Em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Nereudo Freire Henrique, avaliou que a escolha de Robert Prevost como o novo papa Leão 14 traz sinais de continuidade do legado de Francisco, especialmente na defesa da paz, da vida e do acolhimento aos mais pobres e marginalizados. O religioso acredita que a escolha surpreendente – uma vez que Prevost não era apontado como favorito – reforça a lógica divina e, assim, espera que o pontífice eleito siga o evangelho, como seu antecessor.
“Papa Francisco conseguiu ser o verdadeiro discípulo de Jesus como papa. Ele sinalizou para o mundo e convocou a igreja a ser aberta para acolher a todos, os pobres, os indefesos, os migrantes, o povo sofrido que vive nas periferias existenciais, nas periferias geográficas. O papa Leão 14 também sinaliza para que a vida seja respeitada”, disse. “Então, eu particularmente vivo um momento de renovação da esperança porque eu tenho certeza de que Deus está agindo. E com o novo papa, nós vamos continuar”, concluiu.
“Estamos vivendo uma profunda emoção. O papa inicia sua fala dizendo: ‘A paz esteja conosco’. É a mesma paz anunciada por Jesus aos discípulos”, afirmou.
Prevost, que foi bispo no Peru antes de ser nomeado cardeal, tem um “olhar diferenciado” para a América Latina, segundo Dom Nereudo, e demonstra compromisso com uma igreja missionária e voltada aos que vivem nas periferias. “Desde sua primeira fala como papa, mostra ser sensível à vida e comprometido com um mundo mais fraterno e justo”, observa.
Para o bispo, o novo papa é um homem “místico”, com profundo conhecimento teológico. A referência à espiritualidade de santo Agostinho, ordem à qual Prevost pertence, reforça essa dimensão. “É um homem de Deus. A forma como se apresentou, pedindo a intercessão de Nossa Senhora, sinaliza isso”, afirma. “Me parece que o papa Leão 14 pode dar continuidade ao evangelho, vai coincidir com o testemunho de Francisco”.
Novo papa herda missão de manter fiéis conquistados por Francisco
A estabilidade recente no número de fiéis católicos, após anos de queda, pode ser explicada pelo testemunho de figuras como o papa Francisco. Para Dom Nereudo, o pontífice argentino teve um papel essencial em reacender a fé de muitos: “Ele conseguiu dar exemplo de que era um homem de Deus aberto para acolher. Quando você acolhe, quando você é sensível, quando você vai aos necessitados, aos pequenos, você vai dar um testemunho de amor”.
O bispo defende que o exemplo vale tanto quanto a pregação: “Nós entendemos, às vezes, que a evangelização passa apenas pelo anúncio, pela palavra, que é fundamental. Mas é fundamental também o testemunho”.
Na sua avaliação, a postura de serviço do papa Francisco, que relembrou durante a Semana Santa um momento em que Jesus teria lavado os pés dos seus discípulos, sinaliza que a Igreja deve abandonar posturas autoritárias e se aproximar da compaixão: “O discípulo de Jesus é aquele que serve. Quem quiser ser o maior tem que ser o menor”, resume.
Leão 14, deve dar continuidade a esse caminho iniciado por Francisco, indica o religioso. “A missão da Igreja é cada vez mais dar um testemunho de que é possível construir um mundo diferente. Mas não podemos continuar com a arrogância, com a violência, nos tornarmos pessoas indiferentes ao outro irmão. Temos que ter compaixão”, afirma. “O papel do bispo é construir a unidade, o homem de comunhão com Deus, com o episcopado, com o clero e com o povo”.
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