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‘É um desafio’, afirma diretor do Ministério do Meio Ambiente sobre incluir Caatinga na pauta da COP30

Estudo publicado recentemente mostra tendência de desertificação em território entre Bahia e Pernambuco

Um dos principais destaques da COP30 no Brasil é ter uma cidade amazônica como sede do evento sobre mudanças climáticas. Essa característica, porém, é alvo de preocupação entre os membros do Ministério do Meio Ambiente pelo risco de que as discussões se concentrem na preservação da Amazônia, e ignorem a situação de outros biomas.

Quem explica é Alexandre Pires, diretor de combate à desertificação da pasta. “O risco da atenção ficar centrado na Amazônia é grande. Eu acho que o grande desafio para nós é também mostrar que a atenção precisa ser partilhada para os outros biomas, porque nós somos um dos países mais biodiversos do mundo”, afirma em entrevista ao Conversa Bem Viver desta segunda-feira (28), Dia Nacional da Caatinga.

A Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas acontece em novembro, em Belém do Pará. O evento faz parte de uma das ações de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando ainda era candidato ao seu terceiro mandato.

“Do ponto de vista ecológico, do ponto de vista ecossistêmico, os biomas vivem em coodependência. Porque a natureza é assim, ela é complexa e completa. A gente é quem faz essa separação, Caatinga, da Amazônia e tal”, conclui Pires.

Confira a entrevista na íntegra

Por que podemos dizer que a Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro?

Quando a gente está falando de exclusividade é porque tem determinadas espécies de plantas e de animais dentro de um arranjo, de uma composição de ambiente, solo, disponibilidade hídrica, que só existe no Brasil, em nenhum outro lugar do mundo existe essa formação de ambiente natural e, obviamente, com toda a riqueza cultural, com toda a riqueza de povos, a diversidade de povos que têm a Caatinga.

Então, nós estamos falando de um bioma onde tem centenas de espécies de plantas, espécies de animais, de répteis, de árvores, de mamíferos. Mas a gente está falando também de um ambiente, e eu gosto sempre de enfatizar isso, onde tem a segunda maior população indígena do Brasil.

É também na Caatinga onde a gente concentra uma grande quantidade das comunidades de Fundo e Fecho de Pasto, que são comunidades tradicionais.

As pessoas às vezes imaginam que a Caatinga como um ambiente sem água, mas a Caatinga tem muita água. A Caatinga não é só aquele ambiente que os grandes meios de comunicação, às vezes, mostram de forma mais explícita do momento seco, do momento de estiagem. A Caatinga também tem verde, a Caatinga também tem água.

É o segundo bioma com o maior número de municípios, ou seja, são aproximadamente 28 milhões de pessoas vivendo em 1.095 municípios. Além do fato de que nesse território existem 1 milhão e 400 mil estabelecimentos da agricultura familiar.

Ou seja, dos quase 4 milhões de estabelecimentos da agricultura familiar que a gente tem no Brasil, 1 milhão e 400 estão na Caatinga. Então, isso mostra essa potência que a Caatinga tem para viver e para produzir.

O senhor acredita que há uma intenção de mostrar a Caatinga como um território seco?

O processo de colonização do Brasil passou por um momento de interiorização, que foi a chegada, por exemplo, à Caatinga, para criação bovina, a criação de gado.

Se definiu essa região longe do litoral como sertão, e o sertão, do ponto de vista semântico, ou seja, do ponto de vista conceitual, da expressão da palavra sertão, é aquele lugar distante, aquele lugar que quase não se vê.

E uma das formas que os colonizadores encontraram para expandir seus territórios com a criação de gado bovino foi exatamente desconstruir o potencial existente neste território semiárido, ou seja, desterritorializar os povos indígenas, os povos originários que já viviam neste ambiente.

Esse modelo de colonização gerou muita miséria, gerou muita pobreza e dentro dos ciclos econômicos do algodão, do gado, gerou crescimento populacional, mas não houve um crescimento do atendimento do Estado brasileiro para essas populações.

Então enquanto elas tinham um emprego na fazenda, muitas vezes, trabalhando pela moradia e pela comida, estava tudo bem, mas, depois que elas não tinham mais esse trabalho, na medida em que o ciclo da criação de gado se encerrava, essas pessoas ficavam sem atenção do Estado.

Mas tem muito de construção de narrativa, quantas vezes você viu em jornais, TV e afins imagens de seca na Caatinga? E nós temos períodos de chuva, de muita água

Como as mudanças do clima têm afetado o bioma?

Na Caatinga, o ciclo esperado são oito meses de estiagem e quatro meses de chuva. Mas os próprios agricultores camponeses, as comunidades tradicionais que vivem na Caatinga ou no Semiárido já não estão certo desses períodos.

E por que tem mudado? Porque o aquecimento global é uma realidade. O consumo de combustíveis fósseis no Brasil e no mundo é uma realidade.

E o fato de a gente estar aumentando a temperatura do planeta está fazendo com que a disponibilidade de água nos ambientes seja cada vez mais rara.

Essa pouca disponibilidade está associada a um processo de degradação do solo, ou seja, o desmatamento, as queimadas irregulares ou constantes, com atividades como da bovinocultura com uso de agrotóxicos que danificam as moléculas e a composição do solo.

O Cemaden, que é o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais, atualizaram para nós os dados sobre as áreas suscetíveis à desertificação no Brasil e identificaram uma área de aproximadamente 6 mil km² entre o estado da Bahia e Pernambuco.

É a primeira vez que a gente tem a identificação de uma área dentro do nosso território com clima árido. O que não significa que está virando um deserto. Ainda não, mas significa dizer que nós estamos com muito menos água disponível do que outras áreas.

O governo teme que as discussões sobre a COP30 fiquem concentradas apenas na realidade da Amazônia?

Esse é um risco. O risco da atenção ficar centrado na Amazônia é grande. Eu acho que o grande desafio para nós é mostrar que a atenção precisa ser partilhada com os outros biomas, porque nós somos um dos países mais biodiversos do mundo.

Do ponto de vista ecológico, do ponto de vista ecossistêmico, os biomas vivem em codependência. Porque a natureza é assim, ela é complexa e completa. A gente é quem faz essa separação, Caatinga, da Amazônia e tal.

A gente viu, no final de 2024, o que foi a seca na região Norte do Brasil, na região amazônica, os rios secaram, as pessoas que transitavam em barcos andaram a pé no leito do rio.

Eu analisei os dados sobre a situação de seca no Brasil e isso também me chamou atenção. As instituições científicas estavam mostrando a seca somente na região Norte, no Centro-oeste, no Sudeste e no Sul do Brasil. E não estavam mostrando a seca no Nordeste, então eu fui atrás dessa informação.

O que é que ocorre? É que o ponto fora da curva está nessas regiões. Porque nós, no Nordeste, nessa região semiárida, já vivemos o contexto de estiagem. Então, as outras regiões estão se aproximando da nossa realidade.

E aí reside um aspecto que eu acho que é extremamente relevante no contexto da COP30, que é como as experiências de convivência com o Semiárido, de produção agroecológica, de uso de tecnologias sociais adaptadas à região semiárida podem contribuir e ser exemplo, para essas outras regiões que não têm a experiência de viver em contextos de secas extremas, que a população do Semiárido brasileiro já aprendeu um bocado de como viver assim.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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