resgatar a memória da resistência feminina durante a ditadura, pretendíamos honrar aquelas que, mesmo diante da violência e da opressão, desafiaram os papéis tradicionais de gênero e abriram caminhos para conquistas políticas que hoje nos permitem ocupar espaços de poder.
Uma dessas mulheres é nossa conterrânea, que foi presa e torturada quando estudante da mesma Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG onde me formei, e que se tornou a primeira presidenta da república: Dilma Rousseff. Sua trajetória nos inspira a todas na luta por liberdade e por um país mais justo e democrático.
A realização do encontro do dia 17, cuja gravação encontra-se disponível aqui, foi uma forma de reafirmar nosso compromisso com a vida das mulheres. Temos muito orgulho de dar seguimento à luta de tantas subversivas – para utilizar a expressão que dá nome ao filme de Fernanda Vidigal, exibido em parte durante a sessão especial.
Entendo que se hoje estou vereadora do PT em Belo Horizonte é porque muitas mulheres lutaram por nossa existência e por nossos direitos. A elas, nosso reconhecimento e admiração. Seguimos atentas e fortes!
Luiza Dulci é vereadora em Belo Horizonte pelo Partido dos Trabalhadores (PT), economista e doutora em sociologia. Constrói o Movimento Bem Viver MG e integra a rede de jovens economistas “Desajuste – Economia Fora da Curva”.
—
Leia outros artigos de Luiza Dulci em sua coluna no Brasil de Fato MG
—Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal