A participação indígena do Paraná no Acampamento Terra Livre (ATL) deste ano, em Brasília, foi reduzida drasticamente. Segundo lideranças Guarani do Paraná, menos de 200 pessoas do estado conseguiram se deslocar para a mobilização, o número representa menos da metade da média registrada em anos anteriores, quando mais de 400 indígenas compunham a delegação.
O motivo, afirmam, é a falta de recursos e de apoio logístico. “As delegações do Sul se organizaram a partir da Articulação de Povos Indígenas da Região Sul (ArpinSul), uma das artculações base da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). As comunidades que têm condições se mobilizam não só localmente, mas com outras aldeias para conseguir uma van, alimentação durante a viagem e algum apoio para levar as delegações”, explica Eloy Jacintho, liderança Guarani Nhandewa.
“Os territórios no Paraná são mais carentes de recursos. O que conseguimos vem de articulações com apoiadores, ONGs e, raramente, sindicatos. Dessa vez, eu não identifiquei nenhum partido ajudando. A gente se movimenta como pode”, diz Jacintho.
Além da dificuldade para participar do ATL, lideranças denunciam o avanço de empreendimentos sobre terras tradicionais. A situação é considerada crítica na Terra Indígena Guasu Guavirá, localizada no oeste do Paraná.
Conflitos no oeste do Paraná
Segundo Ilson Soares Karai, liderança na Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá, no oeste do Paraná, a região tem sido alvo constante de conflitos territóriais. “A gente teve várias agendas com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com o
Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e também com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH), sempre levando a temática do oeste. Falamos dos conflitos, os problemas e as violências que a gente vem sofrendo.”
Karai afirma que o MDH incluiu lideranças da TI Guasu Guavirá no Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos e tem atuado para dar visibilidade às violações. “Estão colhendo materiais para publicizar essas situações e tentando entrar em diálogo com as prefeituras de Guaíra e Terra Roxa, para ver qual a melhor forma de facilitar a vida dos Guarani nessa questão fundiária.”
Entre os principais impasses está a construção de um parque industrial dentro da TI, conforme relatado pela comunidade. “Com o MPI, tivemos uma agenda para tratar dessa obra. Pedimos a suspensão e também o estudo do componente indígena, que respeite as leis do trabalho”, diz Karai.
A Funai também foi acionada devido à sobreposição de linhas de transmissão sobre áreas indígenas. “Pedimos que estejam sempre nos auxiliando nessa questão fundiária. Os conflitos têm aumentado.”
A luta pelo território e a resistência ao marco temporal seguem no centro das pautas do movimento indígena. Para Eloy Jacintho, o ATL tem raízes nas demandas da região Sul. “O ATL começa por uma demanda da região Sul, porque aqui são as maiores dificuldades de território. O marco temporal nasce da luta do povo Xokleng, de Santa Catarina, e repercute nacionalmente. Por isso, essas são as pautas que a região Sul vai se debruçar mais.”