Em 29 de abril de 2015, o Centro Cívico de Curitiba foi palco de um cenário de terror. Mais de 1.400 balas de borracha foram disparadas contra servidores públicos do Paraná, que se manifestavam em defesa de seus direitos. Cerca de 200 pessoas ficaram feridas por projéteis, gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, jatos d’água e spray de pimenta.
Nesta terça-feira (29), completa-se uma década daquele que foi o maior ataque a servidores públicos da história do estado. Em 2015, a mobilização ocorreu contra a reforma da previdência proposta pelo então governador Beto Richa.
Dez anos depois, a violência contra servidores — especialmente professores e funcionários de escolas — persiste, embora sob outras formas.
Balas que agora se traduzem em militarização e privatização.
Tiros de desvalorização, disparados em rajadas constantes.
Bombas que atacam a saúde mental e o direito ao trabalho digno.
Feridas abertas que, sem cicatrizar, recebem novos golpes.
Enfrentamos com firmeza os massacres atuais. Na luta contra a privatização da educação, denunciamos as inúmeras irregularidades e o atropelo do regimento da Assembleia Legislativa, que permitiram a tramitação acelerada do projeto, sem a devida análise nas comissões competentes. Levamos a questão à Justiça, expusemos a fragilidade do projeto impulsionado por Ratinho Junior e estivemos, dia após dia, na linha de frente das escolas, dialogando com a comunidade escolar.
E vencemos: mais de 90% da comunidade rejeitou a privatização. Ainda assim, o governo ignorou a vontade popular e implementou o projeto em 82 unidades. Apesar disso, conseguimos impedir que o dano fosse ainda maior.
O sucateamento da educação pública é um projeto em curso. Antes da luta contra a privatização, em 2023, travamos outra batalha: barrar a expansão das escolas cívico-militares no estado. A mobilização direta junto às instituições foi fundamental para evitar a adoção desse modelo em diversas unidades — o mesmo que hoje avança em São Paulo.
O Paraná serviu de laboratório para o que agora se desenrola em São Paulo, sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Não por acaso, o ex-secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, comanda a pasta no estado. Trata-se de um projeto ideológico, voltado para o enfraquecimento da educação pública.
A privatização e o sucateamento também avançam em Minas Gerais. Não é coincidência que os três estados estejam sob governos neoliberais, que promovem o desmonte do serviço público e favorecem grandes grupos empresariais, em afronta à legislação e à Constituição.
A luta contra o massacre, portanto, continua, pois a educação pública é o bem mais valioso que uma sociedade pode ter. É ela que abre caminhos, transforma destinos e constrói um futuro mais justo para todos.
Nesta semana, esse sonho coletivo ganha ainda mais força: ontem, com o Dia Mundial da Educação, e hoje, neste 29 de abril — datas que nos lembram que a luta por escolas públicas, inclusivas, emancipatórias e de qualidade é urgente e necessária.

*Ana Júlia Ribeiro é deputada estadual e ativista na defesa da educação pública