Enquanto os efeitos da crise climática se intensificam em todo o mundo, iniciativas locais no Distrito Federal vêm mostrando que a transição socioambiental passa pela educação, pela formação técnica e pelo protagonismo das comunidades.
Integrantes do Fórum de Defesa das Águas, do Clima e do Meio Ambiente do DF têm articulado projetos voltados à capacitação de moradores em regiões vulneráveis, com foco na geração de trabalho, renda e soluções sustentáveis para o enfrentamento das desigualdades e dos impactos ambientais.
Duas dessas iniciativas vêm ganhando destaque: o Curso de Formação em Energia Fotovoltaica, promovido pela Associação Alternativa Terrazul, e o Projeto “Jardins de Chuva na Serrinha Aprendendo Cuidar das Águas”, desenvolvido pelo Instituto Oca do Sol. Ambas entidades estão alinhadas com os princípios de justiça climática e direito à cidade, pilares centrais das ações do Fórum.
Formação em Energia Fotovoltaica com o MST: capacitação que transforma realidades
Com apoio do Ministério do Trabalho e Emprego, por meio do Programa Joaquim Quirino, a Associação Alternativa Terrazul está promovendo cursos gratuitos de energia solar fotovoltaica em diversas Regiões Administrativas do DF. O objetivo é capacitar 750 pessoas para atuarem em um dos setores que mais cresce no país.
O curso tem carga horária de 60 horas, com foco em aulas práticas e uso de equipamentos específicos de sistemas solares on grid e off grid. Até agora, já foram realizadas turmas no Varjão e na Estrutural, e atualmente estão em andamento duas turmas em Brazlândia: uma no Centro Educacional 2 e outra no Centro de Formação Gabriela Monteiro, localizado em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Esta última se destaca não apenas pela localização estratégica, mas também pela expressiva participação feminina, com 46% de mulheres entre os 46 inscritos. O curso estimula debates sobre aplicação da energia solar nos próprios assentamentos, incluindo desde sistemas de irrigação e eletrificação residencial até soluções como potabilização da água com filtros UV. Também estão sendo discutidas alternativas de organização comunitária, como a criação de cooperativas de trabalho e até mesmo a produção popular de painéis solares.
Segundo Artur Moret, coordenador pedagógico do curso, “os companheiros e companheiras do MST são potenciais criadores e implantadores de soluções tecnológicas e sociais inovadoras com energia solar fotovoltaica para resolver demandas reprimidas dos assentamentos.”
A certificação das turmas de Brazlândia está prevista para abril, com a presença de representantes da Alternativa Terrazul, do Fórum de Defesa das Águas , do Clima e Meio Ambiente do DF, do Ministério do Trabalho e do MST. Ainda nesta fase inicial, o curso será levado para outras quatro regiões: Sol Nascente, Ceilândia, Riacho Fundo 2 e Samambaia.
Jardins de Chuva: soluções baseadas na natureza para recuperar o Cerrado e a infiltração do solo.
Outra frente de atuação apoiada pelo Fórum é o projeto do Instituto Oca do Sol, que promove a implantação de seis Jardins de Chuva em áreas degradadas e impermeabilizadas na Serrinha do Paranoá.
A proposta é simples e poderosa: transformar locais áridos e propensos a alagamentos em espaços verdes que aumentam a infiltração da água no solo, reduzem o escoamento superficial e ajudam a alimentar os aquíferos subterrâneos.
Os Jardins de Chuva são pensados como ações comunitárias de educação ambiental e requalificação urbana, especialmente em territórios onde a ocupação urbana precária compromete o ciclo da água e a qualidade de vida. A iniciativa promove oficinas práticas com moradores, especialmente jovens e mulheres, ensinando a construir essas infraestruturas verdes com materiais simples e de baixo custo.
Essas tecnologias sociais contribuiem diretamente para a proteção das nascentes e para o combate às ilhas de calor urbano, além de fortalecer o vínculo da população com o território e a natureza. Neste Projeto, a Ciência Cidadã, objetiva contribuir para que os moradores busquem a melhoria ou manutenção dos ecossistemas aquáticos e dos bens e serviços ambientais que eles oferecem. Exercitando a cidadania por meio de ações que melhorem sua qualidade de vida.
Formação popular e justiça climática como caminhos
Tanto o curso de energia solar da Terrazul quanto o projeto de Jardins de Chuva da Oca do Sol expressam, na prática, o espírito do Fórum de Defesa das Águas, do Clima e do Meio Ambiente do DF: articular saberes, formar lideranças e promover justiça climática com base na organização popular e no fortalecimento das comunidades.
Em um momento em que o Distrito Federal discute a revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), essas iniciativas ganham ainda mais importância, pois demonstram que o futuro sustentável do DF passa pela educação, pela participação social e pela valorização dos territórios periféricos e seus modos de vida.
*Lúcia Mendes é coordenadora do Fórum de Defesa das Águas , do Clima e Meio Ambiente do DF.
** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato – DF.