Duas comunidades Guarani no Rio Grande do Sul passaram a contar com sistemas próprios de geração de energia solar a partir de uma iniciativa inédita no estado. O Projeto Ar, Água e Terra, desenvolvido pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (Iecam), com apoio do Programa Petrobras Socioambiental, instalou sistemas fotovoltaicos nas Teko’a Anhetenguá, em Porto Alegre (RS), e Teko’a Yvyty Porã, em Maquiné (RS).
As tecnologias utilizadas foram escolhidas conforme as necessidades e condições de cada local. Na Aldeia da Verdade, em Porto Alegre, o sistema instalado conta com painel solar, bateria e conversor, solução que exige maior manutenção, mas foi considerada viável devido à proximidade com a equipe técnica do Iecam.
Já em Maquiné, na Aldeia Serra Bonita, foi implantada uma estação de energia solar portátil, que permite a conexão direta de aparelhos como celulares, notebooks e refrigeradores pelos próprios moradores. A escolha dessa alternativa considerou o difícil acesso à aldeia e as frequentes quedas de energia na região.
“A escolha desta aldeia se deu pela sua localização extremamente isolada, onde o acesso é difícil e as quedas de energia costumam durar dias, comprometendo inclusive a comunicação em casos de emergência”, explicou Denise Wolf, coordenadora do projeto e presidente do Iecam.
Na avaliação do cacique José Verá, da Teko’a Yvyty Porã, a nova estrutura representa uma importante conquista. “É muito importante termos uma forma de energia que não nos deixe isolados e nos ajude com os custos de consumo”, afirmou durante a entrega do sistema.
Na Teko’a Anhetenguá, o viveiro comunitário já em funcionamento há um ano também recebeu melhorias dentro da atual fase do projeto. Para o cacique José Cirilo, coordenador indígena do projeto, o espaço cumpre papel fundamental no cotidiano da aldeia. “A questão dos papéis do viveiro é muito importante para nós, trazendo saúde para nós e para o ambiente em que estamos vivendo. A situação é muito difícil no planeta, mas a gente está trazendo uma boa qualidade de vida para o ambiente da aldeia Guarani”, destacou.
Cirilo também celebrou a chegada do novo sistema de energia solar: “Traz uma energia que não estraga o ambiente natural. É a primeira vez que recebemos esse tipo de energia aqui na Nhé Tenguá. Estamos muito felizes”.
Em um ano de funcionamento, o viveiro produziu diversas espécies nativas e frutíferas que vêm sendo plantadas na própria comunidade e distribuídas para outras aldeias. “Algumas já foram plantadas dentro da aldeia, bastante plantas nativas, frutíferas. Cada vez estamos produzindo mais. Estamos renovando as plantas que perdemos e trazendo de volta”, explicou Cirilo. O viveiro também colabora com o desenvolvimento de agroflorestas em diferentes territórios indígenas.
O Projeto Ar, Água e Terra está em sua quarta fase. Desde 2012, desenvolve ações de recuperação ambiental e fortalecimento da segurança alimentar junto às comunidades indígenas, por meio do resgate de práticas tradicionais, produção agroecológica e intercâmbio de sementes. Ao todo, mais de 30 mil mudas já foram plantadas, dez hectares de áreas degradadas restauradas, e mais de 3 mil hectares estão em processo de conservação. A iniciativa também promoveu cerca de 150 ações de educação ambiental e evitou a emissão de mais de 7 mil toneladas de CO₂.
“Tudo tem significado: árvores, vento, chuva, trovão. A mata tem sua organização, parece um ser humano. Precisa de parceria com o humano. Quando tem várias pessoas, cresce a vontade de pensar junto”, concluiu o cacique Cirilo.
