Em entrevista ao programa Conexão BdF, do Brasil de Fato, o frade franciscano Frei David Santos destacou o legado do papa Francisco após sua morte, com ênfase no compromisso do pontífice em aproximar a Igreja Católica do mundo moderno. “O principal legado foi a atualização de como praticar o evangelho. Ele foi extremamente límpido desde o início”, afirma o teólogo.
Como exemplo, Frei David lembrou a visita do papa à ilha de Lampedusa, na Itália, em 2013, onde Francisco se encontrou com refugiados africanos que arriscavam a vida na travessia pelo Mediterrâneo. “Ele mostrou que acolher refugiados era a maneira mais límpida de provar que o evangelho estava sendo colocado em prática”, avalia.
O religioso também recordou o apelo do papa aos líderes europeus, na ocasião, para que reconhecessem sua responsabilidade histórica diante da miséria no continente africano, fruto da colonização. “Não compreendo como é possível um cristão não perceber nos passos do papa Francisco essa profunda atualização da prática do evangelho”, critica Frei David, ao comentar a resistência de setores conservadores da Igreja à postura do pontífice.
“O Papa estava sendo um evangelizador nato, levava a missão de Jesus para que todos refletissem e não cometeu o erro de outros papas, que foram mais influenciados pelos erros do mundo do que comprometidos em levar ao mundo o caminho que Jesus apontou. Se Jesus não quisesse esse caminho que o papa Francisco apresenta, ele não teria morrido na cruz, mas talvez na cama, de velhice”, complementa.
Uma das representações dessa atualização que Francisco tanto buscava, na visão do frade, é o jovem Carlo Acutis, que teve a sua simbólica canonização, prevista para o próximo domingo (27), adiada após a morte do papa. Considerado o “padroeiro da internet”, Acutis, aos 15 anos, é “um jovem santo que fala a linguagem do nosso tempo”, explica.
Angústia pelo conclave
Para Frei David, a Igreja agora vive um momento decisivo: a escolha de um novo papa. Entre os possíveis caminhos, ele menciona três correntes: a ultra conservadora, que se apega a uma liturgia ultrapassada; os moderados, que podem buscar avanços mais cautelosos; e os progressistas, que defendem uma nova leitura do Evangelho para dialogar com o mundo contemporâneo. Entre as lideranças progressistas, ele cita o cardeal filipino Luis Antonio Tagle e o italiano Matteo Zuppi, prefeito do Dicastério para a Evangelização.
A esperança e “angústia que atravessa nossos corações”, segundo o frade, é que o sucessor de Francisco esteja à altura do desafio. “Queremos muito que nossos irmãos cardeais permitam que o espírito de Deus os conduza, e não o espírito do mundo. Que não escolham por ideologia, mas por aquele que melhor vai trazer o vigor vivo do evangelho de Jesus Cristo”, torce.
De acordo com ele, o papa Francisco manteve firmeza em sua missão evangelizadora ao mesmo tempo em que buscou diálogo com diferentes correntes dentro da Igreja. “Mesmo sendo progressista, escolheu cardeais de centro, direita e esquerda. Não manipulou o colégio cardinalício”, ressalta.
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