“… a contagiar aqueles que encontramos no caminho, a confiar a esta esperança o futuro da nossa vida e o destino da humanidade. Por isso, não podemos estacionar o nosso coração nas ilusões deste mundo, nem fechá-lo na tristeza; temos de correr, cheios de alegria.”
Papa Francisco, Páscoa 2025
Há que estar com o coração cheio de luz para falar, algumas horas antes de sua morte, sobre esperança e alegria, sobre as ilusões do mundo e das injustiças da guerra.
Sei que foram anos de muita batalha, imagino que não teria vislumbrado isso quando servia, não só com pão os pobres argentinos. O caminho só ganhou robustez e como nos pegou de surpresa quando seu nome saiu e de Bergoglio nasceu Francisco, aquele que abriu um novo período de sensibilidade e luta e o iniciou chamando a consciência sobre a nossa Casa Comum.
Quando li sua encíclica pensei, Ele está falando de Pachamama e do seu amor por ela, Ele clama que a sintamos e mudemos.
Mexeu nos ossos podres escondidos da Igreja, trouxe a público a discussão sobre a pedofilia e reconheceu os abusos cometidos contra milhares de crianças indígenas no Canadá. Mobilizou juventude, saiu em defesa dos milhões de refugiados, dos palestinos e sírios.
Não duvidou em trazer a percepção da mulher para nos incluir em instâncias da Igreja, mesmo administrativas destinadas somente aos homens. Incomodou o conservadorismo mórbido da instituição, mas humanizou e, por que não, cristificou os dogmas.
Trouxe a consciência de Maria Magdalena, reconhecendo-a como a Apóstola dos Apóstolos após Eras e Eras de perseguição a sua figura em fogueiras, mentes e imaginários. Cada mulher queimada foi uma Maria Magdalena.
Poderia seguir escrevendo uma carta a ti Francisco, nosso Papa, mas agora quero sentir este Ser livre que nos deixou não só uma mensagem, mas um legado de Cristo, pois caminhou com os de abaixo e nunca se distanciou deles.
Há que ter um amor invicto na vida para a chamá-la de Casa Comum, para inspirar milhões de pessoas a acreditarem nela e dar confiança aos sonhos. Pode ser por isso que críticos o acusavam de guiar como um barco sem leme, pois os sonhos carecem de fundamentos morais, eles são livres e expõem a vulnerabilidade humana, criam vida como Deus.
Os sonhos de uma vida justa e compartilhada, com pão para todos, assim como o trabalho e bem-aventurança. Esses são os canteiros para que a semente humana germine e brote sem pilares morais de concreto, mas encontros poéticos e éticos com a Mãe Terra e Cristo.
Você nos chamou a gritar pela Terra e assim o faremos. Aqui o trazemos ao centro do nosso peito hasteando tua mensagem de amor e defesa da vida. A luta segue, as desigualdades são assustadoramente fortes, o clima muda, os refugiados não desapareceram e a guerra não cessou, porém você transcende e provoca a que questionamos todas as estruturas, como uma Ode de adoração a Vida.
Que Francisco seja através de nós!
* Astreia Mendizabal, ativista da Nación Pachamama.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.