Neste domingo (4), os 81 mil residentes de Goiana, município na Zona da Mata norte de Pernambuco, conhecerão seu próximo prefeito. A eleição suplementar foi convocada após a Justiça Eleitoral impedir a posse de Eduardo Honório (União Brasil), eleito com 78% dos votos em outubro de 2024. Ele chegou à prefeitura em 2017, como vice, mas assumiu o cargo após o prefeito Osvaldinho (MDB) se afastar por doença. Honório foi reeleito em 2020 e acreditava poder se candidatar novamente em 2024. Agora, a disputa é entre o prefeito interino e o antigo vice.
De um lado, está uma antiga figura da política local: Marcílio Régio (PP), empresário de 66 anos, que já foi vereador, presidente da Câmara Municipal de Goiana, secretário do município e vice-prefeito. Sua vice é Lícia Maciel, 37 anos, enfermeira filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT). Mestra em gestão e saúde coletiva, ela era vice também na chapa eleita em 2024, encabeçada por Eduardo Honório.

Além de PP e PT, a coligação O Trabalho Continua conta com o PSB de João Campos e o União Brasil do ex-prefeito Honório, além de MDB, PCdoB, PV e siglas menores, como PTB, Agir, Mobiliza, DC, PRD e PMB. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que possui acampamentos na região, também declarou apoio à chapa de Marcílio Régio e Lícia Maciel.
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Do outro lado está Eduardo Batista (Avante), também de 66 anos, outra figura bastante conhecida pelos goianenses. Ele já foi secretário municipal em cinco oportunidades e vereador em três mandatos. Então aliado de Eduardo Honório, Batista foi eleito presidente da Câmara de Vereadores para a legislatura iniciada em 2025 e, por isso, assumiu interinamente o comando da Prefeitura de Goiana. Mas Honório não concordou com sua postulação à prefeitura e eles romperam.
O vice da chapa é o também vereador Pedro Henrique (Republicanos), eleito em outubro para o segundo mandato, com 1,7 mil votos, mais que os 1,3 mil de Eduardo Batista (Avante). Além do Avante do deputado federal Waldemar Oliveira e do Republicanos do ministro Silvio Costa Filho, a coligação Experiência para Fazer Mais, encabeçada por Eduardo Batista, conta o Solidariedade de Marília Arraes e o Podemos. Mas a figura mais proeminente que se engajou na campanha de Batista foi o deputado federal bolsonarista Coronel Meira (PL).

Os candidatos de oposição derrotados em 2024, Quinho Fenelon (Republicanos) e o bolsonarista Walter da ETP (PL), também apoiam Eduardo Batista, além de três dos quatro vereadores mais votados de Goiana em 2024: André do Forró dos Errados (PP), indo contra o seu próprio partido; Cid do Caranguejo e Ramon Aranha (ambos do União Brasil), que se afastaram do grupo de Eduardo Honório. A vereadora Paula Brito (PP), terceira mais votada em 2024, apoia Marcílio Régio. Esses foram os únicos vereadores com mais de 2 mil votos em 2024.
A decisão estará nas mãos dos 66 mil eleitores de Goiana.
O município
Última cidade no litoral norte de Pernambuco, já na fronteira com a Paraíba, Goiana está nos livros de história pelo episódio da Batalha do Monte das Trincheiras, ou Batalha das Heroínas de Tejucopapo, em 1646. Na ocasião, uma frota com 600 holandeses, expulsos do Recife, tentaram retomar o território pernambucano invadindo a região. Mas eles foram surpreendidos com um contra-ataque de mulheres, lideradas por Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Joaquina e Maria Clara, que usaram água fervente, pimenta e outros instrumentos que tinham à sua disposição para derrotar os invasores.
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Além da importância histórica e geográfica, Goiana se tornou mais relevante economicamente nas últimas décadas, especialmente com a implantação de um polo automotivo liderado pela Stellantis-Fiat-Jeep, com cerca de 19 mil automóveis produzidos ao mês, alimentando ainda uma série de fornecedoras de peças que se instalaram na região. O município também abriga um um polo farmacoquímico, alavancado principalmente pela estatal Hemobrás.
O Produto Interno Bruto (PIB) de Goiana é estimado em R$ 10,7 bilhões, o quinto maior de Pernambuco, atrás apenas das cidades com as duas maiores populações (Recife e Jaboatão dos Guararapes) e dos municípios que abrigam o Polo Industrial e Portuário de Suape (Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho). O PIB de Goiana aparece à frente dos de cidades importantes como Olinda, Paulista, Caruaru e Petrolina. A cidade também abriga uma série de usinas da decadente indústria da cana de açúcar.