A colheita recorde de arroz agroecológico do MST do Rio Grande do Sul, neste ano, traz esperança aos assentados após as inúmeras perdas com a grande enchente de 2024. Para os agricultores e as agricultoras, o segredo da recuperação após as lavouras ficarem inundadas está nas práticas agroecológicas de fortalecimento do solo e das plantas. Entre elas está o uso de bioinsumos, que melhoram a qualidade da produção de forma saudável.
Nesta segunda reportagem da série realizada no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, o Bem Viver, programa do Brasil de Fato, conheceu de perto a Unidade de Produção de Bioinsumos Ana Primavesi. A biofábrica foi inaugurada pelo MST em 2023 para aliar tecnologia e conhecimento camponês a serviço das famílias.

Os resultados positivos são visíveis na biofábrica, como conta o agricultor Ivan Carlos Pereira. “A gente vê na hora a questão da produtividade da semente e do rendimento do grão. Com isso, nós vamos ter um grão melhor, um grão mais inteiro. A nossa produção está vindo boa.”
O agricultor assentado e coordenador do processo de produção da biofábrica, Marcos Dione dos Reis, explica que os bioinsumos são feitos a partir de serrapilheira de mata nativa, a camada de restos vegetais que se acumula naturalmente em áreas florestais. Com tecnologia, microrganismos benéficos para o plantio são selecionados e reproduzidos para entrarem nessa “receita”.
Seleção e multiplicação de microrganismos
Reis abriu as portas da biofábrica e mostrou todo o processo de produção. Com a matéria prima na mão, ele explica que a tecnologia consiste em reproduzir bactérias benéficas para o solo e as plantas. “Aqui, a gente tem uma diversidade de microrganismos que a gente vai levar para a receita de composto e multiplicar. A ideia é a gente fazer uma seleção da biologia de interesse nesse processo.”
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Mostrando outra fase do processo, ele comenta que é na maturação do composto que ocorre a multiplicação da microbiologia selecionada anteriormente. “Aqui, nesse composto, ela vai ser multiplicada, fica em torno de seis meses sem fazer adição nenhuma de alimentação. Se fizer alimentação, vai antecipar esse tempo.”
Com o composto nas mãos, o assentado mostra a macrofauna presente e se movimentando. “Ela está aqui, por exemplo, esse daqui é o mais conhecido como piolho de cobra”, aponta. Segundo ele, a macrofauna só está presente em solos de alta qualidade.
Reis explica que “o composto biocompleto visa recolocar a microbiologia” nos locais de produção. O objetivo é “aproximar a área de produção agroecológica do sistema natural, de uma mata nativa preservada.”
Ele mostra também outro produto derivado do processo de produção do bioinsumo, o chá biocompleto. “A gente coloca aqui o composto e extrai para a água. Toda a biologia de interesse sai para essa água”, destaca.
Segundo ele, o produto cria um biofilme na planta. “A primeira ação é por competição. Com um alto nível de biologia boa, ele acaba criando um biofilme na planta e protege a planta. Ou seja, os poros e fungos patogênicos não conseguem acessar porque esse biofilme protege.”
Contraponto à lógica da contaminação contínua
O coordenador do processo de produção compara que enquanto a agroecologia está ligada à relação do ser humano com a natureza, os agrotóxicos reproduzem uma lógica de contaminação contínua. O que afeta os trabalhadores rurais, os recursos naturais, a fauna, a flora e quem consome os alimentos com excessos químicos.
“O composto biocompleto regula e equilibra. A ação do agrotóxico, do fungicida e do inseticida desequilibra, deixa uma porta aberta. Você acaba entrando num ciclo de aplicar um produto, você vai ter que usar outro, você vai ter que usar outro, outro, outro. A cultura fica dependente de ação da indústria, de produtos da indústria. É um pacote que dá lucro para a indústria, ela não visa equilibrar o sistema”, avalia.
Motivação para seguir com a agroecologia
O sucesso no uso dos bioinsumos serve também para motivar os assentados a seguir o trabalho. “Nós entramos com a tecnologia de bioinsumos nas lavouras e é possível a observar que há um diferencial das lavouras que receberam os tratamentos biológicos em vista das que não receberam. Tantos em termos de sanidade das lavouras, de produtividade e também de parte motivacional. Porque o agricultor observando que a lavoura dele está boa, está bem, motiva a ele trabalhar, a ele cuidar.”
Os preparados feitos na Fábrica de Bioinsumos Ana Primavesi são mais uma das ações do MST que visam não somente aumento de produção, mas a transformação da agricultura e da relação do ser humano com a natureza. “É nessa situação que o Movimento Sem Terra tem cumprido o seu papel significativo, que é de realizar e cumprir um serviço para a sociedade, que é trabalhar com a agroecologia, potencializar os processos produtivos naturais, equilibrar essa relação humana natureza, é plantar árvores, é produzir alimentos de qualidade”, finaliza o agricultor.

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