O Vaticano publicou nota no início desta manhã (21) informando a morte do papa Francisco. O anúncio foi dado diretamente da Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, pelo cardeal Kevin Joseph Farrell, camerlengo da Câmara Apostólica: “Às 7h35 desta manhã (2h35 no Brasil), o bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”.
“Ele nos ensinou a viver os valores do evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, afirmou Farrell na publicação, compartilhada no site VaticanNews.

Durante a celebração do Domingo de Páscoa (20), o pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem Urbi et Orbi, deixando suas últimas palavras para a Igreja e o mundo. Francisco, acenou ao público e desejou uma “feliz Páscoa” a todos os fiéis que acompanhavam a cerimônia. Logo após, ele passou a palavra para Monsenhor Diego Ravelli, mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, ler seu discurso, onde deixou um apelo para que cessem as guerras, de modo especial no território de Gaza.
No texto, Francisco denunciou “uma situação humanitária dramática e ignóbil” em Gaza e pediu um cessar-fogo. Também disse que “é preocupante o crescente clima de antissemitismo que está a se espalhar por todo o mundo”.
“Não é possível haver paz onde não há liberdade religiosa ou onde não há liberdade de pensamento nem de expressão, nem respeito pela opinião dos outros”, destacou o pontífice em sua bênção.
Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 17 de dezembro de 1936. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 28 de fevereiro de 1998 e foi elevado ao cardinalato em 21 de fevereiro de 2001 – véspera da festa da Cátedra de São Pedro – com o título de Cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino, por São João Paulo II. Foi eleito papa em 13 de março de 2013, escolhendo o nome de Francisco (Franciscus) com o qual orientou a igreja Católica durante o seu papado que encerrou nesta segunda-feira (21) .

Presidente da CNBB exalta legado e espera continuidade
O cardeal Dom Jaime Spengler, bispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou em entrevista a uma emissora de rádio gaúcha na manhã dessa segunda (21), que a notícia do falecimento do papa surpreendeu a igreja.
Questionado quanto ao legado que Francisco deixa, Spengler relembra que nas palavras de Francisco sempre estava presente a alegria: “A alegria do evangelho, da verdade e do amor”. Citou ainda a reflexão a respeito do meio ambiente, a disposição para louvar, a busca da santidade, a proximidade com os jovens e a reflexão sobre a razão do amor.
Comentando sobre a aparição pública de Francisco na celebração do domingo de Páscoa e o gesto executado em passar em meio ao público utilizando o “papamóvel”, Dom Jaime sintetizou como era Francisco: “Um homem apaixonado pelo seu povo, desejoso de estar próximo desse povo, um homem do evangelho. Essa participação no domingo de Páscoa foi uma espécie de despedida desse povo o qual ele amou e dedicou toda a vida”.
A respeito do Conclave vindouro, que deverá escolher o novo papa, Cardeal Spengler disse que é difícil prever qualquer indicativo. “Desejaria, sim, e faço votos que quem vier a ser escolhido seja capaz de levar adiante esse processo que o papa Francisco conduziu até aqui, especialmente por meio da celebração do último sínodo, que envolveu a Igreja em todos os continentes. Espero, faço votos e rezo que seja escolhido alguém que possa dar continuidade a esse itinerário magnífico conduzido por Francisco.”
Testamento reforça simplicidade, gratidão e desejo de paz
No início da tarde o Vaticano divulgou a causa da morte (Acidente Vascular Cerebral, seguido por coma e colapso cardiorrespiratório irreversível) e os detalhes do testamento de Francisco. Na carta expressou apenas o desejo do local onde deverá ser construída sua sepultura: “Sempre confiei a minha vida e o ministério sacerdotal e episcopal à Mãe do Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem, esperando o dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior”. A orientação é de que seja feita uma lápide simples, no chão, e colocada apenas a inscrição “Franciscus” (“Francisco”, em latim). Inclusive os custos para a obra necessária deverão ser custeados por um amigo benemérito, sem deixar despesas ao Vaticano ou à basílica.
Nas linhas finais, o agradecimento derradeiro, a proposição de significado aos sofrimentos enfrentados e novamente o pedido por paz no mundo: “Que o Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me quiseram bem e que continuarão a rezar por mim. O sofrimento que esteve presente na última parte de minha vida eu o ofereço ao Senhor pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos”.
Francisco esteve ao lado do povo simples
Francisco foi o papa que esteve mais próximo das lutas do povo simples, lembrando que o cristianismo não iniciou nas suntuosas catedrais e sim na simplicidade dos espaços periféricos. “Terra, teto e trabalho – isso pelo qual vocês lutam – são direitos sagrados. Reivindicar isso não é nada raro, é a doutrina social da igreja”, afirmou nos encontros com os movimentos, realizados em Roma e na Bolívia. Francisco nunca deixou de fazer sentir a sua proximidade aos movimentos populares, apoiando e incentivando o seu trabalho em nome da dignidade humana, da justiça social, do desenvolvimento dos mais pobres e dos descartados.
“A globalização da esperança que nasce do povo e cresce entre os pobres deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença!”, declarou. Propôs à sociedade “três grandes tarefas que requerem o apoio decisivo de todos os movimentos populares: colocar a economia a serviço do povo, uni-los no caminho da paz e da justiça e defender a Mãe Terra”.
Frei Sérgio Görgen, dirigente do Instituto Cultural Padre Josimo, diz que “Francisco foi um Papa que marcou pela simplicidade, pela autenticidade na vivência do Evangelho e pela visão de futuro nos temas ambientais e no modo de ser da Igreja”. Acrescentou ainda que “os impactos de sua passagem se prolongarão pelos próximos anos”.
João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), encontrou-se com Francisco em 2024, em evento realizado na cidade de Verona, na Itália. O encontro teve a participação de representantes da sociedade civil, movimentos e associações engajados na construção da paz. Naquela oportunidade citou o bispo Pedro Casaldáliga, que teve atuação de destaque na defesa dos direitos humanos, em especial das populações marginalizadas. “Malditas sejam todas as cercas. Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar”, falou Stedile. Na mesma cerimônia, o papa Francisco abençoou a bandeira do MST.
Assista ao pronunciamento do Camerlengo.
