A encíclica Laudato Si’, publicada pelo papa Francisco em 2015, continua sendo um marco no debate ambiental global. Em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, o professor da USP Wagner Ribeiro, especialista em geografia humana e ambiental, o documento foi essencial ao dar visibilidade à literatura crítica latino-americana, mesmo sem citar autores diretamente.
“Reconheço ali a influência de colegas da sociologia, geografia, ciência política, ecologia do México, Brasil, Chile, Argentina… Francisco catalisa essa documentação toda. […] Com esse documento, o papa recupera e dá visibilidade a uma importante literatura latino-americana crítica, do socioambientalismo.”
A publicação afirma a centralidade da crise climática e ao propõe uma saída coletiva, multilateral e baseada na justiça socioambiental. “Esse documento traz uma constatação fundamental, que é a ideia de que nós temos uma casa comum: o planeta Terra, um sistema complexo, no qual estamos todos inseridos. E, mais que isso, ele aponta problemas concretos: a questão da água, o tema das mudanças climáticas…”, destacou Ribeiro.
Entre os pontos centrais da Laudato Si’, Ribeiro destaca a crítica à lógica de consumo dos países centrais e a defesa do princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”: todos devem agir contra a crise climática, mas quem poluiu mais historicamente – as grandes potências – precisa fazer mais, inclusive com repasses de recursos aos países mais vulneráveis.
“O papa lembrou que, na crise dos bancos de 2008, o dinheiro apareceu para salvar o sistema financeiro internacional. Por que não aparece agora para salvar o planeta?”, questiona o professor, ao mencionar um trecho da encíclica.
Para Ribeiro, o documento representa uma proposta multidimensional, que conecta espiritualidade, política, economia e justiça social. “Inclusive, do meu ponto de vista, isso o levou ser chamado de ‘papa comunista’, entre outros adjetivos que realmente não fazem sentido”, diz. “Ele apostou no multilateralismo, nas convenções internacionais, ou seja, no diálogo para que nós possamos sair dessa crise estrutural, sistêmica que afeta a a todos nós”, resume.
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