A trajetória do Instituto dos Arquitetos do Brasil, departamento Distrito Federal (IAB-DF), que celebra 65 anos em 2025, se confunde com a própria história da capital federal. As contribuições do instituto para Brasília foram reconhecidas na Câmara Legislativa do DF (CLDF), na última sexta-feira (11), em sessão presidida pelo deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF).
O compromisso histórico do IAB-DF com a preservação da capital e com o enfrentamento às desigualdades sociais foi destacado pelo parlamentar. Recentemente, o instituto atuou intensamente nas discussões para aprovação do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB).
“[Foi] uma luta árdua contra a especulação imobiliária predatória que se instalou em vários dos nossos poderes, mas especialmente no poder legislativo, de forma muito brutal, tentando destruir Brasília como patrimônio da humanidade, numa perspectiva absolutamente equivocada sobre a lógica de cidade, onde retira os direitos das pessoas: o direito à cidade, à mobilidade. E o IAB foi um grande aliado nesse processo, mas também no enfrentamento das desigualdades sociais”, relembrou Felix.
Para ilustrar a dimensão da desigualdade territorial no DF, o parlamentar apresentou dados em relação ao plantio de árvores. Nos últimos seis anos, segundo Felix, enquanto na região administrativa do Plano Piloto foram plantadas 56 mil árvores, Ceilândia recebeu apenas 4 mil, apesar de concentrar um contingente populacional muito maior.
“Isso mostra o tamanho da nossa desigualdade territorial, a forma como a cidade foi formada, institucionalizou e legitimou a exclusão social. E o IAB tem sido um aliado nas reflexões constantes de direito à cidade”, destacou o deputado.
Contribuições históricas
O IAB-DF foi criado em março de 1960, em uma reunião na casa do arquiteto Wilson Reis Neto, e foi essencial na promoção do concurso para a construção da nova capital do país.
“O IAB é formado por todos os seres humanos que, desde a fundação e durante todo o caminho, permitiram que o processo de construção do instituto seguisse sempre de forma extremamente democrática”, evidenciou a arquiteta Angelina Nardelli.
A valorização da arquitetura como uma expressão cultural e a defesa da realização de concurso público para a escolha de projetos de edificações e obras urbanísticas estão entre as principais bandeiras de luta do IAB-DF ao longo de seus 65 anos de atuação. Durante a década de 90, o instituto lançou a campanha Arquitetura de edifício público tem que ter concurso público, que influenciou a construção do Parque Ecológico Norte e do novo prédio da Câmara Legislativa.
“No IAB foi onde eu aprendi todos os sabores do que é a democracia, de como a gente consegue realmente conduzir grupos de pessoas em prol de diversas bandeiras essenciais para a consolidação de cidades dignas, espaços justos e econômicos para as pessoas”, afirmou a conselheira do IAB-DF Luiza Coelho, que participa do instituto há seis anos.
A pauta ambiental também permeia as discussões promovidas ao longo das décadas pelo IAB-DF. O instituto combateu a proliferação de loteamentos irregulares, que ameaçam o abastecimento de água e a preservação do Cerrado.
“Nós atuamos para que o espaço construído no DF seja cada vez mais digno e mais sustentável, que é algo absolutamente fundamental no momento de emergência climática. E que seja também mais belo. Porque a beleza é algo fundamental. Ter espaços belos construídos é ter dignidade na vida cotidiana, e é algo que toda e todo cidadão brasileiro merece”, destacou o presidente do IAB-DF, Luiz Eduardo Sarmento.
O instituto também teve atuação intensa na luta por democracia durante os períodos ditatoriais da Era Vargas e do regime militar de 1964. “O IAB historicamente atua na defesa e na radicalização da democracia”, apontou Sarmento.
“A ditadura atacou Brasília, atacou a UnB quase de morte, atacou direitos civis, direito à organização e à liberdade de expressão, e atacou a vida das pessoas que foram brutalmente assassinadas pelo regime. O IAB teve papel fundamental nas denúncias, inclusive se organizando e articulando internacionalmente para proteger a população brasileira e os arquitetos e arquitetos”, relatou o presidente.
IAB é membro fundador da União Internacional de Arquitetos (UIA), órgão consultivo da Unesco para assuntos relativos ao habitat e à qualidade do espaço construído, além de integrar o Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa (Cialp) e a Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos (Fapaa).
Por meio da direção nacional, o instituto tem representantes nos órgãos da administração federal e se vincula a entidades internacionais, participando de missões diplomáticas e representando organismos internacionais sediados no Brasil e no exterior, promovendo a arquitetura e o urbanismo brasileiros e incentivando trocas culturais.
“O IAB é resistência também contra as mazelas do poder público e do mercado, que sempre tentam destruir as nossas cidades e o nosso meio ambiente, que expulsam os mais pobres a cada dia para lugares mais longes dos centros urbanos, com transporte oferecido de forma muito precária para a maior parte da nossa população, que mora longe e é empobrecida. Que deixam pessoas sem áreas verdes, sem equipamentos culturais, sem áreas livres e, inclusive, sem serviços públicos dos mais básicos, como os da área de saúde e da educação”, concluiu Sarmento.
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